Menos áreas verdes, mais mosquitos transmissores de doenças
Mosquitos transmissores de doenças, como o Aedes aegypti, causador da dengue, zika, chikungunya e febre amarela, ganham mais espaço com a redução de áreas verdes nas grandes cidades.
Por Vanessa de Oliveira/Pensamento Verde
Mais adaptados às áreas urbanas, esses insetos são favorecidos pelo declínio da população de outras espécies de mosquitos. A constatação foi feita por um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo no âmbito do programa Fapesp de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (Biota-Fapesp).
Com a colaboração do Centro de Controle de Zoonoses e do Departamento de Parques e Áreas Verdes da capital paulista, foram coletados 37.972 espécimes da família Culicidae, que compreende espécies conhecidas popularmente como pernilongos. Embora a coleta – feita em nove parques municipais monitorados pela pesquisa – indique uma rica diversidade de espécies na cidade, o estudo mostrou que existe um problema quanto à distribuição e composição dessas espécies nas áreas verdes do município.
Entre os resultados, está a constatação de uma tendência à redução de espécies de mosquitos. Com isso, vetores de patógenos que causam doenças em humanos acabam sendo beneficiados adaptativamente.
Interferência
Segundo os pesquisadores, existe uma relação entre o tamanho das áreas verdes e a diversidade das espécies. As áreas verdes menores tendem a possuir um subconjunto das espécies encontradas em áreas verdes maiores, havendo uma tendência para que a fauna de mosquitos nas áreas menores seja formada principalmente por vetores.
Com a constante urbanização e, consequentemente, a redução progressiva das áreas verdes, as espécies mais silvestres vão desaparecendo, enquanto que as que são adaptadas ao meio urbano e mais propensas à transmitirem doenças, dominam o território.
Os mosquitos formam um grupo muito diverso, com mais de 3,5 mil espécies conhecidas. Estudos sobre a diversidade desses insetos em espaços verdes urbanos são úteis tanto para elucidar processos que conduzem os padrões de diversidade nos ecossistemas urbanos como para entender o papel da biodiversidade na redução ou aumento do risco de transmissão de patógenos.
Números preocupantes
Levantamento feito pelo Ministério da Saúde apontou que 994 municípios brasileiros apresentam alto índice de infestação pelo mosquito Aedes aegypti e podem registrar surtos de dengue, zika e chikungunya. O número representa 20% das 5.214 cidades que realizaram algum tipo de estudo que classifica o risco do aumento de doenças causadas pelo vetor.
O primeiro Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) de 2019 revela que a incidência de casos de dengue no país entre janeiro e março subiu 339,9% em relação ao mesmo período de 2018.