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EIS QUE SURGE A NAÇÃO BRASILEIRA

EIS QUE SURGE A NAÇÃO BRASILEIRA

Eis que surge a nação brasileira: Nesta terra de palmeiras, Plena de sol e calor, Vão se fundindo os povos, Em um caldeirão de dor. (…) Crianças vão nascendo, No solo de Tupã, Crianças vão saindo, Do seio de Iansã

Por Maria Luiza Bortoni Ninis

Nas florestas tropicais

Vivia o índio aguerrido,

Arco e flecha, tacape

Selvagem destemido.

Da Europa, em grandes naus

O branco aqui aportou

E da terra do gentio

Logo se assenhorou.

Para a lavoura, o branco

Quis o índio bravio,

Mas o livre selvagem

Não se ateve ao plantio.

O branco mandou vir

Para o Brasil colonizar

O Escravo africano

Para o solo cultivar.

Braços de ébano

Na labuta dos canaviais,

O negro africano

Com seus gemidos e ais.

Nesta terra de palmeiras,

Plena de sol e calor,

Vão se fundindo os povos

Em um caldeirão de dor.

Amores vão surgindo…

João Ramalho e Caramuru

Das tribos levam as noivas Potira e Paraguaçu.

O sinhô branco e a escrava

Das redes, no calor

A branca é a esposa

A negra o grande amor.

Crianças vão nascendo

No solo de Tupã

Crianças vão saindo

Do seio de Iansã.

Eis que surge uma nação

Nesta terra" mãe gentil"

Morena, forte, aguerrida nação brasileira

Para formar o Brasil !


 

Maria Luiza Bortoni e1734121675437Maria Luiza Bortoni Ninis – É escritora,  mineira, nascida em São Lourenço – MG. Mãe de 5 filhos e esposa amorosa. Professora de história e advogada.   Ocupa a cadeira 02 da Academia de Letras de Itajubá e em São Lourenço a cadeira número 86 que pertenceu a sua avó paterna, Luíza Nogueira Bortoni. Pertence ainda à Academia Itajubense de História, ao Clube dos Escritores de Piracicaba e à Academia Luminescência Brasileira de Araraquara. No momento vem trabalhando em uma pesquisa histórica. É Colaboradora da ALANEG/RIDE – Academia de Letras e Arte do Nordeste Goiano e da Xapuri

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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