Conheça as candidatas feministas nessas eleições

Conheça as candidatas feministas nessas eleições

Os Jornalistas Livres deram uma série de reportagens sobre aquelas e aqueles que lutam por representação política…

Por Dani Alvarenga/via Jornalistas Livres

A Bancada Feminina surgiu como forma de fortalecer a presença feminina e feminista na política brasileira. Inicialmente, era composta majoritariamente por partidos de esquerda, uma vez que eram as agremiações que já elegiam algumas . Conforme a ascensão de legendas de centro e de direita, a bancada passou a ser preenchida também por personalidades desse espectro político e, com isso, as pautas feministas começaram a enfrentar resistência já dentro da bancada.

Em 2013, foi aprovada a criação da Secretaria da Mulher, que uniu a Procuradoria da Mulher e a Coordenadoria dos Direitos da Mulher, que representa a bancada feminina. Contudo, de acordo com Jolúzia Batista, do Centro Feminista de Estudos e Assessorias (CFEMEA), eram cada vez mais compostas por mulheres “femininas, mas não feministas”. Com o golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff, a chegada de Jair Bolsonaro ao poder e, ainda, o crescimento da presença evangélica e católica na política, houve um aumento de pautas conservadoras. Muitas vezes, as reivindicações, na verdade, causam o cerceamento dos direitos femininos. 

Questões como aborto, saúde reprodutiva e até mesmo a diferença salarial entre os gêneros – que refletem no fato da fome afetar mais mulheres do que homens – sofreram forte oposição durante o governo atual. Com essa problemática em vista, torna-se urgente e necessário a eleição de mulheres que defendam as pautas femininas. “A gente tem vivido no Brasil um avanço enorme da pauta anti-direitos das mulheres, então, é uma negação das conquistas dos últimos 30 anos. É uma negação do reconhecimento da de gênero, do reconhecimento do , sobretudo.  Então, é importante que a gente traga mulheres que venham dos e que tragam os dados de realidade da vida das mulheres brasileiras”, afirmou Jolúzia Batista, do CFEMEA. Portanto, os Jornalistas Livres convidam seus leitores e suas leitoras a conhecerem as candidaturas feministas dessas eleições de 2022.

Norte

  • Bancada Mulheres Amazônidas 50180 (PT – PA)

A Bancada Mulheres Amazônidas é uma candidatura coletiva lançada em 2020. Formada por Gizelle Freitas, assistente social, Kamilla Sastre, doutoranda em antropologia, Jane Patrícia, mãe de santo e professora e Fafá Guilherme, líder comunitária na Terra Firme. Agora, em 2022, houve a entrada de mais uma integrante: Carol Lucena, estudante de direito na UFPA. Com essa nova composição, Gizelle, Fafá, Kamila, Jane e Carol lançaram a primeira candidatura coletiva a deputada federal do Pará. Com um perfil feminista, antirracista, anticapacitista e pelos direitos LGBTQIA+, a Bancada Mulheres Amazônidas tem como eixos principais o combate à violência às mulheres e a defesa da e de seus povos.

  • Alinne Brito 5013 (PSOL – AP)

Formada em Educação Física, pela Universidade Federal do Pará, foi a primeira coordenadora do centro acadêmico, atuou como professora universitária e há 14 anos é professora da rede pública amapaense. Dirigente sindical, atua na defesa dos profissionais da educação e das mulheres trabalhadoras. Participa da resistência feminista do PSOL, um coletivo de mulheres que nacionalmente luta por direitos e combate as opressões e desigualdades no Brasil. Alinne Brito defende a necessidade de um feminismo anticapitalista e luta pelas necessidades e direitos da maioria das mulheres pobres, trabalhadoras, racializadas, das imigrantes, queer, trans e com deficiência.

  • Lívia Duarte 50123 (PSOL – PA) 

Mãe, negra, militante socialista e feminista. Foi vereadora de Belém pelo PSOL, seu partido atual, e fundou o setorial de mulheres. Lívia nasceu no Guajará, periferia de Belém e é neta de um ex-escravizado análogo. Por viver o racismo e machismo na pele, percebeu a necessidade de lutar por cidadania e se tornou militante aos 13 anos de idade, em grêmios e organizações estudantis, sempre em pública. Graduada em Direito e em Psicologia, Lívia defende um projeto político antirracista, antimisogino e antilgbtfóbico.

