Em meio à volta de garimpeiros, Lula cobra mais esforços e promete ações na Terra Indígena Yanomami

Em meio à volta de garimpeiros, cobra mais esforços e promete ações na

Durante reunião ministerial, presidente afirmou que “as tem dono”; no fim do ano, Justiça determinou novo plano de ações após MPF apontar ineficácia do governo.

Por Gabriel Tussini/O Eco

Em reunião ministerial para discutir a situação da Terra Indígena , realizada na manhã desta terça (9) no Palácio do Planalto, o frisou que o assunto será tratado como uma “questão de estado” e que usará “todo o poder que a máquina pública pode ter” para combater a crise desencadeada pela ação de invasores. Lula classificou a situação no território como uma “guerra contra o garimpo ilegal”.

O governo federal decretou emergência de pública na área em 20 de janeiro do ano passado, devido às doenças e à fome causadas pela contaminação de água e solo pela atividade garimpeira. O Ministério Público Federal, porém, classificou os esforços como “ineficazes” e conseguiu, na Justiça Federal de Roraima, que o governo estabelecesse um novo plano de ações contra o garimpo ilegal no território Yanomami. Parte dos garimpeiros expulsos no início do ano passado voltaram à terra indígena meses após a desintrusão, como alertou a ministra Sonia Guajajara, dos Indígenas, ainda em julho.

Na reunião ministerial, Lula afirmou ser necessário “um esforço ainda maior” para combater a atividade ilegal na região. “Porque não é possível que a gente possa perder uma guerra para o garimpo ilegal, para madeireiro ilegal, para pessoas que estão fazendo coisa contra o que a lei determina”, cobrou o presidente, citado pela Agência Brasil.

“Nós temos territórios indígenas demarcados, nós temos que cuidar deles com muito carinho, e essa reunião aqui é para definir, de uma vez por todas, o que o nosso governo vai fazer para evitar que os indígenas brasileiros continuem sendo vítima de massacre, do vandalismo, da garimpagem e das pessoas que querem invadir as áreas que estão preservadas e que têm dono, que são os indígenas e que não podem ser utilizadas”, completou Lula. As falas dos ministros não foram registradas, e a íntegra da reunião não foi transmitida pelos canais do governo.

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Foto: Ricardo Stuckert / PR

Estiveram presentes à mesa o vice-presidente Geraldo Alckmin e mais 14 ministros, como Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Marina (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), José Múcio (Defesa), Saúde (Nísia Trindade) e Silvio Almeida ( e ). Além deles, também marcaram presença a presidente da Funai, Joênia Wapichana; do Ibama, Rodrigo Agostinho; e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.

Também presente na reunião, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, resumiu o planejamento para o ano na região. “Em 2024 vamos migrar de um conjunto de ações emergenciais para ações estruturais, inclusive na área de controle do território e segurança pública, com a presença permanente das Forças Armadas e PF”, afirmou. “Precisamos ter uma presença permanente em Roraima, e portanto vamos instituir uma casa de governo do Estado brasileiro para gerenciar presencialmente esse conjunto de ações”, completou Costa.

Gabriel Tussini – Estudante de Jornalismo (UFRJ). Fonte: O Eco. Foto: Ricardo Stuckert / PR.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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