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Dica de um Dinossauro: “Não escolha a Extinção!”

Dica de um Dinossauro: “Não escolha a Extinção!”

Gilney Viana e Zezé Weiss

Era quarta-feira, 27 de outubro de 2021. O mundo se preparava para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro de 2021.

Tudo parecia correr conforme os protocolos. Governos, como de costume, preparavam extensos documentos para as negociações da semana seguinte. Movimentos e organizações da sociedade civil se organizavam para marcar presença na COP26 com veementes protestos contra a lentidão da para conter o aquecimento global.

De repente, uma presença inusitada quebra a rotina na sede das Nações Unidas, em Nova York. Ante uma plateia atônita, um visitante inesperado caminha, a passos largos, rumo ao podium e, do alto da sua experiência de 70 milhões de anos, ocupa o microfone para um conselho à espécie humana:

– Cuidado, vocês estão no caminho de um desastre climático que pode extinguir vocês do planeta. Extinção é uma coisa péssima. Não escolham a extinção!

O alerta, feito pelo orador surpresa, um imenso dinossauro, faz parte do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), “Don´t Choose Extinction”, para alertar os povos da sobre o risco de extinção da espécie humana.

“NÃO ESCOLHA A EXTINÇÃO!” (Don´t Choose Extinction)

Gerado por um programa de computador e dublado pelo famoso ator Jack Black, o Dino usou seus dois minutos na ONU para alertar a nós, seres humanos, sobre os riscos de extinção da nossa própria espécie, sobretudo pelo uso dos combustíveis fósseis, um dos principais temas discutidos na COP26.

Preste atenção, pessoal: Eu posso contar pra vocês uma ou duas coisas sobre extinção. E, deixe-me dizer o que devia ser óbvio: Extinção é uma coisa péssima!

E [ver vocês] trabalharem a sua própria extinção em 70 milhões de anos é a coisa mais ridícula que já vi nesse mundo. Nós, pelo menos, tivemos um asteroide. Qual a desculpa de vocês [para a extinção humana, que pode acontecer com o aquecimento global?].

Vocês estão caminhando para um desastre climático e, ainda assim, seus governos gastam centenas de bilhões de fundos públicos para subsidiar os combustíveis fósseis. É como se nós tivéssemos gastado bilhões por ano para subsidiar meteoritos gigantes. Isso é o que vocês estão fazendo nesse momento. 

Pensem sobre todas as outras coisas que vocês podem fazer com o seu dinheiro. Tem muita gente passando fome em volta do mundo. Vocês não pensam que ajudar a quem tem fome faz muito mais sentido do que pagar pela extinção de toda a espécie humana?

Vamos falar sério por um segundo. Vocês têm uma grande oportunidade para sair dessa enrascada nesse momento. Vocês podem reconstruir suas economias e sair mais fortes depois dessa pandemia. 

Essa é uma grande chance para a humanidade. Então prestem atenção no que eu digo: Salvem a sua própria espécie humana antes que seja tarde. Parem de dar desculpas e comecem a fazer as mudanças [que podem salvar vocês!].  

O FIM DOS DINOSSAUROS

 Segundo a paleontologia, os grandes répteis que conhecemos como dinossauros surgiram há cerca de 220 milhões de anos e dominaram a vida no planeta por toda Era Mesozoica (250 a 65 milhões de anos atrás).

A razão da extinção dos dinossauros teria sido a queda de um meteoro, de 6 a 14 km, que colidiu com a Terra a uma velocidade de 72.000 km/h, dando origem a uma cratera de cerca de 200 quilômetros de diâmetro, na Península de Yucatán, no Golfo do México.  Em decorrência do choque, o planeta teria sido coberto por uma imensa nuvem de poeira, que impedia a luz solar de entrar na superfície terrestre.

Sem luz, a temperatura caiu bruscamente e as plantas morreram, porque não tinham como realizar a fotossíntese. Os animais herbívoros morreram de fome e os carnívoros por falta do que comer. Os dinossauros teriam sido extintos em decorrência desse colapso ambiental. Essa é a tese mais aceita pela Ciência.

Alguns cientistas, entretanto, acreditam que a extinção dos dinossauros não ocorreu pela queda do grande meteoro, ou de vários deles, mas sim por mudanças gradativas que já estavam ocorrendo no meio ambiente da Terra naquele momento.

Mesmo com tantas explicações, hipóteses e teorias, a humanidade não tem como saber o que realmente provocou a extinção dos dinossauros. Qualquer que seja a razão, talvez seja bom ouvir o que o dino falou na ONU: “Extinção é uma coisa péssima!”.