  • Ana Cleia Ferreira Rosa 13300 (PT -TO)Mulher, negra, feminista, ativista, palestrante, pesquisadora, esposa, mãe  e cientista social. Ana Cleia Ferreira Rosa é mestranda em e Sociedade na Universidade Federal do Tocantins e integrante do Coletivo de Mulheres do PT e do Comitê de Combate à Violência contra a Mulher. Participa do ALAGBARA, articulação de mulheres negras e quilombolas no Tocantins e do Coletivo de Mulheres em Movimento Integrante do Elas por Elas/PT. Atualmente é Presidenta do Partido dos (PT) de Porto Nacional e candidata a deputada estadual.

Nordeste

  • Vozes Feministas 5005 (PSOL – CE)

É uma co-candidatura formada por cinco mulheres cearenses: Ana Vitória, travesti, transfeminista e bacharela em Direito; Anna Karina, feminista e professora; Damiana Bruno, mulher negra, militante feminista, mãe solo e camponesa; Mariana Braga, mãe, professora de educação infantil da rede municipal de ensino, atualmente é secretária de juventude, gênero, raça e minorias do sindicato dos servidores de Tamboril; Naiane Araújo, professora, pesquisadora, graduanda em Geografia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará e ativista do MAM; Fabíola Maciel (PSB – PE), formada em Direito e Docente especialista em Direitos Humanos.

  • Kaká Bezerra 18188 (REDE – PE) 

Mulher negra, feminista e protetora dos animais, Kaká Bezerra é formada em jornalismo. Em 2014, com 18 anos, colaborou para a criação de uma instituição sem fins lucrativos que ajuda os animais em situação de rua de Belém. A organização se tornou a 1ª ONG de proteção animal de Belo Jardim. Já em 2017, por causa do alto número de violência contra a mulher, ajudou a formar o Coletivo Feminista Desabrochar. Visando o combate ao racismo, criou o Festival Mojubá, que desde 2019 fomenta e abre espaço para a cultura e o trabalho do povo preto de Belo Jardim. Suas principais bandeiras são a causa animal e da mulher preta.

  • Tâmara Azevedo 500 (PSOL – BA) 

Cientista social, ambientalista, gestora pública, mãe, capoeirista e militante. Foi do movimento estudantil nos anos 90, se destacou na luta dos “caras pintadas” pelo impeachment de Collor e coordenou a juventude da campanha que elegeu Lídice da Mata, a primeira prefeita de Salvador. Atua na luta feminista e a do movimento negro, integrou o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, a Escola Olodum e o Conselho Gestor da Salvaguarda da Capoeira na Bahia. Tâmara também é conselheira da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.

  • Niully Campos 50 (PSOL – SE)

Mulher negra, feminista, mãe e ativista social pelos Direitos Humanos. Na juventude, foi a primeira mulher presidenta do DCE da Universidade Tiradentes e Diretora de Meio Ambiente da União Nacional dos Estudantes (UNE). É Mestra em Direito pela UFS, professora de Direito Penal e Advogada. Participou do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, também integrou a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB Sergipe, onde coordenou o Grupo de Trabalho Mulher e Participação Política. Hoje, filiada ao PSOL, compõe o setorial de mulheres negras do partido e é candidata ao Governo de Sergipe.

Centro- Oeste

  • Ana Prestes 6565 (PCdoB – DF) 

Socióloga, cientista política e escritora, neta do casal revolucionário e Luiz Carlos Prestes, nasceu em Moscou quando sua família estava exilada na antiga União Soviética. Ingressou, durante a juventude, no movimento estudantil e na União da Juventude Socialista (UJS). Na universidade, foi dirigente do DCE, construtora da UNE, e se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Fez doutorado em Ciência Política e em História. Como pesquisadora da participação feminina na política, foi co-autora e organizadora do livro 100 Anos da Luta das Mulheres pelo Voto, lançado pelo Instituto E Se Fosse Você? 

  • Thaynara Melo 40040 (PSB – DF)

É graduada em Biblioteconomia pela UnB e possui MBA em Gestão Pública pela UDF/UNICSUL. Atuante há 10 anos em movimentos comunitários e sociais, foi diretora da UNE, fundadora da Teia Solidária e co-fundadora do Movimento Acredito no DF. Atualmente é Líder 2022 do Instituto Vamos Juntas! e colunista de opinião do Congresso em Foco.

  • Rita Andrade 50005 (PSOL – DF)

É gestora de projetos culturais, produtora audiovisual, professora, radialista e ativista de fóruns de cultura e de movimentos sociais, como a Frente Unificada da Cultura do DF. Tem graduação em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e pós-graduação em Humano de Gestores pela Fundação Getúlio Vargas. Seu objetivo é atender, durante seu mandato, as comunidades da cultura, da educação e a pauta da mulher.

