Cinema no Cerrado

CINEMA NO CERRADO

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V Festival de Cinema de Anápolis reforça valores da identidade cultural  

Por Zezé Weiss

Em sua quinta edição consecutiva, o Festival de Cinema de Anápolis, agendado para a semana de 25 a 31 de maio de 2015, consolida a difusão da sétima na região central do . Exatamente no local que foi palco de intensa presença intelectual e artística entre os anos 1930 e 1970, o V Festival de Cinema de Anápolis reforça os valores da identidade cultural cerratense.

O evento, organizado pela Prefeitura Municipal e realizado pela Secretaria Municipal de Cultura, oferecerá às pessoas amantes da cultura brasileira uma ampla programação, com quatro mostras competitivas, uma mostra paralela, exibições para o público infantil, oficinas, debates, mesas redondas, exposições, lançamento de livros, um encontro cineclubista e um fórum setorial sobre cinema.

Inovando uma vez mais, em 2015 o Festival apresentará curtas-metragens nas mostras competitivas. “Inovamos também na abertura de espaço aos talentos locais e regionais. Este ano, o Festival abre oportunidades para cineastas do Centro-Oeste e de Anápolis, incluindo o lançamento do ‘Minuto Anapolino’ como parte das mostras competitivas”, diz o Secretário Municipal de Cultura, Augusto César de Almeida.

Outra grande novidade do Festival em 2015 é o “Cinema na Calçada”, que percorrerá os bairros da cidade com a mostra itinerante de filmes e rodas de prosa sobre Cinema e Sustentabilidade. “Queremos nossa cidade cheia de amantes da cultura e da arte, queremos o resgate da nossa tradição cultural desde os tempos da chegada dos imigrantes em busca da Prometida, mas queremos também, e principalmente, nossa comunidade nas calçadas, discutindo e traçando caminhos para a nossa cultura e para a nossa em comunidade por meio do Festival”, comenta o prefeito João Gomes.

O V Festival de Cinema de Anápolis distribuirá R$ 73 mil em prêmios, nas seguintes categorias:

  1. Filmes de Curta-Metragem Nacionais de Ficção (convidados);
  2. Filmes de Curta-Metragem de Ficção e Documentários do Centro-Oeste;
  3. Filmes de Curta-Metragem de Ficção e Documentários de Anápolis;
  4. Filmes “Um Minuto Anapolino”;
  5. Prêmio Incentivar Anapolino. Dos R$ 73 mil em prêmios, R$ 43 mil serão outorgados a produções anapolinas.

Em 2015, o V Festival será aberto com a exibição do “A Última Estação”, de Márcio Cury, que conta a da migração árabe para o Brasil, dando sequência ao costume de apresentar filmes documentais na abertura da Mostra.

A prática se repete desde o I Festival de Cinema de Anápolis, realizado em 2011, quando foi exibido o filme “Hollywood no ”, dos cineastas brasilienses Tânia Montoro e Armando Bulcão, contando a história da migração de celebridades norte-americanas para Anápolis em busca do sonho da Terra Prometida.

Informações sobre o V Festival de Cinema de Anápolis, sobre os festivais anteriores e sobre a própria história anapolina da presença hollywoodiana no Cerrado podem ser obtidas no site da Prefeitura Municipal de Anápolis: www.anapolis.go.gov.br

EM BUSCA DA TERRA PROMETIDA

No início dos anos 1930 e por boa parte das décadas seguintes, Anápolis era como se fosse o centro da Terra no Centro-Oeste brasileiro. Enquanto Goiânia era construída como cidade administrativa, era em Anápolis que a rede ferroviária parava. E era em Anápolis que tinha aeroporto. A cidade representava, à época, a porta de entrada para a Terra Prometida, no coração do Brasil Central.

Foi em busca dessa Terra Prometida que mais de mil famílias norte-americanas e inglesas chegaram a , via Anápolis, nas décadas de 40 e 50 do século passado. A migração ao Brasil Central era, sob todos os aspectos, atípica. As famílias migrantes não fugiam de guerras, nem cortavam o oceano em busca de trabalho. A maioria era formada por intelectuais, religiosos, empresários, artistas, alguns famosos em Hollywood, a Meca do cinema mundial.

