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Cura para quase tudo: O sagrado feminino

Cura para quase tudo: O sagrado feminino no ofício da Raizeira Telma Suely

Cura para quase tudo: O no ofício da Raizeira Telma Suely

O ofício de raizeira, de cura e sublimação do Sagrado Feminino teve representante no Distrito Federal: Dona Francisca Raimunda do Núcleo Bandeirante. O Ervanário Cheiro de   resgata essa e continua pelas mãos de Telma Suely

Eliana Feitosa

Entre cheiros de temperos, pomadas, ervas, cascas, unguentos, xaropes, garrafadas e histórias de alegria em muitas famílias, Telma Suely cresceu acompanhando a mãe Dona Francisca Raimunda em seu ofício de raizeira, grande parte na Feira Permanente do Núcleo Bandeirante, no Ervanário Cheiro da Terra.
Quando , Telma Suely e a família faziam uso do mastruz e da batata de pulga como vermífugo e cicatrizante, são os remédios do mato que a família utiliza e recomenda até hoje.
Embora a variedade de produtos seja grande, são as garrafadas de da mulher para “limpeza” do útero que, segundo inúmeros relatos, auxiliaram mulheres a viver a experiência da maternidade. Alecrim, artemísia, , calêndula, camomila, erva-doce, sálvia, uxi amarelo, unha-de-gato, lavanda e manjericão são as ervas que tratam a saúde feminina.
Telma Suely, hoje aos 59 anos, se dedica integralmente ao ofício de raizeira que aprendeu com a mãe: “Aprendi muito com ela, no dia a dia, mas estudei nos livros e apostilas dela também. Cresci vendo famílias voltarem para agradecer com lindas crianças no colo, minha mãe por anos fez muitas garrafadas da saúde da mulher, e eu continuo esta missão”.
A garrafada de saúde da mulher é o principal produto comercializado no Ervanário Cheiro da Terra. É feita a partir da combinação de ervas, cascas, e da maturação de tempo necessária, saber ancestral que a raizeira Telma Suely aprendeu com a mãe, dona Francisca, que partiu aos 87 anos de , todos dedicados ao conhecimento tradicional de plantas, ervas e seus usos, em especial à saúde da mulher.
O uso das plantas medicinais no tratamento e na cura de enfermidades é tão antigo quanto a existência humana. Ainda hoje este saber e conhecimento tradicional representa o único recurso terapêutico para muitas comunidades. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000), aproximadamente 80% da população mundial utilizam plantas medicinais como principal ou única opção terapêutica.
O sagrado feminino e a ginecologia natural nascem da necessidade de enxergar o das mulheres de forma integral. O sistema patriarcal e racista provoca nas mulheres, principalmente as negras, agressões a sua integridade mental, emocional, física e espiritual.
As garrafadas de saúde da mulher, a medicina do sagrado feminino, repassada entre as gerações de raizeiras, na perspectiva holística, é uma forma contra hegemônica de cuidar-se e curar-se, pois não alimenta a indústria farmacêutica e a medicina ocidental.
O ofício da raizeira Telma Suely presente nas garrafadas de saúde da mulher, conhecimento herdado de sua mãe, é fundamental hoje em um contexto de adoecimento feminino e da necessidade dos cuidados com a saúde ginecológica. Este conhecimento tende a se tornar cada vez mais necessário, pois a medicina ocidental comprovadamente não trata o indivíduo na sua plenitude.
Ervas, cheiros, cascas, , óleos, essências, unguentos, pomadas e chás são uma alternativa importante no autocuidado, na prevenção do adoecimento e na espiritualidade presente na cura para quase tudo, presente também no cotidiano dos grandes centros urbanos.

Eliana Aparecida Silva Santos Feitosa – Professora na Secretaria de do Distrito Federal, Tutora na UAB/UnB no curso de Geografia, Instrutora do Curso de Formação de Oficiais da PMDF na disciplina de Geografia Regional do DF. Pesquisadora do conhecimento tradicional do ofício de raizeiros.

NOTA – Este artigo é parte integrante da pesquisa de doutoramento intitulada “Cura para quase tudo: mapeamento social dos raizeiros do Distrito federal”, sob a orientação da professora Dra. Marília Luiza Peluso, Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Geografia da Universidade de Brasília.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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