Disse Dona Mariquinha: “baixem essas armas!
Por Laurez Cerqueira
Grávida de oito meses do décimo filho, com a casa fervilhando de homens tensos, armados de garruchas, espingardas de chumbinho, de repente ouviu-se um brado de: “fiquem quietos que eu vou resolver essa situação!”
Ela abriu a porta, botou o barrigão na frente. Os dois soldados, sob ordens do prefeito-Coronel da região, Mozart David, apontaram os fuzis. Ela disse: “baixem essas armas! Não quero ver desordem na frente da minha casa!”
Bateu a mão nos canos dos fuzis e disse mais: “entrem nesse jipe e vão embora agora!” Mozart David, assustado com o inesperado, ordenou aos soldados que entrassem no carro. Sumiram na poeira da praça de chão batido, de Mortugaba, sertão profundo da Bahia, antes chamada Tabajara.
Tudo isso porque meu pai, junto com os compadres, camponeses como ele, queriam construir uma escola, em mutirão, para os filhos.
O prefeito não admitia a ideia. Foi à nossa casa para prender meu pai e tomar dele um aparelho de alto falante, usado todos os sábados, dia de feira, na campanha para construção da escola.
Não passaram! Minha mãe estava lá.
Essa mulher é “Dona Mariquinha” ou “Dona Lica”, minha mãe, essa da foto, ao lado dos netos: Leandro, meu filho, Kátia e Flávio, filhos do meu irmão Leônidas. Chamada “Dona Mariquinha”, pelas amigas e amigos, e “Lica” pelo meu pai, Genésio. Puro carinho.
No Dia/Mês Internacional da Mulher, gostaria de homenagear minha mãe e todas as mulheres do mundo que lutam por liberdade, justiça e por direitos iguais para todas e todos.
(*) Esse episódio está narrado na biografia do educador Anísio Teixeira, que estou escrevendo.
Laurez Cerqueira – Escritor. Foto do autor.
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Sertão