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RITXÒKÒ: A BONECA DE BARRO KARAJÁ

RITXÒKÒ: A BONECA DE BARRO KARAJÁ

Ritxòkò, a boneca de barro Karajá

Patrimônio imaterial brasileiro, a boneca Ritxòkò (bonecas de cerâmica no dialeto feminino iný) simboliza a cultural do povo Karajá. Ao representar cenas do cotidiano e dos ciclos rituais, as Ritxòkò ocupam papel fundamental na educação das e na preservação da milenar cultura Karajá.

O reconhecimento como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) veio em 2012, graças à iniciativa do Museu Antropo­lógico da Federal de (UFG).

Confeccionadas em cerâmica, as bonecas são pintadas com grafismos que representam as formas humanas, a pintura corporal, os adereços, e também a fauna regional das margens do rio Araguaia, nos estados de Goiás e Tocantins, que é onde estão localizadas, há séculos, as principais aldeias do povo Karajá.

Nas aldeias, a boneca é dada às meninas, não somente como brinquedo, mas como também como ferrmenta de educação e de formação da identidade Karajá. Em geral, as meninas ganham um conjunto de bonecas, que as denominam como “família”. Essa família traz representações das diferentes faixas etárias das mulheres da aldeia, identificadas principalmente pelos ornamentos que usam.

RITXÒKÒ: A BONECA DE BARRO KARAJÁ
PORTAL GOV.BR

Estudos do Instituto do Patrimônio Histórico e Arqueológico Brasileiro (IPHAN) mostram que a confecção das Ritxókó, também conhecidas como Licocó, Titxkòò ou Litjokê, passa por um processo artesanal extremamente trabalhoso, organizado em cinco etapas: extração e preparação do barro, modelagem das figuras, queima e pintura, envolvendo técnicas tradicionais transmitidas de geração em geração.

Esculpidas e comercializadas nas preta e vermelha somente pelas mulheres das aldeias, as bonecas são feitas com três matérias primas básicas:  a argila ou o barro (suù), a cinza e a água.

Em geral, são comercializadas nas próprias aldeias ou em lojas de decoração e constituem importante fonte de para as comunidades Karajá, cujo povo soma uma população de cerca de 3,2 mil pessoas, com ramificações também no de Mato Grosso.

SOBRE O POVO KARAJÁ

“Quando habitavam no fundo das águas, o ambiente era frio e restrito, mas eles estavam contentes e eram gordos. Certo dia, um jovem karajá encontrou uma passagem na Ilha do Bananal, saiu e ficou encantado com o espaço para correr, com as praias e riquezas do Rio Araguaia.

Ele voltou, reuniu outros jovens, e tentou voltar para a superfície, mas a passagem tinha sido fechada por ordem de Koboi, chefe do povo das águas, e estava guardada por uma co­bra. Então os Karajá resolveram se es­palhar pelo Araguaia. Kynyxiwe, o herói mitológico que se encontrava entre eles, ensinou tudo o que os Karajá sabem.” – Manuel Ferreira Lima Filho, In: Os Filhos do Araguaia.

Os Karajá, que se autodenominam Iny, são cerca de 3 mil pessoas que vivem em cerca de 20 aldeias (Funasa, 2011), no médio curso do Rio Araguaia, na Ilha do Bananal, nos estados de Goiás e Tocantins.

Também existem aldeias esparsas do povo Karajá nos estados do Mato Grosso e do Pará. Embora tenham uma longa de convivência com a Nacional, os Karajá conseguiram manter sua língua nativa (Karajá), seus enfeites de pena, sua cestaria, suas pescarias, seu artesanato em madeira e seus rituais, como as festas de Aruanã e da Casa Grande (Hetohoky).

RITXÒKÒ: A BONECA DE BARRO KARAJÁ
Foto: www.cienciassociais.ufg.br

 

 
 

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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