Frango com ora-pro-nóbis: Delícia gastronômica da Serra do Cipó

Encontro o ora-pro-nóbis no mais profundo do meu imaginário. Nos quintais biodiversos das minhas avós mineiras, tinha sempre um pé de ora-pro-nóbis esgarranchado em alguma cerca antiga. Mas foi na Serra do Cipó, faz uns poucos anos, que comi pela primeira vez um frango caipira com ora-pro-nóbis.

O amigo Ailton Krenak foi quem deu a dica: “Você não pode sair daqui sem comer um frango com ora-pro-nóbis, que a gente faz com a folha dessa plantinha boa e nutritiva, ótima pra saúde”.  O frango veio suculento, em panela de ferro, acompanhado de arroz branco e angu de fubá. Uma delícia!

Voltei da Serra do Cipó com a receita do frango com ora-pro-nóbis (compartilhada aqui) e com uma curiosidade danada sobre essa plantinha rústica, comum nas quebradas das Gerais, muito conhecida nas zonas rurais como remédio sagrado, por seu elevado teor de vitamina C, que supera a laranja em 4 vezes, e por seu alto teor proteico (25% de sua composição), também conhecido como o “bife dos pobres.”

Pesquisando, descobri que os princípios ativos da ora-pro-nóbis são eficientes para o tratamento das doenças de origem inflamatória, gastrointestinais, circulatórias, segundo estudo da Universidade de Lavras.  O site http://www.mundoboaforma.com.br traz uma lista dos benefícios da ora-pro-nóbis:

  • Seu alto teor de fibras ajuda no processo digestivo e intestinal, promovendo saciedade, facilitando o fluxo alimentar pelo interior das paredes intestinais, além de ajudar a recompor toda a flora intestinal. Isso evita os estados de constipação, prisão de ventre, formação de pólipos, hemorroidas e até tumores;
  • Pessoas com anemia deverão passar a utilizá-la com mais frequência, pois os índices de ferro são essenciais para o tratamento desse quadro; As grávidas deveriam consumir ora-pro-nóbis, pois ela é rica em ácido fólico, essencial para evitar problemas para o bebê;
  • O chá, feito a partir de suas folhas, tem excelente função depurativa, sendo indicado para processos inflamatórios, como cistite e úlceras; Esse poder depurativo associado ao chá também está ligado ao tratamento e prevenção de varizes;
  • A alta concentração de vitamina C ajuda a fortalecer o sistema imunológico, evitando uma série de oportunistas; Ótima para a pele, devido à presença de vitamina A (retinol) em grande quantidade; O retinol também é fundamental para manter a integridade da visão em dia;
  • Mantém ossos e dentes fortalecidos, pela boa quantidade de cálcio.

FRANGO COM ORA-PRO-NÓBIS

INGREDIENTES

1 frango caipira cortado em pedaçosfran3

1 cebola grande, 3 tomates maduros

2 dentes de alho, 1 ramo de orégano fresco, 3 folhas de louro

1/2 pimenta dedo-de-moça, picada sem sementes

40 folhas de ora-pro-nóbis (porque o tamanho do maço varia muito)

100g de banha de porco

2 colheres de sopa de salsinha e cebolinha picadas

1 limão, 1 colher de sopa de vinagre

Sal a gosto

 

PREPARO

Coloque os pedaços de frango para fritar na banha de porco, até que que fique bem dourado. Retire o frango dourado da panela e, na mesma banha, doure o alho, a cebola, a pimenta e os tomates por mais cinco minutos.  Bote o frango de novo na panela, junto como o orégano e o louro, cubra com bastante água e deixe ferver até a carne cozinhar. Quando estiver cozido ao seu gosto, inclua as folhas de ora-pro-nóbis, o limão, a salsinha e a cebolinha, mexa com cuidado para que o ora-pro-nóbis não fique babento, deixe descansar por uns cinco minutos e leve pra mesa, acompanhado de arroz, feijão e angu.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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