Fazenda Milhã

Fazenda Milhã: Um oásis no Caminho do Sol

Pra quem decide enfrentar os 11 dias de caminhada pelos 241 quilômetros do Caminho do Sol, que vai de Santana de Paranaíba a Águas de São , justo na metade da jornada, a pessoa peregrina encontra o providencial oásis da Fazenda Milhã, no município de Capivari.

Depois de seguir por cinco dias em jornadas escaldantes entre imensas extensões de canaviais onde, segundo um caminhante, “a única sombra que se vê é a própria sombra”, no sexto dia a paisagem muda.

Daí, até chegar à Pousada da Fazenda Milhã, são cinco quilômetros de caminhada entre fronfaz4dosas árvores de uma mata ciliar exuberante às margens da represa que fornece a água boa que abastece a população de Capivari.

“Eles chegam entre uma e duas horas da tarde, caindo das pernas, muito cansados, mas também muito animados. Descansam, visitam nossos jardins e mandalas, jantam, dormem, e no dia seguinte seguem rumo à Casa de Santiago, em Águas de São Pedro. Em geral, os grupos são de 10 a 20 pessoas. Mas também chegam grupos maiores, de mais de 50 caminhantes”, diz Christina Pacheco, sócia-proprietária da Fazenda Milhã.

Os grupos maiores são sempre recebidos no Casão, estrutura centenária construída por escravos no final do século XIX. “Ao receber os peregrinos, honramos os escravos e caboclos que ajudaram meu bisavô a construir o Casão, inaugurado em 1839. Faço parte da quarta geração de cuidadores deste espaço . Espero que, depois de mim, o prossiga com a quarta geração, sob os cuidados de meu filho José Luiz, “completa Christina.

O CAMINHO DO SOL

A participação no roteiro do Caminho do Sol, que é o correspondente brasileiro do milenar Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, se deu por iniciativa de Maria Christina Pacheco, que procurou se integrar desde o começo do projeto, em 2002.

“Li, em uma matéria de jornal, que José Carlos Palma planejava o roteiro passando por Capivari. Procurei a Secretaria de Municipal e ofereci a Fazenda Milhã para a hospedagem, sem ter ideia do que vinha pela frente. Nossa primeira recepção foi para um grupo que já tinha feito o Caminho de Santiago. Fizeram reserva para 20. Chegaram 99 caminhantes.

Desde então, cerca de 11 mil peregrinos já fizeram o percurso. Antes de iniciar a caminhada, em Santana do Paranaíba, os participantes acompanham uma palestra e recebem um guia. Aqui na Fazenda Milhã, organizamos um receptivo com água e maçãs assim que se aproximam da área verde da represa. E durante todo o que passam conosco procuramos animá-los com mensagens motivacionais. Foi e é um desafio e tanto”, diz Christina.faz3

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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