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O QUE É O RAPÉ?

CONHEÇA O RAPÉ, UM TIPO DE MEDICINA INDÍGENA

O que é o Rapé?

O Rapé é um tipo de medicina indígena sul-americana que consiste na mistura de tabaco e cinzas de cascas de árvores e/ou plantas sagradas. A tradição desta medicina nativa existe há milhares de anos, em diferentes culturas nativas da América do Sul, desde muito antes da colonização. 

Por Empório Muritiba

, o uso do Rapé era principalmente restrito aos pajés e curandeiros das tribos, que o utilizavam para se realinhar com seus canais de energia com espíritos e forças da intensificando sua conexão com o mundo e o universo para que assim, pudessem ver e receber o conhecimento e as instruções para curar os pacientes.

Com o essa medicina teve seu uso autorizado para pessoas em geral nas aldeias e hoje em dia o rapé é utilizado e estudado amplamente tanto por indígenas de diversas culturas, quanto por não

A do tabaco para diversas tribos indígenas de todas as partes das Américas está profundamente entranhada às suas culturas como parte fundamental de sua cosmovisão e arsenal terapêutico desde tempos imemoriais, onde compreendem o tabaco como uma planta sagrada que deve ser utilizada em cerimônias, com propósitos terapêuticos e espirituais, para fins oraculares como prever o , prever sucesso na caça, pesca, colheita, onde essas tradições jamais admitiam o uso recreativo ou abusivo do tabaco como por exemplo o que vemos hoje em dia com a do fumo tragado.

O QUE É O RAPÉ?
Imagem: Empório Muritiba

Efeitos e Usos

A aplicação do Rapé é feita pelo nariz, através do sopro, por via de um aplicador que pode tanto ser individual através de um instrumento chamado Kuripi (auto aplicador) quanto assoprador por outra pessoa através do Tipi (aplicador de duas pessoas).

Os aplicadores de rapé, Kuripes e Tipis,  podem ser feitos de diversos materiais como madeira, bambu, osso e pedra. O sopro deve ser recebido com a respiração correta, para que a ação desejada seja alcançada e a experiência não seja desagradável. A sensação é sempre forte e algumas vezes pode ser um pouco chocante.  

Nas tribos indígenas, a utilização do Rapé pode ter diferentes propósitos como rituais de puberdade, de iniciação, em celebrações, ritos sociais e cerimônias de cura. Bem como, cada tribo vai utilizá-lo à sua maneira; em qual momento do dia, quantas vezes e etc.

Hoje em dia, a utilização do Rapé por pessoas de fora das tribos, também pode ter diferentes propósitos, e pode ser adequada às necessidades e vontades da pessoa que o utiliza. 

Uma cerimônia típica de Rapé envolve uma aplicação mutual entre duas pessoas, onde o rapé é soprado através do Tipi, nas vias nasais. O sopro pode trazer  sensações imediatas de foco da mente, cessar de ruído interno, abertura de um canal para suas intenções. Também pode ajudar a tratar de questões físicas, mentais e emocionais, a dissipar negatividade e confusão, auxiliando em uma edificação de uma mente forte. 

O QUE É O RAPÉ?
Imagem: Empório Muritiba

Além disso, o Rapé é tradicionalmente utilizado para desintoxicar o corpo e limpar os excessos de muco, toxinas e parasitas, logo dando assistência para combater físicas e espirituais, que para culturas nativas muitas vezes estão relacionadas.

Para culturas do tronco linguístico Pano o rapé auxilia no tratamento da panema, uma condição física e espiritual que se manifesta como preguiça de trabalhar, desânimo e falta de força de vontade, onde o rapé ajuda a se livrar das energias intrusas ou obstruídas no corpo da pessoa em questão.

Todos os tipos de Rapé tem a capacidade de harmonizar a mente ajudando no entendimento de pensamentos e emoções, facilitando a compreensão de processos internos. Energeticamente se diz que protege o usuário, afastando baixos espíritos e energias mal elaboradas.

Tradicionalmente existe o uso antes de entrar na mata para se harmonizar com os espíritos da floresta e assim evitar, por exemplo, picadas de insetos ou ataques de animais. Também pode ser muito utilizado para aguçar o foco, a presença e a intuição.

Para fins físicos existe a crença de que o rapé auxilia em processos como rinite e sinusite, podendo também trazer vigor e vitalidade e auxiliar em processos de limpeza de toxinas e sequelas de uma má alimentação através de vô, por exemplo.

Efeitos Adversos e Cuidados

O sopro do Rapé pode ser algo bastante forte, o que varia muito de pessoa para pessoa, podendo ser um processo de limpeza com efeitos dos mais variados, como: sudorese, expectoração de muco, enjoo, vô e pressão baixa.

Por isso é interessante estar em um local e atmosfera confortável e recebendo a aplicação, ou acompanhado de alguém que saiba te orientar a fazer o processo corretamente, caso você não tenha experiência com isso. 

Grávidas e, principalmente,  lactantes devem evitar por conta da presença da nicotina em sua composição. 

O Tabaco e o Rapé são tidos pelas culturas indígenas como entidades vivas, às quais temos que nos conectar e respeitar antes de nos relacionarmos com elas. Por isso é importante estar concentrado e reservar um momento dedicado e especial para a aplicação.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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