Coronavírus:15 perguntas e respostas sobre o surto

Coronavírus:15 perguntas e respostas sobre o surto

Por Redação

O avanço do surto de coronavírus, que já matou mais de cem pessoas e chegou a 17 países, tem despertado uma série de dúvidas — desde o que se sabe sobre a real gravidade da situação até o que fazer com a compra pela internet de produtos oriundos da China.

A BBC News Brasil reuniu as principais perguntas levantadas por leitores, espectadores e especialistas.

As respostas se baseiam em dados oficiais divulgados pelo governo chinês e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), informações de profissionais de saúde consultados pela reportagem e estudos publicados por cientistas ao redor do mundo.

O que é esse vírus?

O novo vírus foi chamado de 2019-nCoV, uma sigla em inglês para o ano em que ele surgiu, “n”, de novo, e “CoV”, de coronavírus. Inicialmente as doenças são batizadas com códigos, e depois ganham nomes mais populares, como “gripe aviária”.

Os coronavírus (micróbios cuja aparência remete a uma coroa) são uma ampla família de vírus, mas sabia-se que apenas seis deles infectam humanos. Com o novo descoberto, são sete.

Um deles é o causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave (conhecida pela sigla em inglês Sars), que matou 774 das 8.098 infectadas em uma epidemia que começou na China em 2002.

“Há uma forte da Sars, e é daí que vem muito medo, mas nós estamos muito mais preparados para lidar com esses tipos de doenças”, afirmou Josie Golding, da Wellcome Trust, organização não governamental sediada no Reino Unido.

A Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), que matou 858 dos 2.494 pacientes identificados com a infecção desde 2012, começou a ser transmitida para humanos por dromedários.

A situação é grave?

A OMS classificou inicialmente o risco global como moderado, mas, depois de ser criticada, disse ter errado e passou a falar em risco elevado.

Para afirmar isso, leva em conta elementos como a gravidade da doença, a velocidade de disseminação e a capacidade de combatê-la.

Apesar disso, ainda não há dados suficientes para afirmar com certeza se estamos lidando com uma gravidade semelhante à da Sars, por exemplo.

O que dizem os dados?

Toda nova doença dessa magnitude desperta desconfiança da população. Questiona-se se é possível confiar nos dados divulgados oficialmente e se o governo está escondendo algo. E as facilitam a disseminação tanto de dúvidas quanto de informações falsas.

De fato, na atual, o prefeito da cidade chinesa de Wuhan, epicentro do surto, admitiu não ter sido transparente em relação à dimensão e à gravidade da doença quando ela surgiu, em dezembro.

De todo modo, cabe agora analisar as informações disponíveis.

Até o momento, foram confirmados 5.974 casos da doença, menos de cem deles fora da China, em outros 16 países. Ao menos 132 pessoas morreram, todas em território chinês.

Mas isso é muito ou pouco?

Qualquer conclusão agora seria precipitada. O que se sabe até o momento aponta para uma doença que mata em torno de 3 pessoas a cada 100 infectadas. Mas os números mudam todos os dias, não se tem um retrato completo da situação ao longo de um grande período de tempo e mutações podem ocorrer e tornar a doença mais grave.

Para comparação, a chamada gripe sazonal mata 0,1 pessoa a cada 100 infectadas. Outros dois coronavírus, a Sars matou quase 10 a cada 100 e a Mers, 35 a cada 100.

Mas se essas duas doenças eram mais perigosas, como elas foram contidas?

“Esses agentes com altíssima virulência usualmente levam a que se tome medidas de restrição de movimentação e isolamento dos doentes, por isso essas doenças ficam contidas”, explica Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

Ou seja, se os números atuais estiverem corretos, estamos diante de uma gripe muito pior que a chamada sazonal, mas ainda bem mais branda do que vimos com a Sars ou a Mers.

Segundo Spilki, doenças com taxa de morbidade menor tendem a se espalhar mais porque demandam medidas de contenção menos restritivas.

