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Catadoras de Mangaba de Sergipe clamam por proteção aos seus territórios

No de Sergipe, desde a região estuarina de Foz dos rios Real e Piauí no Litoral Sul, até a foz do , no município de Brejo Grande, no Litoral Norte, existem os grupos de Catadoras de Mangaba.

Elas assim se autodefinem:

“Nós, Catadoras de Mangaba, somos grupos tradicionais habitantes de áreas de restinga e historicamente desenvolvemos o extrativismo da mangaba e demais recursos da restinga e dos manguezais como forma de subsistência e reprodução cultural. Somos predominantemente descendentes de quilombolas, caiçaras e sitiantes. Catamos mangaba em nossas propriedades familiares ou em áreas de uso comum”.

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Foto: divulgação

As catadoras de mangaba vendem a fruta in natura e processadas através de um e-commerce bastante diversificado. Vendem a mangaba e outras frutas em uma grande variedade de doces, balas, compotas, geleias, biscoitos, bolos, sucos, polpas de frutas e licores, compondo uma infinidade de sabores. É grande a agrobiodiversidade tropical existente nessa região, que além da mangaba possui frutas de restinga como araçá, murici, cambuí e frutas de quintais como goiaba, manga, caju, abacaxi e maracujá. De acordo com a Embrapa, em 2016 havia cerca de 1,8 mil famílias dedicadas ao extrativismo da mangaba, sendo que para 38% deste total a mangaba era a principal fonte de .

A importância socioeconômica do extrativismo da mangaba, no entanto, ainda não motivou uma atenção maior do poder público, uma vez que a atividade enfrenta graves problemas, e, todavia, não existe uma política efetiva que garanta o acesso dos extrativistas aos territórios de ocorrência natural da fruta.

As extrativistas relatam sérios problemas como a degradação das áreas de ocorrência natural da mangabeira, impactos decorrentes de desmatamento e avanço de grandes culturas como cana-de-açúcar, milho e eucalipto, carcinocultura e empreendimentos imobiliários.

No ano de 2010, uma legislação estadual reconheceu as catadoras como comunidade tradicional e diferenciada, devendo ser protegidas suas formas de organização social, territórios e recurso natural. Apesar deste fato, e embora as catadoras de mangaba tenham iniciado há 17 anos um processo de organização política, foram poucos os avanços na luta pela criação de no litoral do estado nos últimos anos.

Ao contrário, a redução das áreas ocupadas com as mangabeiras está registrada em uma pesquisa que detectou uma queda nas áreas de ocorrência natural de 29,6 % entre os anos de 2010 e 2016.

O associativismo, no entanto, avançou a despeito das condições negativas, e estes esforços resultaram em melhorias no processamento e armazenamento da fruta, reduzindo a participação de atravessadores na comercialização. A agregação de valor ao produto também foi um resultado positivo da maior organização das produtoras, e as catadoras buscam disseminar suas experiências para os grupos menos organizados, a fim de lhes permitir maiores ganhos econômicos.

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Foto: divulgação

As Catadoras de Mangaba de Sergipe estão articuladas desde 2007 no Movimento das Catadoras de Mangaba (MCM) e inseridas na Comissão Nacional de Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), Comissão Mista Intersetorial do Plano Nacional para Fortalecimento das Comunidades Extrativistas e Ribeirinhas (Planafe), Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas, Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (Confrem ) e Programa de com Comunidades Costeiras (Peac).

Fonte: Mídia Ninja. Foto: divulgação. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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