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Criticamente ameaçado de extinção, lagarto é redescoberto após décadas sem registros

Criticamente ameaçado de extinção, lagarto é redescoberto após décadas sem registros

Parte das moradas da desprotegida espécie é afetada pelo lago de uma hidrelétrica, lavouras, extração de areia e de seixos.

Por Aldem Bourscheit/O Eco

No final de década de 1990, biólogos toparam com uma provável nova espécie de lagarto ao avaliar os impactos da Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães, entre Miracema do Tocantins e Lajeado, no Tocantins. Mas a Bachia psamophila foi descrita cientificamente quase uma década depois, em 2007. 

Desde então, parte dos locais onde a espécie vive foram alagados pelo reservatório da usina e nenhum outro desses lagartos havia sido encontrado. Tudo mudou entre setembro e outubro deste ano, quando exemplares foram localizados naquela mesma região.

O achado foi de pesquisadores ligados a um programa nacional de conservação de espécies ameaçadas do Cerrado e do Pantanal, o Cerpan. Um deles foi Reuber Brandão, professor na Universidade de Brasília (UnB), colunista d’O Eco e um dos que localizaram a espécie nos anos 1990.

O bem-vindo reencontro pede ações para assegurar um futuro à espécie. Além do barramento do Rio Tocantins, parte dos ambientes originais da espécie são alvo da agropecuária, da mineração de areia e seixos e, ainda, do loteamento por “casas de veraneio” às margens do lago da hidrelétrica.

lagao
Além da inundação de habitats originais da espécie, as margens do reservatório  da UHE Lajeado sofrem rápida ocupação. Foto: Reuber Brandão
 

Ainda mais ameaçador, a distribuição conhecida do lagarto não é abrigada em nenhuma unidade de conservação de proteção integral. Isso seria estratégico para assegurar a sobrevivência da espécie criticamente ameaçada, cujo corpo é adaptado à vida em ambientes arenosos e subterrâneos. 

Até agora, estudos mostraram que a Bachia psamophila vive apenas nos chamados “tombadores de areia”. Meio recobertas por vegetação de Cerrado, essas dunas de fina areia branca foram lá depositadas pela movimentação secular do curso do Rio Tocantins. 

Conforme informaram os cientistas envolvidos na pesquisa, o Brasil tem a maior riqueza de espécies de anfíbios e a terceira maior riqueza de répteis do mundo, atrás apenas de Austrália e México. A lista vermelha de 2022 traz cerca de 70 espécies de répteis ameaçadas de extinção no Brasil.

Aldem BourscheitJornalista. Fonte: O Eco. Foto: Luís Felipe Carvalho de Lima.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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