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PARA FUGIR DE UM “ SOMBRIO”

  A mais importante Conferência do desde a COP21, onde foi assinado o Acordo de Paris, em 2015, a COP26 tratou de uma agenda crítica para o futuro da humanidade. O encontro, considerado a “última e melhor esperança” para manter a temperatura do planeta no limite de até 1,5º C em 2030, contou com a participação de delegações de 191 países.

O ambiente geral da COP26 foi de urgência na tomada de decisões para fugir de um “futuro sombrio”, conforme as palavras iniciais da secretária-executiva da Convenção do Clima, Patricia Espinosa, na abertura da Conferência, no dia 31 de outubro.

Adiada por um ano por causa da pandemia, a abertura da COP26 também contou com o discurso da ministra do meio ambiente do Chile, Carolina Schmidt, presidente da COP25, e de Alok Sharma, presidente da COP26 e membro do Parlamento britânico. Por duas semanas, presidentes, ministros e outras autoridades discutiram alternativas para colocar em prática o conceito de “justiça climática”, para frear o aquecimento global.

Com relação aos compromissos dos Estados, há novidades positivas, que provavelmente não mudarão a tendência dominante. A China anunciou zerar emissões líquidas de CO2e até 2060; e a Índia, até 2070 – distantes da pretensão da COP de zerar as emissões líquidas globais até 2050. E uma terceira, da parte do Brasil, que anunciou a meta de zerar as emissões líquidas até 2050, sendo que, anteriormente, a data se referia em até 2060 – que abordaremos mais adiante.

Olhando pra trás, vê-se que os compromissos nacionais na COP21 eram, desde então, insuficientes para atingir metas globais. Olhando para a frente, vê-se que os novos compromissos nacionais (novas NDCs) assumidos na COP26 também não são suficientes para atingir as metas globais renovadas, nos tempos anunciados.

A COP26 ocorreu em um ambiente dominado pelo pessimismo e pela sensação de fracasso, fazendo com que a União Europeia, muito sensível ao tema, onde os partidos ambientalistas aumentaram sua influência política, e os Estados Unidos, sob a presidência de Biden, ameaçado pelo trumpismo, articularam e impuseram acordos parciais extraoficiais, como o Compromisso Global sobre Metano (96 países), que se propõe reduzir em 30% as emissões deste gás até 2030; e a Declaração sobre Florestas (106 países), que assinala compromissos com a conservação das florestas e resiliência das comunidades e rurais.

Fora isso, a eterna pressão dos países em desenvolvimento para que os países industrializados cumpram a meta de apoiá-los financeiramente na transição climática. E o interesse do capital em regulamentar o chamado mercado de carbono, oficial e não oficial, a partir do qual se dispõe a exercer sua hegemonia para além da execução dos programas de transição climática nacionais, como o Green New Deal dos Estados Unidos, o Pacto Ecológico Europeu e o plano de transição energética do 14º Plano Quinquenal da China.

O BRASIL NA COP26

Nem o presidente Bolsonaro nem o vice-presidente, General Hamilton Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal e estava designado para chefiar a comitiva, participaram do mais importante encontro sobre meio ambiente do planeta. O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, representou o Brasil na COP26.

A delegação, encabeçada por Joaquim Leite, o ruralista que substituiu Ricardo Salles, foi a Glasgow para passar o chapéu e fazer um esforço patético para reverter a péssima imagem do Brasil destruidor do meio ambiente no exterior.

Mas, infelizmente, o governo anti meio ambiente do Brasil não parece ter ouvido a mensagem do dino e, também, mesmo que tivesse ouvido, exceto por uma óbvia pedalada climática, não tinha o que apresentar. Mesmo a proposta de reduzir o desmatamento soou como um engodo.

Desde o início deste governo, não há nada de sustentável na política brasileira. Ao contrário, os que deveriam cuidar da natureza em nosso país só protagonizam escândalos: que alarmaram o mundo, onças de patas queimadas e, pior, crianças indígenas sugadas por dragas da mineração sob os olhos omissos do governo federal.

Sem metas cumpridas para a redução dos gases de efeito estufa, e com recorde de desmatamento na Amazônia, o governo Bolsonaro protagonizou, na COP26, mais um vexame internacional. O próprio General Mourão justificou a ausência do presidente brasileiro: “Ele vai chegar num lugar e todo mundo vai jogar pedra nele”.

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PEDALADA CLIMÁTICA DO GOVERNO BOLSONARO

O Brasil apresentou sua primeira NDC em 2016 (governo Dilma), com as seguintes metas: reduzir em 43% as emissões de CO2e em 2030, tendo como referência o total de 2,1 Gt CO2e emitidos em 2005 (logo, suas emissões deveriam atingir no máximo 1,2 Gt CO2e, naquela data) e zerar as emissões líquidas em 2060.