Quem corre mais risco de contrair a doença?

Cerca de 25% dos casos do novo coronavírus são graves.

A China divulgou dados mais detalhados sobre as primeiras 24 pessoas que morreram: 16 homens e 8 mulheres.

Em média, as vítimas tinham 72 anos e morreram depois de 11 dias internadas. A mais nova tinha 36 anos e morreu quase duas semanas depois de dar entrada no hospital. As duas mais velhas tinham 89 anos.

Ao menos nove dessas pessoas já estavam com a saúde fragilizada por outras doenças, como diabetes ou Parkinson.

Ainda assim, vale lembrar que todos esses dados são iniciais e não permitem tirar conclusões precipitadas sobre eventuais grupos de risco.

O que se sabe é que, normalmente, pessoas com saúde já abalada com, por exemplo, problemas respiratórios pré-existentes tendem a ser mais vulneráveis a complicações. Pacientes muito jovens e com idade avançada também costumam ser afetados de maneira mais grave.

A transmissão é rápida? Passa pela tosse?

Todo novo vírus preocupa, e há dois grandes motivos para isso.

O primeiro é que pouco se sabe sobre qualquer novo vírus. De qual ele passou para o homem, o quão agressivo ele é, se é altamente contagioso ou não etc.

O segundo é que grande parte da população ainda não terá imunidade para combater sintomas e evitar a transmissão. Ou seja, praticamente todo mundo que é exposto contrai a doença — mas nem todos os infectados desenvolvem os sintomas.

Em geral, todos os vírus que afetam o trato respiratório são transmitidos pela via aérea ou pelo contato da mão com a boca ou com os olhos, por exemplo. Respirando no mesmo ambiente, tocando algo que uma pessoa infectada tocou.

Mãe e filho chineses com máscara

Até agora, a grande maioria dos casos do novo coronavírus registrados foram transmitidos entre pessoas com contato próximo, como familiares e profissionais de saúde.

Estima-se que no surto atual cada pessoa infectada passou a doença para menos de três pessoas, em média.

A doença pode ser transmitida antes de aparecerem os sintomas, algo que demora até duas semanas. Isso, claro, não é incomum em outros vírus, mas preocupa bastante.

Como se detecta se a pessoa está doente?

Em geral, numa doença como esta se utilizam amostras de secreção respiratória levadas ao laboratório. Ali, são utilizadas técnicas de detecção de material genético viral para identificar a presença do agente infeccioso.

“A capacidade de fazer testes é cada vez maior, porque há mais laboratórios e máquinas dedicadas a isso, e isso eleva o total de casos. Também aumenta porque a transmissão segue ocorrendo, e não há nenhuma evidência de que foi interrompida. Então, o número de casos vai crescer nos próximos dias, infelizmente”, explicou à BBC News Brasil o médico sanitarista e epidemiologista brasileiro Jarbas Barbosa, diretor-assistente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e ex-chefe da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2015 e 2018.

O Ministério da Saúde brasileiro afirmou que o país está preparado para detectar o vírus.

O que o Brasil está fazendo em relação à doença?

Depois que a OMS mudou o patamar do risco global ligado ao novo coronavírus, o Ministério da Saúde decidiu os critérios para o monitoramento de possíveis casos.

Desde o início do surto, houve mais de 7.000 rumores no Brasil de pacientes que teriam o vírus, informou a pasta.

Antes, o governo federal considerava apenas pessoas que haviam passado pela Província de Hubei, onde fica Wuhan e que concentra a maioria dos casos na China.

Agora, passou a considerar a China inteira.

O governo federal também anunciou ter elevado a classificação de risco do país do nível 1, de alerta, para o nível 2, de perigo iminente. A escala vai até o nível 3, de emergência de saúde pública, quando são confirmados casos de transmissão no Brasil.

