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Os contrastantes tons da primavera na Caatinga

CONSELHOS ECOLÓGICOS DO PADRE CÍCERO

CONSELHOS ECOLÓGICOS DO PADRE CÍCERO

O Padre Cícero Romão Batista, um dos ícones religiosos do nordestino e brasileiro, teve, ainda no início do século XX, uma sensível percepção ecológica. 

Por Leonardo

Elaborou preceitos que ensinava aos sertanejos (Veja o livro Pensamento vivo do Padre Cícero. Rio de Janeiro: Ediouro, 1988):

  • Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau;
  • Não toque nem no roçado nem na ;
  • Não cace mais e deixe os bichos viverem;
  • Não crie o boi nem o bode soltos: faça cercados e deixe o pasto descansar para refazer;
  • Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua ;
  • Faça uma cisterna no oitão da sua casa para guardar a água da chuva;
  • Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta;
  • Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá, ou outra árvore qualquer, até que o sertão seja uma mata só;
  • Aprenda a tirar proveito das plantas da Caatinga, como a maniçoba, a e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a ;
  • Se o obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando, e o povo terá sempre o que comer;
  • Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão vai virar um deserto só.

Todas estas dicas teóricas (mente) e práticas (mãos) podem nos conferir a de que é possível alcançar a da vida, da humanidade e da Terra. As atuais dores não são de morte, mas de parto, de um novo nascimento.  A Terra e a humanidade vão continuar e vão ainda irradiar, pois para isso existimos dentro do processo da evolução em aberto.

Publicado originalmente em 12 de abril de 2016

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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