Em dezembro de 2020, o governo Bolsonaro ratificou a mesma meta de redução de 43%, mas sob um novo dado de referência de 2,8 Gt CO2e em 2005 (após revisão do Inventário de Emissões), o que autorizaria o Brasil a emitir 1,6 Gt CCO2e, isto é, mais 400 milhões de toneladas de CO2e.

O movimento ambientalista do Brasil e do Mundo apontou a manobra contábil, apelidada de “pedalada climática” e, sob pressão, o ministro do Meio Ambiente do Brasil, em 1/11/2021, anunciou na COP26 a nova meta de 50% das emissões totais de 2005, aproximando-se do quantitativo assumido em 2016.

Enfim, o Brasil deu um passo à frente e dois atrás… e agora um passo à frente, para ficar atrás do que propunha em 2016.

À margem da COP26, o Brasil assinou a Declaração sobre Florestas e o Compromisso Global sobre Metano. Pela primeira, assumiu o compromisso de promover a conservação das florestas e respeitar os direitos dos povos indígenas, o que implica em zerar ou reduzir sensivelmente a conversão da em pastagens e monocultura de soja; e, pelo segundo, reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, isto é, reduzir as emissões de CH4 pela pecuária.

Esses compromissos terão consequências. O enfrentamento político com o agronegócio, responsável por 78,5% do total de emissões de CO2e acumulado de 1970 a 2019 será inevitável. Ou não haverá transição climática, no Brasil.

PÁRIA INTERNACIONAL

No ranking dos países que mais agravaram o aquecimento global em 2020, o Brasil aparece em quinto lugar, atrás apenas de China, Estados Unidos, Rússia e Índia.

Do Acordo de Paris, assinado por 196 países em 2015, para 2020, em vez de reduzir, o Brasil elevou as emissões de gases estufa em quase 5%. Dos cinco setores da economia que respondem pela totalidade das emissões do Brasil, três tiveram alta.

No Brasil, a maior fonte de emissão de CO2 está relacionada com o desmatamento, associado ao agronegócio. Em 2020, o setor registrou uma alta de 2,5%, a maior desde 2010. O desmatamento na Amazônia puxou a elevação das emissões de CO2 em 9,5%, o maior desde 2006.

As emissões de metano pelo arroto do boi (fermentação entérica) também cresceram. O consumo de carne diminuiu, com redução de quase 8% no abate de bovinos; isso também aumentou em 2,6 milhões de cabeças o rebanho nacional.

Na contramão do mundo, que registrou uma queda de 6,7% das emissões de CO2 durante a pandemia, o Brasil teve um aumento de 14% em relação ao ano de 2019. O desmatamento na Amazônia e no Cerrado gerou 998 milhões de toneladas de CO2 em 2020, um aumento de 24% em relação a 2019.

Mas essa devastação não está só na Amazônia. O Pantanal registra os maiores índices de incêndios da história e outros biomas estão sendo gravemente atingidos, em especial pela mineração em terras indígenas.

Sob o governo Bolsonaro, o Brasil, que é o G1 da , trabalha contra a proteção dos recursos naturais e estratégicos do país. O Brasil, que antes era liderança entre os países no debate internacional sobre as mudanças climáticas, hoje está fora da agenda e das mesas de negociação.

Obviamente, a questão climática é global, mas o atual governo brasileiro, centrado no negacionismo sanitário, no desprezo ambiental e no terraplanismo diplomático, não faz o menor esforço para ajudar a salvar o planeta.

Depois de quase 610 mil mortos na pandemia da , das imagens dos famintos disputando lixo e sob a indiferença de Jair Bolsonaro para com o sofrimento do povo brasileiro, o Brasil está desacreditado no mundo da justiça e do meio ambiente. Bolsonaro transformou o Brasil em pária internacional.

TXAI SURUÍ

Enquanto o alto comando da Nação brasileira se fazia ausente em Glasgow, organizações da sociedade civil e lideranças do movimento social brasileiro marcaram forte presença na COP26.

Já na cerimônia de abertura, o Brasil da resistência em defesa do meio ambiente falou pela voz contundente de Walala Txai Paiter-Suruí:

Meu nome é Txai Suruí. Eu tenho apenas 24 anos de idade, mas meu povo vive na Amazônia há pelo menos 6 mil anos. 

Meu pai, o grande chefe Almir Suruí, me ensinou que nós devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores.

Hoje, o clima está aquecendo. Os animais estão desaparecendo. E nossas plantas já não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que já não temos tempo.

