Cordel para Dom Pedro Casaldáliga

Cordel para Dom Pedro Casaldáliga
 

Homenagem de Gustavo Dourado

 
Nasceu Pedro Casaldáliga

Em Balsareny, Barcelona

Pere Casaldàliga i Pla

O amor nos proporciona

Catalunha, na Espanha

Sob os toques da sanfona

No ano de 28 (1928):

Veio à mundana

Dom Pedro Casaldáliga

Os anjos deram hosana

Consagrado à divindade

E à bela hoste mariana

 

No ano quarenta e três (1943)

Congregação Claretiana

Luz do Coração de

Casaldáliga a luz emana

Pregou o bom evangelho

Do amor que nos irmana

Foi ordenado sacerdote (1952)

Em Montjuïc, Barcelona

Depois veio ao Brasil

O amor em intentona

O grito pela liberdade

Que sua fé proporciona

 

Pedro em Mato Grosso (1968)

Uma missão claretiana

São Félix do Araguaia

Na floresta brasiliana

Pelejou contra o sistema

Da república de banana

São Félix do Araguaia (1971)

Foi bispo da prelazia

Foi um homem exemplar

Nas lutas e na

Batalhou como ninguém

Na peleja do dia a dia

Tortura na delegacia (1976)

Casaldáliga ameaçado

O terror da ditadura

O comando do

O sofrimento do povo

Na triste vida de gado

Padre João Bosco Burnier

Um jesuíta assassinado

Acompanhava a Pedro

Foi um crime desalmado

Sob o terror do

De um horror oficializado

 

“Descalço sobre a Terra

Vermelha”. Sua biografia

Filme que conta a história

A luta pela

Dom Pedro Casaldáliga

Flui nos textos da poesia

Defesa dos povos indígenas

E dos povos tradicionais

No Conselho Missionário

Deu apoio aos hominais

Viveu pela

E faleceu em Batatais

São Félix do Araguaia

Emérito da prelazia

Dom Pedro Casaldáliga

Cultivou boa poesia

Lutava pelo seu povo

Na palavra o conduzia

Ordem de Santo Agostinho

Do Imaculado Coração

Maria na linha de frente

Com amor e devoção

Pedro sempre com fé

A fazer transformação

Convocado ao Vaticano (1988)

Por agir com rebeldia

Sempre ao lado do povo

Com a boa teologia

Da libertação do mal

E da nefasta tirania

Na Revolta de Chiapas (1994)

O apoio incondicional

A defesa dos indígenas

Na peleja essencial

Por um mais justo

E por um povo mais igual

“Declaração de Amor
 
À Revolução Cubana”
 
As melhorias sociais
 
Da ilha que nos ermana
 
Que a justiça prevaleça
 
Na terra brasiliana

Doutor honoris causa (2000)

Em São Paulo e Goiás

Pela UNICAMP E PUC

Lembro dos Camaiurá

Dos Xavante, do

De Aritana e Anhangá

 

Aos 86 anos (2005)

Renunciou à prelazia

Mas continuou na luta

Sempre por democracia

Por justiça e liberdade

Com amor e cidadania

 

Dos

Foi um grande defensor

Amazônia, Centro-Oeste

Na floresta e no calor

Perseguição do poder

Dos latifúndios da dor

 

Pedro foi bom patriota

Mesmo sendo estrangeiro

Amoroso com sua gente

Bispo mestre timoneiro

Foi um guerreiro grande

Amou o povo brasileiro

 

Um exemplo para todos

Em nossas causas sociais

Defensor da Amazônia

Sofreu com os generais

Lutou por nosso Brasil

Em momentos cruciais

Sempre ao lado dos pobres

Teologia da libertação

Teve uma fé inabalável

Lutou contra a opressão

Cultivou a fraternidade

A doutrina do coração

 

Os seus lemas principais

Não possuir, não matar

Não calar na opressão

Nada pedir e carregar

Semear luz liberdade

E o amor multiplicar

 

Vivemos grave momento

De muita tristeza e dor

Desemprego, pandemia

Guerra e falta de amor

Pedro nos deu o exemplo

De ter sido um bom pastor

 

Morreu aos 92 anos (2020)

Um poeta, um timoneiro

Baluarte da esperança

Um pensador altaneiro

Que agora lá do infinito

Guia o povo brasileiro

 
Gustavo Dourado
Presidente da Academia Taguatinense de Letras – ATL
Brasília, 08 de agosto de 2020

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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