Chacrinha acertou: “Quem não se comunica, se trumbica”
O poder de comunicação exibido pelo bolsonarismo não pode ser relativizado. Enfrentar isso, exige mais que a força da lei.
Por Enio Lins/Portal Vermelho
Essa dificuldade de trafegar nos mares revoltos do cyberespaço fica mais evidente quando comparada à agressividade dos gabinetes de ódio da extrema-direita bolsonarista. Por volta de 2013, a campanha “não são apenas 20 centavos” incendiou o país via redes sociais e ganhou as ruas sem que as forças democráticas fossem capazes de se contrapor, e a comunicação do governo federal, perplexa, foi engolida.
O “não vai ter copa” foi outra onda disruptiva de grande envergadura, embora nessa ebulição, o governo federal tenha conseguido esboçar reação, como assinalou Juan Arias, no “El País”, em 26/01/2014: “Existe um suspense geral sobre o que ocorrerá dentro de cinco meses. Talvez não aconteça nada, talvez sim.
O lema dos manifestantes, ‘Não vai ter Copa’, mobilizou até a presidenta da República, Dilma Rousseff, que levou a ameaça a sério e colocou em seguida sua hashtag nas redes sociais: #VaiTerCopa”. Mas o resultado geral, ainda hoje, tem sido 7×1 contra a seleção combinada da democracia & esquerdas.
VIRAR O JOGO, JÁ!
Lula tem amargado dessa velha desvantagem, seja na comunicação governamental, seja nas mídias dos partidos aliados. A pátria tem sido salva, até agora, pelo sucesso de gente que posta por conta própria, independente de filiação.
Exemplos? Felipe Neto, Thiago dos Reis, Lilia Schwartz, Ricardo Noblat, Debora Diniz, Luiz Nassif… nessa lista deve ser incluído um personagem fictício, o “bolsonarista Coronel Siqueira”, enquanto no campo da comunicação geral o articulista Reinaldo Azevedo (com passado de críticas ao PT) é responsável por um show de bola de informação abalizada com sucesso de público. E vale um aplauso ao saudoso Paulo Henrique Amorim (1943/2019).
Existem esforços coletivos, como os sites Jornal GGN, 247, Diário do Centro do Mundo e outros. Mas nada que se aproxime do alcance e influência de periódicos como “Opinião”, “Movimento” (anos 70), “Última Hora” (anos 60), sem falar no “Pasquim”. Mesmo na comunicação entre militantes, os veículos da esquerda histórica, como “A Classe Operária”, “Voz Operária”, “Em Tempo”, “Hora do Povo” etc., ainda aguardam sucedâneos digitais à altura.
RISCO À DEMOCRACIA
Este não é um problema do Lula, nem do PT, nem das muitas esquerdas, nem do centro. A supremacia da extrema-direita nas mídias sociais é uma ameaça real à Democracia.
O poder de comunicação exibido pelo bolsonarismo não pode ser relativizado. Entre suas práticas criminosas podem ser listadas a campanha de contrainformação durante a pandemia de Covid-19, o incentivo permanente ao armamento pessoal e à violência, o ataque organizado e sistêmico ao Poder Judiciário, a investida contra o sistema eleitoral, a organização aberta de golpe de Estado (tentado em 8 de janeiro de 2023).
Para enfrentar esse gangsterismo digital, além da força da Lei, é indispensável um combate à altura no campo da comunicação – e isso não está sendo feito.
QUEM FOI CHACRINHA
José Abelardo Barbosa de Medeiros (Surubim, 30 de setembro de 1917 — Rio de Janeiro, 30 de junho de 1988), mais conhecido como Chacrinha, foi um comunicador de rádio e televisão do Brasil, apresentador de programas de auditório de grande sucesso das décadas de 1950 a 1980.
Foi o autor da célebre frase: “Na televisão, nada se cria, tudo se copia”.
Em seus programas de televisão, foram revelados para o país inteiro cantores como Roberto Carlos, Clara Nunes, Roberto Leal, Paulo Sérgio, Raul Seixas, Perla, entre muitos outros.
Desde a década de 1970, era chamado de Velho Guerreiro, após uma homenagem feita a ele pelo cantor Gilberto Gil, que assim se referiu a Chacrinha em sua canção “Aquele Abraço”.