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É possível evitar leucemias, linfomas e outros cânceres do sangue?

É possível evitar leucemias, linfomas e outros cânceres do sangue?

É muito comum que pacientes e familiares de doentes com tumores do sangue perguntem: o que eu fiz para ter essa doença? Essa é uma resposta mais óbvia quando um tabagista descobre um tumor no pulmão, ou um alcóolatra é acometido por um tumor hepático.

Nas doenças malignas do sangue, a situação é bem mais complexa, já que o tecido doente é o próprio sistema imunológico, e cada célula desse sistema possui uma função distinta das demais e adoece por razões bem peculiares.

Por exemplo, as leucemias podem ser divididas em dois grandes grupos: linfóide (quando a origem vem dos linfócitos) e mielóide (quando a origem está nos granulócitos ou monócitos). As alterações genéticas que propiciam o aparecimento de um tipo, ou do outro, são completamente diferentes.

Por analogia, as causas também serão. Há décadas que estudos epidemiológicos correlacionam uma frequência maior de Linfoma de Hodgkin, por exemplo, em filhos primogênitos, com poucos ou nenhum irmão, em crianças que não frequentaram creches ou tiveram poucos colegas, sugerindo um papel do desenvolvimento do sistema imunológico na propensão a doenças malignas do sangue.

A infecção por alguns vírus e bactérias, como Epstein Barr ou Helicobacter pylori, também tem sido correlacionada com subtipos específicos de linfoma, assim como ocorre quando há manutenção de um estado de inflamação por longos períodos, o que tem relação com manter o sistema imune ativado por mais tempo que o normal.

Também já se sabe do papel da exposição ambiental à radiação e a agentes químicos que agridam o material genético dos glóbulos brancos, como na exposição ocupacional a agrotóxicos. Acontece que, em muitos casos, não encontramos essa correlação epidemiológica.

Segundo artigo publicado em 2014 na revista Science, alguns desses casos ocorreriam ao acaso. Recentemente, a revista Nature Reviews in Cancer, publicou um artigo em que pesquisadores verificaram que durante o processo de amadurecimento do sistema imunológico, seja intraútero, seja na primeira infância, a exposição ao acaso a agentes infecciosos e químicos é assimilada e corrigida pelo próprio sistema imune de maneira diferente.

Em outras palavras, uma infecção viral que danifique um determinado gene, que poderia levar a criança a ter leucemia, é corrigida com mais precisão se o mesmo for acometido em idade mais precoce, do que em crianças maiores. Isso pode vir a explicar os velhos dados epidemiológicos que relacionavam crianças com menos infecções virais comuns da infância, com maior risco de leucemia linfoide ou linfomas no futuro, mas não explica porque algumas dessas crianças não conseguem eliminar vírus comuns como o Esptein-Barr de seu sistema imune.

Por serem tantas doenças e pela enorme diversidade individual de resposta do sistema imune, fica claro que ainda temos muito o que aprender, porém fica igualmente claro que devemos cuidar do nosso sistema imunológico deixando que nossos filhos brinquem mais em diversos espaços e tenham mais contato com outras crianças, para que amadureçam sua imunidade no momento em que podem lidar com eventuais erros genéticos que venham a ocorrer, e que não mantenhamos estímulos imunes solitários repetitivos, como ocorre com a exposição a poluição do ar, ao ácaro dos carpetes, ar condicionado, alimentação pouco variada.

Nos adultos, o tratamento de doenças inflamatórias crônicas, como as reumáticas, e das infecções crônicas, além do controle sobre a interferência nociva no sistema imunológico em situações de estresse duradouro podem de alguma maneira, mantê-los menos vulneráveis aos erros de duplicação do sistema imune, ou a corrigi-los quando ocorrerem.

Por fim, devemos saber que algumas mutações recorrentes e relacionadas com alguns tipos de doenças malignas no sangue podem ainda assim ocorrer de forma aleatória, e que isso foge ao nosso controle, pelo menos por enquanto.

sindisaude

Dr. Eduardo Flávio Oliveira Ribeiro

CRM-DF12414. Hematologista da Rede D’Or Oncologia. Membro da Sociedade Americana de Hematologia.  Membro da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Graduado em Medicina pela UnB. Especialista em Hematologia pela Unicamp.

(61) 33635252.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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