Do genocídio dos valentes Goyá: Não foi mito, nem lenda, foi história.
Oré ‘angar-aûsup-a (ba)-pe T-ur-i (Por amar nossa alma veio).
Por Iêda Vilas-Bôas
Aqui, no Centro-Oeste, no coração do país, vivia um povo valente, digno e destemido, os GOYÁ, de quem herdamos o nome do nosso estado Goiás e o adjetivo pátrio goiano.
De repente, chegaram! As Bandeiras e seus cruéis bandeirantes, colocando fogo em álcool, iludindo os povos originários, dizendo que iam colocar fogo nos rios… lá pelos anos 1600. Chegaram buscando trabalho escravo, ouro e pedras preciosas.
O Anhanguera (Bartolomeu Bueno da Silva) trouxe também a coisa que cuspia fogo, que abria buraco nos Goyá, que sangrava e matava.
“Anhanguera é o Diabo Velho
Caratonha verde-crua,
Que tem um olho de sol
E outro, branco, como a lua.”
Sumé era o cacique e enfrentava, juntamente com seu povo, os bandeirantes e outros povos indígenas. Era uma guerra contra os homens brancos e barbados que matavam com seu trovão. Sumé estava velho e prestes a fazer a viagem, mas relutava contra a morte, pois via a perseguição que os povos indígenas enfrentavam.
O sertão já não era mais seguro, o povo Goyá primeiro adentrou para o norte e fez paragens por estas terras formosas (Formosa-Goiás). Entretanto, aqui também chegaram os bandeirantes e houve guerra entre tribos diferentes pela ocupação de espaço. Assim, os Goyá fugiram em direção ao grande lago salgado, mas ali também seu povo foi alcançado.
Sumé tentou a paz, quis fazer acordo. Chamou caciques de outros povos e propôs receber os invasores com amizade, mas que tivessem desconfiança. Sumé Goyá fez sua passagem. Foi feita uma bela despedida com cantos fúnebres e rituais, e ele foi colocado numa grande urna de barro e enterrado ao pé da Serra das Araras.
Seu filho, Apú Goyá, desobedeceu às ordens do falecido Sumé. Fez alianças com outros povos. Casou-se com uma moça muito bonita de uma tribo inimiga e selou um pacto de guerra contra os forasteiros.
Apú foi deposto do cargo de cacique dos Goyá, e assumiu seu lugar o outro filho: Goiá; este fez o que o pai pediu: recebeu Anhanguera dentro da linha de amizade e muita coisa aconteceu.
Muitas luas se passaram e Goiá foi morto em emboscada por tribos inimigas, sua esposa se casou com o traidor e começou a misturança: Pedro Juraci, mameluco, deixado por Anhanguera para dar informes, assumiu a liderança.
Essa falsa amizade custou muito ao povo Goyá. Suas terras foram tomadas, os jovens escravizados, as moças violentadas, os anciãos deixados à própria sorte.
Essa história serve para lembrar a todos nós que precisamos adquirir coragem e resistência. Que a força de Arandu Arakuaa nos dê sabedoria e garra, porque o Povo Goyá se findou, mas outros povos indígenas enfrentam o atual Anhanguera: O Covid-19.
Este texto foi escrito tendo por base o livro: NAVARRO, E. A. Dicionário de Tupi Antigo: a Língua Indígena Clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 448. Publicado originalmente em 1 de março de 2021.
IMPORTANTE: A FOTO DE CAPA É ILUSTRATIVA, PERTENCE AO POVO BORORO.
Iêda Vilas-Bôas – Escritora. Encantada em um 8 de abril. Embarcou nas asas da quimera, rumo aos insondáveis mistérios do infinito. Faz muita falta!