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LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE

Louva-a-Deus, o Louvor Verde

O inseto verde de características biológicas fascinantes, carrega consigo a rica carga simbólica e cultural. 

Por , especial de Hidrolândia/Goiás/Brasil

Representa paciência, espiritualidade, e adaptabilidade, ícone tanto na quanto no imaginário humano. O corpo alongado, magricela, protegido por membrana do tipo “folha” camufla o bicho misturando-o perfeitamente com o ambiente que o ajuda a se proteger de predadores e a capturar presas – ser de e paz!

As patas dianteiras em forma de garras lembram mãos em posição de oração, o que lhe permite a alcunha de “louva-a-deus”, visto como símbolo de espiritualidade e meditação em várias culturas em função do gesto singelo de patas soerguidas em direção aos céus – conexão entre o indivíduo e o cosmos.

Em África é mensageiro dos deuses, portador de sabedoria e instrução divina; na simbologia ocidental associa-se à intuição e percepção; e na cultura chinesa simboliza paciência, foco e paz – o que inspira o nobre estilo “louva-a-deus” na marcial. Conecta arte, espírito e contemplação – encontradiço em nossa fauna, nalgum verde do quintal, ou em trânsito no fio metálico estendedor de roupas lavadas, sempre em oração!

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Antenor Pinheiro – Geógrafo. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto de capa: Bichos do Terraço.

 

 

 

 

 

 

 

LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE
Foto: de Bicho 

O LOUVA-A-DEUS

Os louva-a-deus, louva-deus ou cavalinho-de-deus são insetos pertencentes à Ordem Mantodea (do grego mantis = profeta; eidos = aparência). Possuem corpo geralmente alongado e estreito (baciliforme) que varia de 0,8 a 17 cm. Há grande variedade de formas e cores dentro do grupo, geralmente associados à estratégias de camuflagem e mimetismo.

Existem cerca de 2 400 espécies, 430 gêneros e 15 famílias. A maior e mais comum família de Mantodea é a Mantidae. Seu nome popular decorre do fato de que, quando está pousado, as pernas anteriores remetem à posição das mãos em oração. São animais venerados na China, existindo, inclusive, estilos de Kung-Fu inspirados em seus movimentos.

Há também registros de civilizações antigas, como a Grécia, o Egito e a Assíria, que consideravam o louva-a-deus um com poderes proféticos e sobrenaturais, capaz de identificar a localização de objetos, animais ou pessoas perdidas em florestas. O voo do louva-a-deus remete a voos de caças de combate, conseguindo desviar de ataques de morcegos, um dos seus predadores, por meio de uma audição ultrassônica, executando ‘’mergulhos” durante o voo.

O comportamento do grupo é complexo, parecendo haver grande capacidade de memorização e de aprendizagem. São insetos comumente mantidos como animais de estimação.

LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE
Foto: Parque Ecológico Imigrantes

MORFOLOGIA DO LOUVA-A-DEUS 

O corpo é dividido em cabeça triangular apoiada em um pescoço flexível (algumas espécies conseguem virar suas cabeças em até 180º), tórax dividido em protórax, mesotórax e metatórax e abdômen bem desenvolvido.

O protórax, que leva a cabeça e as pernas dianteiras, também é flexivelmente articulado, permitindo uma ampla gama de movimentos da cabeça e dos membros anteriores, essenciais ao tipo de predação que praticam, enquanto o restante do corpo permanece mais ou menos imóvel.

O abdômen é dividido em 10 tergitos (segmentos da placa dorsal), sendo menor nos machos do que nas fêmeas, terminando em um par de cercos (estruturas com função sensorial e de auxílio na cópula) em ambos os sexos. As pernas dianteiras são raptoriais, adaptadas para agarrar as presas.

Eles têm dois olhos compostos bulbosos, três pequenos olhos simples e um par de antenas. Apresentam aparelho bucal com mandíbulas fortes. Com relação às asas, os mantódeos podem ser caracterizados como sendo macrópteros (de asas longas), braquípteros (de asas curtas), micropartos (com asas vestigiais) ou ápteros (sem asas).

Como a caça depende muito da visão, os mantódeos são principalmente diurnos. Muitas espécies, no entanto, voam à noite sendo atraídas por luzes artificiais. O voo noturno é especialmente importante para os machos para conseguir localizar fêmeas, que são menos móveis, detectando seus feromônios. Voar à noite os expõe a menos predadores do que o voo diurno.

