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Fotógrafo argentino retrata o efeito devastador dos agrotóxicos

Fotógrafo argentino retrata o efeito devastador dos agrotóxicos

Fotógrafo argentino retrata o efeito devastador dos

Atrofia muscular, câncer, mutações genéticas, hidrocefalia e retardo mental são algumas das condições que afetam e adultos nas províncias de Misiones, Entre Ríos e Chaco, na Argentina, onde o glifosato, herbicida comercializado pela Monsanto sob o nome comercial de Roundup, é utilizado em grande escala. No ensaio e documentário, o fotógrafo argentino Pablo Piovano, que trabalha no jornal Página 12, retrata o efeito devastador do uso indiscriminado de agroquímicos na agricultura…

Por Nadine Nascimento e Luiza Mançano/ via Mídia Ninja

O fotógrafo conta que a ideia para o surgiu em 2014, após ser apresentado a dados médicos sobre a contaminação de pessoas pela utilização de agrotóxicos. “Em 2005, aproximadamente, a Rede de Médicos do fez um encontro em que divulgaram dados contundentes, com números alarmantes, quase uma catástrofe sanitária na zona rural. Quando eu vi esses números e vi que os meios de eram cúmplices desse silêncio, decidi sair e documentar pra ver o que estava acontecendo”, relata.

De forma independente e com recursos próprios, ele partiu no final de 2014 para registrar os casos, percorrendo aproximadamente 15 mil quilômetros em sete viagens. Piovano foi motivado por sua “ideia romântica” de que a fotografia deve ser um instrumento de transformação. “Ao longo do , a que constrói a fotografia de denúncia sempre serve para produzir uma mudança”, acredita.

O fotógrafo diz que foi recebido de “portas abertas” nas mais de cem casas que visitou, pois os atingidos tinham a necessidade de narrar suas histórias. “A maioria das pessoas sabe porque os filhos nascem com má-formação. Em todas as fotos que tenho, há um testemunho dos pais dizendo que a má-formação dos seus filhos é causada pelos agrotóxicos”, lembra.

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Foto: Pablo Piovano

Território de experimentação

Em 1996, a Argentina faz um acordo com a Monsanto para o uso de sementes transgênicas e do glifosato em sua produção de , em um trâmite rápido “sem análise científica, sem avaliação de danos humanos”. A partir desse momento, o país se tornaria “um território de experimentação”, segundo o documentário.

Em duas décadas, 60% da área cultivável do país passou a ser ocupada por lavouras transgênicas que recebem, anualmente, mais de 300 milhões de litros de agrotóxicos. Os números estão diretamente relacionados com os casos de câncer e abortos espontâneos que triplicaram na Argentina nesse período.

O fotógrafo explica que a força dos grandes latifundiários que utilizam agrotóxicos e dos fabricantes desses produtos é muito grande, por isso o tema da contaminação não é pauta na imprensa tradicional do país, apenas em veículos independentes. “O motivo é simples: os donos dos meios são latifundiários, que têm poder político. Estamos falando de um negócio muito grande, que no fundo e no centro está o controle alimentar, a soberania alimentar, o que não é pouca coisa”.

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Mapa das cinco viagens realizadas entre 2014 e 2017 às províncias de Entre Ríos, Misiones, Chaco, Córdoba e Santa Fe. Indo e voltando, o fotógrafo Pablo E. Piovano percorreu aproximadamente 15.000 quilômetros.

Confira o ensaio completo

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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