Cúpula do Clima: Os desafios do aquecimento global
À medida que o calor avançava no Brasil inteiro, dando sinais evidentes do efeito das mudanças climáticas em nossas vidas, a última reunião antes da Cúpula do Clima foi encerrada em Bonn, na Alemanha, no último dia 24 de outubro, com a participação de 195 países e com poucos avanços.
Grande parte das decisões sobre um novo acordo para reduzir o impacto do aquecimento global ficou para a 21ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas, a chamada COP-21 ou Cúpula do Clima, agendada para o período de 30 de novembro a 11 de dezembro de 2015, em Paris.
Por que nos interessam e nos preocupam os resultados da Cúpula de Paris? Primeiro, porque as tão temidas mudanças do clima já bateram às nossas portas com seus impactos inevitáveis: o ano mais quente da história, as secas, as inundações, a falta de água, o encarecimento da energia elétrica.
E isso deve continuar piorando, pois estamos sentindo hoje os efeitos do aumento das emissões de gases de efeito estufa causados por nós mesmos, os seres humanos, alguns anos atrás. Segundo, porque aumenta, cada vez mais, o número de vidas perdidas e de migrantes fugindo de tempestades, inundações e outras condições inóspitas.
Se o encontro de Paris não for uma reunião bem-sucedida, aumentará a perspectiva de, em um futuro próximo, haver ainda mais dessas condições. Com as secas e a desertificação, nossos netos e netas poderão ficar sem água para beber. O nível do mar poderá deixar as nossas praias abandonadas e em ruínas. Os países-ilhas poderão desaparecer. Os riscos para a produção agrícola são ainda maiores, e mais terríveis.
Mesmo assim, o que está sendo negociado para o Acordo de Paris são promessas voluntárias de redução de emissões que cada país oferece, com metas para alcançar até 2030. Nesses moldes, nenhum país será obrigado a cumprir nenhuma das metas pactuadas. Isso é um retrocesso, pois, em Quioto, Japão, em 1997, o cumprimento das metas para os países signatários era mandatório. Ainda assim, a maioria dos países concordou, mas não alcançou sua meta. Os dois países mais poluidores, os Estados Unidos e a China, não assinaram o Acordo de Quioto.
No caso da COP-21, o fato de as promessas serem voluntárias vai permitir que seja o primeiro acordo assinado por todos os países, com a esperança de limitar o aquecimento global, até o final deste século, a 2°C em relação a meados do século 19. Isso anima e preocupa.
Anima, porque significa uma ampliação de compromisso, e já há um pequeno avanço: aqueles dois países grandes emissores agora entraram em um acordo bilateral de compromissos voluntários. Mas preocupa, porque, assim construído, pode se transformar em uma mera carta de intenções.
Prováveis Consequências do Aquecimento Global para o Brasil
Caso o mundo não consiga limitar o aquecimento a 2°C com relação a meados do século 19, como se prevê com a COP-21, o Brasil sofrerá várias consequências. Algumas delas:1
- Amazônia – até 60% da floresta pode virar cerrado a partir de 2050.
- Nordeste – aumentará a tendência à desertificação. O calor aumentará a evaporação, os solos serão mais secos, prejudicando a agricultura familiar e a irrigação.
- Sul – o clima muito mais quente tornará inviável a produção de grãos. Haverá chuvas e ventos fortes, porém infrequentes.
- Centro-Oeste – as chuvas serão mais concentradas, entremeadas de vários veranicos. A erosão prejudicará a agricultura. Assim mesmo, a produção de grãos deslocará do Sul para essa região.
- Sudeste – na Bacia do Prata, que corresponde a 1/6 do Brasil e onde vive a maior parte dos brasileiros, haverá muito menos água para beber e para gerar energia.
- Cidades – serão mais quentes, prejudicando os bairros pobres, sujeitos a mais inundações, enchentes e desmoronamentos. Haverá mais doenças, como dengue e malária.
1 MARENGO, J. A. Mudanças Climáticas Globais … (2007)
Alterações Climáticas para o Brasil no século 21, MMA/ IBAMA (2007)