Emir Sader: Detrator, com muito orgulho

EMIR SADER: DETRATOR, COM MUITO ORGULHO

Emir Sader: Detrator, com muito orgulho

“O que eles não sabem é que os seus detratores não são apenas os que estamos na lista, mas somos milhões”, afirma Emir Sader. Sobre esta na lista de “detratores” do governo Bolsonaro, ele diz: “Não direi que é uma honra, porque dessa gente não pode vir nada que tenha a ver com honra”

A ditadura fazia listas, tinham também cartazes de rua, onde o rosto da gente estava estampado, como procurados, subversivos, que colocavam em risco a ordem pública. Eram governos do terror, porque prisão significava tortura e morte.

Agora o governo lança uma lista dos influenciadores, positivos e negativos, do ponto de vista do governo, ou do ministro da Economia, Paulo Guedes, que encomendou 2.700.000 reais para uma empresa fazer a lista. A empresa, que levou a grana do governo, leva o nome de BR+ comunicação, que usa o lema “Comunicar para melhorar o mundo”.

Afirma que “um cidadão bem informado e ciente de seu papel na sociedade é, potencialmente, um transformador”.  A essa empresa se dirigiu a Paulo Guedes, certamente mandando lista de transformadores, para o bem ou para o mal do governo, para que fizessem o dossiê dos personagens.

Eu fui contemplado, mais uma vez, para fazer parte dessas listas. A empresa estabeleceu um  perfil meu, um histórico profissional, meu vínculo acadêmico atual, e mencionou um livro anterior meu “A vingança da historia”. Há também minha catalogação como “Filósofo/Professor de Sociologia/Cientista Político/Colunista do Portal Brasil 247”. Em seguida, meu Twitter e meu Facebook, com os seguidores em cada um deles.

Sobre o que qualificam como meu “Posicionamento e assunto sensíveis (sic) relacionados”:

“Crítico do governo Bolsonaro

Questionou quem poderia sair primeiro do governo Bolsonaro. Centrão, militares ou ministro Paulo Guedes.

Critica postura do ministro do (sic) Paulo Guedes em relação à crise que se forma na pandemia.

Critica a preocupação do ministro com as reformas e não nas demandas urgentes surgidas na pandemia.

Acredita que as falas polêmicas do ministro Guedes não receberam o destaque merecido.”

Ao final, parece ser uma postura que se deveria ter em relação ao detrator mencionado:

“Recomendação de ação de relacionamento e de distribuição de informação personalizada. (?)

Monitoramento preventivo das publicações do influenciador.

A partir dos posts que fizer sobre economia, monitorar se há debate equivocado  e publicar posts que esclareçam de forma indireta essas mensagens.”

Não direi que é uma honra, porque dessa gente não pode vir nada que tenha a ver com honra. É, pelo menos, o reconhecimento de que o que se faz os incomoda, que eles reconhecem quem os perturba, com quem eles se preocupam.

Detrator, com muito orgulho. Quem, com um mínimo de dignidade, não se torna detrator de um governo como esse, que tem um ministro da Economia como esse? O que eles não sabem é que os seus detratores não são apenas os que estamos na lista, mas somos milhões, que um dia conseguiremos terminar com esse governo e com essas listas.

Emir Sader é filósofo e Conselheiro Editorial da Xapuri

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p style=”text-align: justify;”>Fonte: Brasil 247

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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