Três casos, até agora, foram tratados como suspeitos pelas autoridades, mas apenas um permanece sob investigação — uma estudante de 22 anos em Belo Horizonte (MG). Outras duas suspeitas, uma em São Leopoldo (RS) e outra em Curitiba (PR) já foram descartadas.

E se algum caso for confirmado no Brasil?

“Não podemos ser alarmistas. Não é estranho que uma pessoa que veio da região onde o vírus está sendo transmitido esteja infectada. Mesmo que isso se confirme, acredito que haverá apenas casos esporádicos e que o vírus provavelmente não se disseminará”, afirmou à BBC News Brasil o infectologista Marcos Boulos, da Faculdade de Medicina da Universidade de .

É arriscado importar produtos da China?

Em geral, os coronavírus sobrevivem pouco tempo no ambiente.

Isso ocorre por causa do envelope, uma camada com gordura em volta do vírus, que o torna vulnerável a um simples detergente, por exemplo.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos afirmou que não há, até agora, nada que indique qualquer risco associado à importação de produtos industrializados e ou de animal.

“Em geral, por causa da baixa sobrevivência dos coronavírus em superfícies, há um risco muito baixo de disseminação por meio de produtos ou embalagens enviadas ao longo de dias ou semanas em temperatura ambiente.”

De todo modo, o órgão disse estar monitorando a situação em constante evolução e que qualquer informação nova sobre o caso será incluída em suas recomendações (disponíveis em inglês neste site).

Há vacina ou remédio contra a doença?

Até agora, não. Em geral, vacinas levam quatro ou cinco anos para serem desenvolvidas. E uma vacina vale para um vírus específico.

Atualmente, há pesquisadores tentando inventar processos que gerem vacinas em semanas e mesmo que levem a uma vacina universal para todos os tipos de gripe. Mas, mesmo que venham a ter sucesso, isso ainda está longe de se tornar realidade.

Também não há ainda um remédio para o novo coronavírus. Todo o tratamento atual lida com os sintomas, que em geral começam com uma febre, e depois de uma semana passam a incluir tosse seca e falta de ar.

Se a situação não piorar, as pessoas infectadas têm se recuperado em até uma semana.

Mas, se piorar, o vírus pode causar pneumonia, insuficiência respiratória aguda e até a .

Quem for infectado uma vez pode ter a doença de novo?

Em geral, quem é infectado por um coronavírus passa a estar imunizado contra uma nova infecção do mesmo vírus.

Mas não há informações precisas sobre o surto atual.

Qual é a melhor forma de proteger? É usando a máscara?

Depende da máscara. Segundo especialistas, os modelos mais usados pelas pessoas nas ruas são pouco eficazes para impedir a circulação do vírus. Isso porque elas não vedam bem e são porosas.

Mas há modelos mais avançados, usados por profissionais de saúde, que podem ser mais eficazes, como os classificados de N95.

O uso de máscaras é uma medida complementar de segurança para evitar contrair ou transmitir o vírus. Especialistas recomendam lavar bem as mãos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar — mas com papel ou lenço, nunca com as mãos. Recomendam também evitar aglomerações e manter um estilo de vida saudável, que fortalece seu sistema imunológico.

De que animal veio o vírus?

O início do surto tem sido associado pelas autoridades chinesas a um mercado em Wuhan. Ali, eram vendidos tanto animais vivos quanto já abatidos. Mas não se sabe ainda qual deles está ligado ao novo coronavírus.

Segundo Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, este é mais um vírus que chega à espécie humana por causa de impacto ambiental.

Ao desmatar, degradar o ambiente e ampliar a proximidade de animais silvestres para alimentação, recreação ou estimação, o homem se aproxima de vírus com os quais não tinha contato nem imunidade. Se expõe ao que ele chamou de uma nova virosfera.

Estima-se que mais de 1,5 milhão de vírus circulem na do . E que só conhecemos cerca de 3.000 deles.

Chinesa com máscara na rua

Fonte: BBC

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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