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Dilma: “A Perda de um Companheiro”, homenagem a Carlos Araújo

: A perda de um companheiro

As pessoas não morrem, ficam encantadas.” – Guimarães Rosa –

Encantou-se neste sábado, 12 de agosto, em Porto Alegre, o ex-deputado, advogado e militante Carlos Araújo,vítima de complicações de doença pulmonar crônica, conforme laudos médicos.  Em ao ex-marido, a quem conheceu em 1969 e com quem foi casada por mais de 20 anos e com com quem teve a única filha, Paula, em 1976, a ex-presidenta Dilma Rousseff postou em seu blog, na manhã deste domingo, 13 de agosto, este texto-homenagem, denominado:

A PERDA DE UM COMPANHEIRO

“Perdi hoje um parceiro de . Carlos Araújo foi um bravo lutador no enfrentamento da , que não conseguiu destruir nem sua força vital, nem seu caráter, nem sua coragem.

Foi um bravo lutador no esforço pela reconstrução do trabalhismo no , missão à qual ele e muitos companheiros se dedicaram. 

Carlos Araújo amou a vida, e lutou por ela, tanto quanto lutou por uma vida melhor para todos.

Morreu ontem [12 de agosto de 2017], mas viverá para sempre: em sua família, em sua companheira, Ana, em seus filhos Leandro e Rodrigo, em nossa filha, Paula, em nossos netos, Gabriel e Guilherme, nos muitos amigos que fez e nos muitos admiradores que conquistou.

Viverá em nossas fortes lembranças do esforço comum pela sobrevivência, das lutas que travamos lado a lado, dos sacrifícios e das dificuldades pelas quais passamos, e também das conquistas que alcançamos juntos.

Aprendi com ele. E agradeço a oportunidade de tê-lo conhecido  e de ter convivido tantos anos com um ser humano tão generoso, afetuoso e correto.

O nos impôs desafios que tivemos de vencer. Enfrentamos percalços que poderiam ter nos destruído. Mas vencemos muitas dessas dificuldades, uma a uma. 

Em qualquer circunstância, sempre pude contar com ele, com sua inteligência, com sua capacidade e com sua força. 

Vai fazer falta aos nossos netos, fará falta à nossa filha, a todos que o amam e que o amaram, e fará muita falta a mim. 

E é para honrar-lhe e prestar-lhe tributo que continuarei lutando por um mundo melhor, por um Brasil mais justo, e pela emancipação do de meu país. Exaltarei sempre a sua coragem, enaltecerei sempre a sua bravura e a grandeza com que lutou sempre por seus ideais. Não cedeu, não se deixou vergar.  Partiu, ontem, como viveu toda uma vida: digno, altivo, sereno, amoroso, amigo e parceiro.

Carlos Araújo viveu visceralmente e brilhou intensamente. Agradeço por sua existência e por ter feito parte da minha vida. Carlos encantou a todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.”

 Dilma e Carlos Ara%C3%BAjo

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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