Como a E. C. Beija-Flor enfrentou o terrorismo no 20 de abril
Nos dias que antecederam o 20 de abril, mães e pais de todo o País estavam desesperados, pois circulava nas redes sociais a informação de que jovens ligados a movimentos neonazistas estariam assediando outros jovens para propagar discurso de ódio e ameaças contra as escolas.
Por Cynthia Borges
A data do aniversário do ditador alemão Adolf Hitler, nascido em 1889, mobilizou ainda mais o discurso de ódio da extrema-direita no Brasil, que resolveu pegar carona no massacre de 5 de abril na Creche Bom Pastor, em Blumenau, Santa Catarina, contando com o pânico iniciado pelos terroristas, a seguir retroalimentado pelos usuários das redes.
Em nossa comunidade escolar o clima não foi diferente. As famílias da escola Classe Beija-flor, localizada na Asa Norte, em Brasília, reunidas pelo WhatsApp, viram surgir, imediatamente, uma enxurrada de mensagens que alternavam terror, pânico, boatos, discursos armamentistas, exigências, silêncios, medo.
As soluções apareciam e se perdiam em meio à profusão das mensagens! Mas não viriam pelo WhatsApp. O jeito era esperar que as ações anunciadas desde a primeira hora pelo governo federal lograssem êxito e o pânico fosse controlado. Mas não havia a promessa de que essa espera seria tranquila. Foi então que algumas famílias passaram a executar pequenas ações de sobrevivência.
A primeira ação: um acordo para que as famílias não reproduzissem os vídeos com as ameaças que circulavam nas redes sociais. Com as orientações do ministro Flávio Dino, as pessoas começaram a se convencer de que divulgar as ameaças estariam ajudando os terroristas e não simplesmente alertando as outras famílias.
A segunda ação: acolher as famílias tomadas pelo medo. Conversas no privado, escolha de matérias que noticiavam a retirada dos perfis nazistas do ar; esclarecimento de que o discurso de ódio era o gerador dos ataques e de que as redes sociais eram os veículos dos terroristas.
A terceira ação foi a proteção das crianças contra os impactos dessas notícias nefastas. Em vez de embarcar na loucura generalizada nas escolas do DF, que chamaram a polícia para improvisar treinamentos contra os ataques, ou correram para matricular as crianças em escolas de tiros, optamos por evitar que elas ficassem mais amedrontadas que os adultos. Afinal, esse era um problema para os adultos resolverem, óbvio!
Em fina sintonia com essas ações, a gestão da E.C. Beija-Flor cuidava de manter a sanidade dos profissionais da escola. No próprio dia 20, uma linda roda da paz foi realizada pelas crianças levadas à escola pelos pais confiantes de que essa era uma forma de resistência ao terror.
Aliviadas pela passagem daquela data, algumas famílias continuaram a lutar, cortando a linha de transmissão dos discursos de ódio e torcendo pela aprovação do Projeto de Lei das Fake News. Nessa nova etapa fomos atropeladas pelo poder do dinheiro das Big Techs e pela subordinação do Congresso Nacional a interesses de aliados do fascismo.
Claro que sentimos um gosto de derrota, mantendo, porém, a certeza de que a luta precisa continuar. Não podemos ficar à espera de outros ataques terroristas como o do dia 20 de abril!
Cynthia Borges – Advogada. Defensora dos Direitos Humanos. Mãe de aluna da Escola Classe Beija-Flor. Colaboraram Antonio Carlos Queiroz e Juliana Oliveira. Foto: Tatiana Pimentel.