UMA RÃ QUE CANTA QUE NEM PASSARINHO

UMA RÃ QUE CANTA QUE NEM PASSARINHO

Descoberta na floresta uma espécie de rã que canta que nem passarinho

A gente costuma dizer que sapos e rãs coaxam, não cantam. Mas dizer que cantam não está errado e, no caso, desta rã simpática da foto, menos ainda. Esta espécie, a Adenomera phonotriccus,  descoberta em 2010, mas divulgada recentemente pelos pesquisadores que a encontraram no periódico American Museum Novitates – emite sons parecidos com o canto de um grupo de aves (do gênero Hermitriccus, popularmente chamadas de “marias”), mais do que de sons produzidos por espécies de sapos relacionadas a ela.

“Para descrever esta espécie de forma adequada, tivemos que comparar seu canto, morfologia e genética com diversas espécies semelhantes da América do Sul”, contou Thiago de Carvalho, pesquisador da Universidade Estadual Paulista e líder do estudo, ao Portal Amazônia.
O gênero Adenomera  reúne outras tantas espécies que vivem espalhadas por países do continente sul americano. É grande a desse grupo, mas ainda não se sabe muito a respeito. Estudos genéticos e bioacústicos (área da que estuda sons emitidos por animais) têm ajudado a revelar detalhes que, de outra forma, seria impossível.
E é o canto desta espécie que mais a distingue das demais. Não só porque é parecido com o de aves, mas porque é especial, único, se comparado ao de outras espécies do grupo.
De acordo com o pesquisador, a maioria das espécies desse gênero emite sons curtos, “sem a formação de pulsos completos”, ou seja, com intervalos silenciosos entre eles. A Adenomera phonotriccus surpreende por emitir um canto mais longo, o que torna mais fácil também a diferenciação dos pulsos.
Mas, para descobrir tudo sobre essa rãzinha cantante, levou .
Pedro Peloso, pesquisador colaborador do Museu Paraense Emílio Goeldi e de Zoologia da Universidade Federal do Pará (autor da foto que ilustra este post), estava presente no momento da descoberta, há nove anos, no município de do Pará, no sudeste do estado. Na época, ele fazia parte de um grupo de pesquisadores que estudava a diversidade da  na região.
“Foi uma enorme surpresa quando confirmei que o canto que ouvia dentro da mata vinha deste pequeno sapinho. Imediatamente soube que se tratava de uma espécie não documentada”. E contou, ainda, que a vocalização dessa espécie é muito semelhante ao de uma outra, do mesmo gênero, encontrada no Peru, mas que ainda não foi classificada.
Mesmo depois de muitos estudos sobre a nova espécie, para descrevê-la foi preciso retornar ao local onde foi encontrada, porque o estudo inicial não focava nessa espécie. O grupo estudava toda a fauna, mas a preciosidade da descoberta tornou necessário uma pesquisa mais aprofundada. E, assim, alguns pesquisadores – Peloso e Pablo Cequeira, biólogo e ornitólogo do Museu Goeldi, entre eles – voltaram à região em 2018 para coletar novos dados sobre o canto e a da espécie.
Assim que ouviu o som da rã, Cequeira imediatamente lembrou de um tom da -sebinha-do-acre (Hemitriccus cohnhafti). E, assim, não demorou muito para que o nome da espécie – Adenomera phonotriccus – fosse escolhido, como uma alusão a esse canto. Em latim, phonotriccus significa “aquele que tem voz de triccus, que é a identificação do grupo de passarinhos que inclui diversas espécies de papa-moscas e maria-sebinha.
Agora, ouça a voz da nova espécie de rã da Amazônia:

 

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Mônica Nunes: Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, , educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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