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COMUNIDADE DOIS IRMÃOS REVIVE SONHOS DE CHICO MENDES

COMUNIDADE DOIS IRMÃOS REVIVE SONHOS DE CHICO MENDES PARA A FLORESTA

“Atenção Jovem do Futuro: Eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos que eu mesmo não verei. Mas tenho o prazer de ter sonhado.” Chico Mendes, em “Bilhete para a Juventude”, 1988

Por Marcos Jorge Dias

Em seu “Bilhete para a Juventude”, datado de 6 de setembro de 1988, Chico Mendes fala aos e às jovens do futuro sobre seu sonho para o ano de 2120, quando já teria ocorrido a “revolução socialista mundial, que unificou todos os povos do planeta num só ideal e num só pensamento de unidade socialista, e que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade”, que ele mesmo não veria, mas teve o prazer de ter sonhado.  

Não foi preciso esperar o dia 6 de setembro do ano de 2120, aniversário do primeiro centenário do sonho de Chico. Na semana Chico Mendes de 2023, realizada, como todos os anos, de 15 a 22 de dezembro de 2023, jovens de todas as épocas, passado, presente e futuro, jovens no corpo, na mente e em atitudes atenderam ao chamado do Comitê Chico Mendes para, em um grande Empate de Retomada, imergirem nos sonhos de Chico Mendes, junto com seus muitos companheiros e companheiras que um dia sonharam – e materializaram – a criação das Reservas Extrativistas, em busca de uma vida com saúde, educação, dignidade e qualidade para os Povos da Floresta.

Durante toda a Semana, os sonhos com os quais no passado Chico Mendes encantava e mobilizava seringueiros, ribeirinhos, indígenas, antropólogos, artistas, jornalistas, entre tantos outros, para a luta pela preservação da floresta, continuam encantando gente de todas as partes do Brasil e do mundo.

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Foto: Marcos Dias

Nos dias 16 e 17, lideranças comunitárias, lideranças políticas, ambientalistas, professores, professoras, alunos e alunas da Universidade de Brasília, da Universidade Federal do Acre; executivos da Fundação Banco do Brasil; jornalistas de várias partes do Acre, do Brasil e do mundo, fizeram uma imersão na Comunidade Dois irmãos, localizada na Reserva Extrativista Chico Mendes, no município de Xapuri.

Foram momentos nos quais puderam vivenciar a vida pulsante da floresta, andar nos varadouros/caminhos que Chico trilhou organizando os “Empates” junto com os companheiros e companheiras. Aprenderam com quem nasceu, cresceu e vive na floresta o que é resistência contra as pressões do Capitalismo, que começam com o desmatamento, as queimadas e a grilagem das terras que formam o território que Valdiza Alencar, Wilson Pinheiro, Chico Mendes e outros anônimos, defenderam com a própria vida.

A imersão dilatou a visão dos e das participantes, levando cada qual a compreender a resiliência dos povos da floresta; as dificuldades e os desafios que fazem parte de suas vidas cotidianas. Mas, também, vivenciaram o acordar com os pulmões dilatados pelo ar puro, com a sinfonia dos pássaros nas árvores, tomar café com tapioca e cuscuz de milho molhado no leite da castanha. Uma experiência única em meio à fartura e abundância de alimentos que a floresta oferece. Tudo isso pelo tempo sem hora, que desliza suave acompanhando o movimento das nuvens.

A imersão na floresta foi mais do que um sonho. Foi uma materialização da herança que Chico Mendes e o movimento dos seringueiros do Acre deixaram para os e as “Jovens do Futuro”. Legado de uma luta e de uma longa trajetória de resistência que agora está registrada e materializada com a inauguração, com a presença do presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleytton Morais, da Exposição Comunitária Chico Mendes Herói do Brasil na Comunidade Dois Irmãos, produzida pelo Comitê Chico Mendes em parceria com a Revista Xapuri, instalada também nas Comunidades Rio Branco, Porongaba e Divisão.

Um sonho materializado pela sensibilidade e o apoio de quem acreditou no sonho de Chico e segue lutando para que a história não se perca nas dobras do tempo. Sonhos concretizados para que as próximas gerações tenham conhecimento, orgulho, se engajem e continuem a sonhar com um mundo melhor para todos os povos do planeta Terra.

MARCOS JORGE DIASMarcos Jorge Dias – Escritor. Estudante de Jornalismo. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto de capa: Marcos Jorge.

 
 
 
 
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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