Muitas espécies também têm um órgão auditivo torácico que os ajuda a evitar os morcegos, detectando suas chamadas de ecolocalização e respondendo evasivamente por meio de ‘’mergulhos” durante o voo.

LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE
Morfologia geral de um mantódeo. Imagem: Reprodução Internet

6 FATOS FASCINANTES SOBRE OS LOUVA-A-DEUS 

Chega a ser irônico — ao ouvir o nome “louva-a-deus” pela primeira vez em nossas vidas, quase sempre imaginamos um ser pacífico, que prega a paz acima de tudo e estaria até mesmo alinhado aos valores cristãos. Ledo engano: esses bichinhos só foram batizados assim por conta da icônica posição de suas patas dianteiras, que, quando aproximadas, dão a impressão de que eles estão rezando.

Pois saiba que, de santo, o louva-a-deus não tem nada. Carnívoro, ele é considerado um dos mais violentos insetos do , sendo reconhecido também por sua inteligência e algumas características físicas que são, no mínimo, bizarras. Está duvidando? Então confira alguns fatos curiosos a respeito desses pequenos predadores!

1) Eles podem comer beija-flores

Além de se alimentarem de outros insetos, anfíbios e até répteis, os louva-a-deus têm o costume de comer pássaros de pequeno porte — o que inclui os belos e indefesos beija-. Até o ano passado, existiam poucos indícios dessa dieta incomum; porém, uma pesquisa publicada no The Wilson Journal of Ornithology mostrou que tal comportamento é comum dentre várias espécies de louva-a-deus ao redor do mundo. Foram documentados pelo menos 150 casos.

LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE
Foto: MegaCurioso

2) Eles podem aprender a pescar

Mostrando que variedade pouca é bobagem, os louva-a-deus também são capazes de comer pequenos peixes. Em outro estudo publicado no Journal of Orthoptera Research, tentaram descobrir se era possível ensinar tal inseto a pescar, colocando um exemplar macho adulto em um lago repleto de plantas aquáticas e cheio de barrigudinhos — aqueles peixinhos ornamentais que muita gente tem no aquário.

O resultado foi incrível: o louva-a-deus aprendeu rapidamente a se mover pelas plantas e usar suas “garras” para apanhar os peixes quando eles se aproximavam e os ingerir. Os pesquisadores pontuam que, como os barrigudinhos não se movimentam como qualquer outra presa a que o louva-a-deus esteja acostumado, essa descoberta prova que eles são capazes de aprender novas técnicas complexas.

LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE
Foto: MegaCurioso

3) Eles são parentes das baratas

Bom, isso pode não soar como uma novidade para você — afinal, basta observar os dois bichinhos para perceber alguma semelhança entre eles. Porém, as coisas não são tão simples assim na comunidade científica, e esse parentesco só foi oficializado recentemente, quando uma análise molecular provou tal relacionamento e colocou os dois insetos na superordem Dictyoptera — junto com os isópteros.

4) Seus corpos evoluíram para caçar

Não adianta: louva-a-deus são assassinos por natureza e ponto final. Foi cientificamente comprovado que seus corpos evoluíram ao longo dos anos para que eles se tornassem os melhores caçadores da área. Isso explica, por exemplo, por que eles são capazes de girar a cabeça em 180 graus, observando se existe alguma presa ou predador em suas costas. Seu tórax alongado e as pernas flexíveis também auxiliam na caçada.

LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE
Foto: MegaCurioso

E, é óbvio, não poderíamos deixar de citar as suas patas posteriores, repletas de minúsculas espinhas que os ajudam a capturar seu alimento e manuseá-lo durante a refeição.

5) Eles só têm um ouvido

E, acredite ou não, o tímpano está localizado bem no meio de suas pernas. Bizarro.

6) Eles são violentos até no sexo

Quase todo mundo sabe que, durante o ato sexual, é comum que a fêmea acabe decepando a cabeça do macho; porém, até o momento, ninguém consegue dizer com exatidão o motivo desse fenômeno. Alguns cientistas acreditam que, na verdade, o que ocorre é um sacrifício voluntário para que a futura mamãe tenha nutrientes suficientes para a sua gestação — garantindo, assim, a saúde dos ovos e a continuidade de seus genes.

LOUVA-A-DEUS, O LOUVOR VERDE
Imagem: Projeto Colabora

 

 

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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