Davi Kopenawa Yanomami, em denúncia urgente e crítica: “Estou sendo ameaçado de morte”
“Estou sendo ameaçado de morte,” diz líder indígena Davi Kopenawa em RR. Associação indígena protocolou documentos no MPF, PF e Funai. ‘Também vou procurar ajuda na ONU’, afirma líder Yanomami.
Ao G1, o líder Yanomami relatou que as ameaças de morte estão acontecendo desde maio deste ano e que tem sido procurado por pessoas interessadas em saber o paradeiro dele. “Elas ficam ‘rondando’ a sede da Hutukara e perguntando por mim. Querem que eu me cale, que pare de denunciar invasões nas terras indígenas, mas não farei isso. Pedi auxílio às autoridades brasileiras e solicitarei apoio no exterior. Também vou procurar ajuda da ONU [Organização das Nações Unidas]”, disse Kopenawa.
Ameaças
Nas intimidações apontadas por Kopenawa, há o relato de um membro da Hutukara que diz ter sido intimidado por garimpeiros no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
“Os garimpeiros mandaram avisar que muitas pessoas tiveram prejuízo com as operações na Terra Indígena e que por isso eu não chegaria vivo até o fim deste ano”, narrou Kopenawa.
Outra denúncia destacada pela liderança indígena é a de uma invasão à sede do Instituto Socioambiental (ISA), que fica ao lado do prédio da Hutukara, no Centro de Boa Vista. Na ocasião, homens armados roubaram computadores, GPS e celulares.
“Eu estava me preparando para uma viagem, quando fui informado que os homens estavam atrás de mim. Eles entraram na Hutukara, nos roubaram e perguntaram ‘cadê Davi?’. Uma colega respondeu que eu estava indo para casa. Depois disso, outra colega foi trabalhar e os homens também a abordaram para saber onde eu estava, mas eles não me encontraram”, contou.
O filho do líder índigena e também membro da Hutukara, Dário Kopenawa, informou à reportagem que os documentos protocolados no MPF, na PF e na Funai pedem ajuda e proteção às pessoas ligadas à associação. “Pedimos proteção para que continuemos a denunciar as invasões nas terras indígenas. É nosso direito pedir ajuda. Queremos defender nosso próprio território”, afirmou Dário.
Investigações
Segundo o coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’kuana (FPEYY), João Catalano, o relatório protocolado na Funai será encaminhado para Brasília e, como Kopenawa é servidor da Fundação, a instituição deverá acompanhar o caso.
“Davi, com a Funai e a Polícia Federal, tem atuado no combate à presença de garimpeiros e fazendeiros na Terra Indígena Yanomami. Por isso, seguiremos o protocolo de proteção ao servidor e a ideia talvez seja afastá-lo da função. Entretanto, essas decisões só caberão à presidência da Funai”, esclareceu Catalano.
Em nota, a assessoria do MPF em Roraima informou que está articulando com as forças de Segurança Pública medidas para evitar qualquer ameaça ou risco à vida de lideranças indígenas. O órgão afirmou que, nesta quarta-feira (30), haverá uma reunião para tratar do assunto.
O G1 tentou contato com assessoria de comunicação da Polícia Federal em Roraima, mas não obteve êxito.
NOTA: Esta matéria foi publicada pelo G1 na noite desta quinta-feira, 20 de agosto de 2019. É, portanto, atualíssima.