Código de Trânsito: Emendas, remendos e fracassos

Código de Trânsito: emendas, remendos e fracassos 

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) já alcançou a maioridade dos 18 anos, mas continua inacabado por absoluta falta de vontade dos administradores da coisa pública. Quando pouco, desde sua vigência em 1998, já mereceu mais de centena de emendas, além de tantas outras resoluções editadas como complementos, mesmo que não regulamentado em sua totalidade…

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Por incrível que pareça, mesmo com esse bombardeio de remendos, seus efeitos ainda não garantem uma mobilidade segura nas vias urbanas e rurais brasileiras. Não por acaso, colecionamos anualmente 45 mil mortes e 160 mil lesionados graves no trânsito – de fato, uma guerra que justifica o grave fracasso da gestão pública.

Não restam dúvidas de que este código é muito melhor que o anterior, sendo considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) referência positiva em quesitos universais de segurança viária: bebida e direção, restrições para crianças e uso de capacete e de cinto de segurança.

O capítulo que trata da educação para o trânsito é um primor invejável a qualquer país nórdico, principalmente por sua interface com as políticas de saúde e educação. Enfim, quesitos essenciais que foram aprimorados ao longo dos anos mediante a edição de outras leis, resoluções, portarias, decretos e medidas provisórias, alterações que transformaram o CTB numa verdadeira colcha de retalhos repleta de boas intenções. E somente!

Outro fator que merece destaque é seu escopo institucional, que cria o Sistema Nacional de Trânsito, permeado nas três esferas de governo. Ao contrário do código anterior, o atual resgata o papel do município como ente principal no seu planejamento e gestão, guardando assim coerência com o preceituado no Estatuto das e nas recentes Leis Nacionais da Mobilidade Urbana, o Estatuto das Metrópoles e o Estatuto das Pessoas com Deficiência.

Por este conjunto de diretrizes e preceitos, especialmente no capítulo que trata da fiscalização, é que o CTB ganhou notoriedade, fato que resultou na queda de 13% de mortes em seu primeiro ano de vigência. Todavia, de lá para cá houve um relaxamento geral na aplicação da lei, e a curva não parou de subir, com raros picos de quedas. De acordo com o Mapa da Violência 2013/CEBELA, o saltou de 17,7 mortos/100 mil habitantes (2001) para 22,5 mortes/100 mil habitantes (2013), crescimento de 27%.

Esses números alertaram a própria OMS que em diagnóstico concluiu que o Brasil vive tecnicamente uma epidemia de mortes no trânsito. Fato: o Brasil é o quarto país que mais mata no trânsito em números absolutos, atrás de China, Índia e Nigéria (Global Status Report on Road Safety 2013/ONU).

Ora, o que leva então o país que tem uma legislação de trânsito reconhecidamente de vanguarda acumular tanta tragédia assim?

A resposta está na forma de entender e gerir o problema. Não é e nunca foi prioridade para o governo brasileiro enfrentar a violência no trânsito, a começar da estrutura administrativa e de gerência dos seus órgãos normativos (CONTRAN/CETRANs) e executivos (DENATRAN, DETRANs e municipais), totalmente dependentes de conveniências políticas e econômicas.

O Fundo Nacional de Segurança e Educação para o Trânsito (FUNSET), cujos bilhões arrecadados de 5% de multas aplicadas continuam contingenciados pelo Ministério da Fazenda. Os DETRANs são fontes de arrecadação que financiam ações diversas, pouco sobrando para o trânsito estadual. Os órgãos municipais de trânsito, quando não são ficção, idem, arrecadam multas, e o dinheiro vai para o Tesouro, pouco retornando para os fins previstos.

Por sua vez, o Sistema Nacional de Trânsito de sistema somente tem o nome. Não há articulação entre os órgãos envolvidos, que funcionam tipo cada um por si e Deus por todos. Logo, o que temos é um monte de boas intenções dissimuladas – verdadeiro enxugamento de gelo. Ou seja, no Brasil os órgãos de trânsito mais são fontes arrecadadoras que gestores do problema.

Não será este o parâmetro para melhorar a mobilidade das cidades, mas a inversão de prioridades e a correção de rumos na sua compreensão. Podemos ter o melhor código de trânsito do , mas estamos distantes de termos a circulação harmonizada e pacificada enquanto não melhorarmos as cidades como um todo. Está no planejamento urbano e na recuperação da urbanidade, o jeito de viver a cidade, o caminho ideal, a exemplo do que fizeram tantas outras cidades mundo afora.

Trânsito não se resolve em si, mas se administra como parte das políticas de transporte público, inserida na visão macro de mobilidade social. Ou afastamos o jeito hipócrita de lidar com a questão, ou continuaremos a assistir a carnificina sob a égide de um belo Código.


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Réquiem para o Cerrado – O Simbólico e o Real na Terra das Plantas Tortas

Uma linda e singela do . Em comovente narrativa, o professor Altair Sales nos leva à simples e feliz  no “jardim das plantas tortas” de um pacato  povoado  cerratense, interrompida pela devastação do Cerrado nesses tempos cruéis que nos toca viver nos dias de hoje. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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