Uma pessoa amiga me disse: “Até quando vamos continuar pensando que podemos curar as feridas do mundo com pomadas e analgésicos, quando sabemos que amanhã a ferida será maior e mais profunda”?

Precisamos ter a coragem de buscar outro caminho, agora, com mudanças corajosas e globais. Não em 2030, não em 2050, mas agora!

Enquanto vocês continuam fechando os seus olhos para a realidade, um defensor da floresta, Ari-Uru-Eu-Au-Au, meu amigo desde que eu era criança, foi assassinado por proteger a Amazônia.

Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática. Por essa razão, devemos estar no centro das decisões tomadas aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.

É hora de frear as emissões de promessas irresponsáveis e mentirosas. É hora de acabar com a poluição das palavras vazias. É hora de lutar por um futuro em um planeta habitável.

É necessário sempre acreditar que o sonho é possível. Que a nossa utopia seja a chance de termos um futuro na Terra.

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DELEGAÇÃO INDÍGENA

 A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) levou a Glasgow uma comitiva de mais de 40 indígenas de diversas etnias, uma das mais expressivas delegações da sociedade civil junto à COP26.

Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da Apib, reforçou o tema da Campanha “Demarcação Já: Não existe solução para climática sem Terras e Povos Indígenas”, lançado na segunda-feira, (1/11). A pauta principal da Apib em Glasgow foi “alertar o mundo sobre a necessidade e a urgência em demarcar o território e proteger a vida dos povos indígenas do planeta”, declarou Sonia em vídeo.

Na sexta-feira (5/11), a jovem militante Greta Thunberg puxou os protestos pelo movimento Fridays for Future (Sexta-feira para o Futuro). Daqui, 12 jovens de todas as regiões do país participaram das atividades do movimento, conhecido no Brasil como Greve pelo Clima.

Durante todo o período da COP26, as ruas da capital da Escócia, Edimburgo, cidade medieval próxima a Glasgow, foram ocupadas por ativistas que carregavam cartazes cobrando respostas rápidas dos líderes mundiais. As representações da sociedade civil brasileira marcaram presença em todos eles.

CONCLUSÃO

Em Glasgow estiveram reunidos dirigentes dos Estados nacionais e uma diversidade enorme de representações dos povos e segmentos das sociedades, discutindo as razões e as consequências da elevação da temperatura média da superfície da Terra em 1,1º C já em 2020.

Importante notar que esses mesmos Estados nacionais se comprometeram em 2015, pelo Acordo de Paris, a “manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2º C e envidar esforços pra limitar esse aumento de temperatura de 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais”, até o final do século (Art. 2º, a).

O mundo ficou estarrecido porque o futuro foi antecipado como demonstrou o Relatório “Mudança Climática 2021: A base da ciência física”, elaborado pelo Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês). Após analisar as novas metas apresentadas pelos países à COP26, o IPCC concluiu:

  1. Se não se reduzirem drasticamente as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa, e alcançar zero líquido das suas emissões por volta do ano 2050, o cenário mais provável é de elevação da ordem de mais de 2,7º C ao final do século XXI; e,
  2. A mudança do clima já é realidade com a elevação de mais 1,1º C na temperatura média global: eventos climáticos extremos se tornaram mais frequentes e se tornarão mais graves, a continuar o padrão atual de emissões.

Conclusão: Até agora, o Acordo de Paris fracassou. E a COP26 se mostrou incapaz de reverter essa tendência. É importante entender que a COP26 aconteceu sob uma conjuntura desfavorável.

De um lado, porque as lutas da cidadania ambiental que se expressam em estudos, notas e posicionamentos em variados fóruns, foi constrangida pela pandemia de Covid-19 a não usar da sua principal tática, as manifestações de rua.

De outro lado, os Estados Unidos – principal emissor histórico – se transformaram em primeiro produtor mundial de petróleo e, sob o governo Trump, o país se retirou do Acordo de Paris, pretendendo esvaziar a agenda ambiental.

Ali se redesenhou a sua política externa dentro de uma estratégia de confrontar a China, principal adversário comercial, e a Rússia, principal adversário militar.

Biden, presidente atual, supostamente crítico da política trumpista, ampliou essa estratégia de confrontação comercial e militar para todas as áreas das relações internacionais, inclusive na temática ambiental, transformada em instrumento de disputa da hegemonia global.

Isso explica as ausências presenciais de Xi Jiping, presidente da China – principal emissor da atualidade – e de Vladimir Putin, da Rússia, na COP26, assim como na reunião do chamado G-20, em Roma, que antecedeu a Conferência.

5NOV201

Gilney Viana – Ambientalista. Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Matéria publicada originalmente em 15/11/2021. Capa: Reprodução/ONU. 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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