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Chico Mendes

Conselho Nacional dos Seringueiros: 30 anos

Conselho Nacional dos Seringueiros: 30 anos

Há 30 anos, as veias ardentes de um combativo movimento local saltaram as fronteiras da floresta para, em Brasília, durante o I Encontro Nacional dos , mostrar ao e ao mundo a força de uma voz coletiva em defesa das populações extrativistas da Amazônia. Ali surgia, em outubro de 1985, o Conselho Nacional dos Seringueiros, o CNS.

Foi também ali que, em nome do recém-criado CNS, um ousado seringueiro acreano apresentou, pela primeira vez, a proposta dos próprios de uma reforma agrária ecológica para a Amazônia. A proposta era a das Reservas Extrativistas, que permitem às famílias extrativistas a posse da e o usufruto das riquezas da floresta, sem a ela causar danos ambientais. O seringueiro era Chico Mendes.

Desde então, em memória e respeito ao de Chico Mendes, o CNS, que em 2009 passou a se chamar Conselho Nacional das Populações Extrativistas, para abrigar o vasto mosaico de entidades extrativistas que se espalharam por todo o território brasileiro, representa as posições mais avançadas do movimento social dessas populações.

A principal bandeira de do CNS sempre foi – e é – a criação, a ampliação e a consolidação das Reservas Extrativistas e dos demais projetos de preservação do de sociobiodiversidade brasileiro. Desde 1985, o CNS acompanhou processos de criação de Reservas Extrativistas, Florestas Nacionais, Reservas de Sustentável, Projetos de Assentamento, Florestas Nacionais, perfazendo um total de 760 unidades de conservação em todo País.

Muitos são os desafios enfrentados pelo CNS: lutar para que a atividade produtiva sustentável não coloque em risco a natureza; investir no manejo sustentável dos recursos naturais e na valorização dos produtos do extrativismo; exigir dos governos a garantia dos serviços essenciais do para as populações extrativistas; e, tão importante quanto, criar os mecanismos de participação das e da juventude nas lutas presentes e futuras.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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