O sonho da vida no Paraíso consolidou-se, em grande parte, depois da publicação do livro The Promised Land (A Terra Prometida) por Joan Lowell, atriz do cinema mudo – chegou a contracenar com Charles Chaplin no filme The Gold Rush – aventureira, desbravadora e facilitadora da vinda das famílias para o Brasil. Em um cruzeiro de férias pela América do Sul, Lowell conheceu o capitão Leek Bowen, que andava em busca de “descobrir novo rincão, o mais longe possível da civilização”. Juntos, os dois desenvolveram um lucrativo negócio de venda de terras e de sonhos no sertão goiano.

A CAMINHO DA TERRA PROMETIDA

Para chegar a Anápolis, o casal Irving e Jeanette Weiss, de Nova York, embarcou em um navio no começo dos anos 1950 com uma carga inteira de móveis finos, os filhos Martin, Joseph e Linda, e a gata de estimação. O filho Joseph conta que a bagagem era tanta que, ao chegarem ao Rio de Janeiro, tiveram que esperar quase um mês pela liberação da alfândega. No Rio, acomodaram-se no Copacabana Palace, que é onde se hospedava a nata da migração americana a caminho da Terra Prometida.

A viagem de trem a Anápolis levava dias. Ao chegarem, as famílias buscavam estabelecer-se em chácaras e pequenas fazendas, próximas à cidade, para que as crianças pudessem frequentar a escola. Das famílias que vieram na mesma época, umas investiram em educação, fundando o Ginásio Couto Magalhães, hoje Universidade Evangélica. Outras foram para o comércio e montaram lojas, um açougue e a primeira fábrica de massas de Anápolis.

Vegetarianos e pioneiros do ambientalismo, Jeanette e Irving tinham o sonho de plantar de frutas tropicais. Os filhos contam que Jeanette moía abóbora e passava a massa no pelo da gata da família para torná-la vegetariana. Produziam, na chácara alugada, a 8 km da cidade, os vegetais orgânicos que consumiam.

Entre idas e vindas ao centro financeiro de Nova York, Irving desbravava o interior de Goiás buscando as terras férteis para o seu pomar tropical. A dificuldade de comunicação – gastava-se quase um dia para chegar a Goiânia e, de lá, falar por telefone com Nova York –, a distância dos negócios e a saudade da vida urbana fizeram com que a família voltasse para os Estados Unidos.

Porém, muitas famílias ficaram. Muitas outras continuaram a chegar. Dentre elas, uma leva de artistas famosas de Hollywood, sob a liderança da estrela Mary Martin.

HOLLYWOOD NO CERRADO

A Terra Prometida no livro de Lowell ganhou corações e mentes hollywoodianas. Interessada, Mary Martin, a estrela do famoso filme sobre Peter Pan, jantou com os Weiss no exclusivo restaurante Tavern on the Green, no Central Park, em Nova York, para saber mais sobre a vida em Anápolis. Em seguida, tomou o rumo do Brasil Central, onde comprou fazenda e montou casa. Além do marido e da família, trouxe consigo a amiga Janet Gaynor, também atriz famosa nos Estados Unidos.

As vidas das famílias de Mary Martin e Janet Gaynor em Anápolis foram retratadas no filme Hollywood no Cerrado, dos cineastas brasilienses Armando Bulcão e Tânia Montoro. O filme, apresentado no I Festival de Cinema de Anápolis em 2010, mostra a relação da comunidade local com suas moradoras famosas. Mais que isso, o filme retrata os usos e costumes de uma cidade pacata tomada pelas novidades da cultura cinematográfica, da construção da rodovia Belém-Brasília, dos indícios de uma vida cosmopolita até então inimaginável.

O lançamento do filme documental sobre a presença de Hollywood no Cerrado coincide com a trajetória contínua da promoção do município de Anápolis como polo de cultura da região Centro-Oeste. Desde 2010, a Prefeitura Municipal mantém, no mês de maio de cada ano, o Festival de Cinema de Anápolis. Agora em sua quinta edição, o Festival promete continuar resgatando os valores e a identidade da cultura local e regional.

12/05/2015

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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