  • Keka Bagno 50 (PSOL – DF)

Assistente social, conselheira tutelar, mestranda em políticas públicas pela Universidade de Brasília, Keka Bagno cursou Serviço Social na Unb através das cotas. Em 2010, como Assistente Social voltou sua formação profissional para o enfrentamento às violências contra crianças, adolescentes e mulheres. Desde 2016, é Conselheira Tutelar. Em 2018 esteve como candidata a vice-governadora pelo PSOL em uma chapa feminina e LBT. Atua nos movimentos sociais em defesa do direito à cidade, como a Campanha Despejo Zero, no movimento negro pelo MNU, em defesa dos direitos de crianças e adolescentes, com o Fórum da Diversidade Victoria Jugnet e diversas frentes de mulheres. Já foi Secretaria de Mulheres e hoje concorre as eleições de 2022 para o cargo de governadora do Distrito Federal. 

Sudeste

  • Erika Hilton 5070 (PSOL – SP)

Erika Hilton é vereadora eleita da cidade de São Paulo. Negra e transvestigênere, foi a mulher mais bem votada de todo o Brasil em 2020, a mais votada de seu partido  e é a primeira trans eleita para a Câmara Municipal paulistana. É ativista de direitos humanos com foco nas pautas de equidade para a população negra, combate à discriminação contra a comunidade LGBTQIA+ e pela valorização das iniciativas culturais jovens e periféricas.

  • Nicole Sollberg 13180 (PT – RJ) 

Mãe, artista e formada em Direito, Nicole Sollberg é militante ativa das causas ambientais, sociais e feministas, em especial na região Serrana. Em 2020, foi porta-voz da primeira candidatura coletiva para a Câmara de Vereadores em Nova Friburgo. Nessas eleições, tem como principal bandeira a defesa pela democracia, atuando contra as políticas bolsonaristas.

  • Crislayne Zeferina 1801 (REDE – ES) 

É uma mulher preta, periférica e feminista. Conhecida como lutadora pelas causas sociais nas comunidades da Grande Vitória e pelo interior do Espírito Santo. Acredita na mudança através da ressocialização. Formada em Pedagogia e pós-graduada em pedagogia social e gestão de projetos, ampliou a política capixaba para jovens negros e periféricos.

  • Indira Xavier 80 (Unidade Popular – MG)

Indira Xavier é ativista dos Direitos Humanos, atua na defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras, da educação e nas pautas do direito à cidade e em defesa do SUS. Em 2011 passou a integrar a Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário e o Comitê Latinoamericano e Caribenho de Mulheres. Atua também na Coordenação da Casa de Referência da Mulher Tina Martins, primeira Ocupação Feminista de Mulheres da América Latina.

Sul

  • Denise Pessôa 1333 (PT – RS) 

É uma mulher, negra, mãe e feminista. Desde muito cedo dedicou-se à vida pública. Em 2008, com apenas 24 anos, foi eleita vereadora pelo PT na cidade de Caxias do Sul (RS). Denise foi assessora da Deputada Estadual Marisa Formolo nos temas de juventude e mulheres. Atualmente é Procuradora Especial da Mulher, Presidenta da Comissão de Direitos Humanos Cidadania e Segurança e da Subcomissão Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. 

  • Daiana Santos 6565 (PCdoB – RS)

Mulher, negra, periférica e LGBTI+. Tornou-se Sanitarista e Educadora Social, trabalhando principalmente com mulheres em situação de violência e a população em situação de rua. Criou também o Fundo das Mulheres, que atende principalmente “chefas” de família em situação de vulnerabilidade social. É vereadora na cidade de Porto Alegre e agora pré-candidata a Deputada Federal.

  • Laura Sito 13300 (PT – RS)

Mulher, negra e mãe, foi a vereadora mais jovem de Porto Alegre. Integra a Bancada Negra da região, sendo a primeira mulher negra da história a integrar a mesa diretora e a presidir as sessões. É representante do Brasil na Frente Parlamentar de Combate à Fome da ONU e organiza também uma rede de 14 cozinhas comunitárias.

Confira nossas outras reportagens sobre o MST e a Bancada do Cocar para saber mais sobre outras candidaturas que estão sob bandeiras de movimentos sociais ligados à questão existencialista. 

https://xapuri.info/pt-e-agora-psol-pede-que-tse-exija-acoes-do-whatsapp/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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