FUNAI promove Pandemia anti-indígena

FUNAI promove Pandemia anti-indígena

Pandemia anti-indígena: Funai atua contra os direitos territoriais e anula  Indígena

PANDEMIA ANTI-INDÍGENA: FUNAI ATUA CONTRA OS DIREITOS TERRITORIAIS GUARANI E ANULA TERRA INDÍGENA

Em meio à sanitária associada ao coronavírus, a gravidade de outros acontecimentos tende a ficar obscurecida. Não é possível, no entanto, deixar de externar o sentimento de indignação e vergonha com que a Indigenistas Associados (INA), associação de servidores da , recebe a Portaria no 418, de 17 de março de 2020, que anula o processo administrativo de identificação e delimitação da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, de ocupação tradicional do indígena Avá-Guarani, localizada nos municípios de Altônia, Guaíra e Terra Roxa, do Paraná.

Publicada na edição de hoje (26/03/2020) do Diário Oficial da União, a Portaria da Funai responde a uma sentença judicial de primeira instância que de fato contraria o direito territorial Guarani na região paranaense de Guasu Guavirá. É evidente, porém, que se a Funai estivesse cumprindo sua missão institucional – proteger e promover direitos – jamais atuaria como adversária do interesse Guarani.

Em vista da decisão judicial, restaria à Funai paralisar as etapas do processo subsequentes à delimitação. Mas sua anulação, quando se está longe do trânsito em julgado, foi um ato inteiramente voluntário por parte da Funai, e inclusive sem qualquer sustentação de ordem técnica. Ao abdicar de recorrer contra a decisão em instância judicial superior, a autarquia se mostra despudoradamente ao lado das partes contrárias ao direito territorial indígena garantido pela , configurando escancarado conflito de interesse.

O Parecer de Força Executória da Advocacia Geral da União à Funai em que se baseia a Portaria NÃO recomenda a anulação do procedimento demarcatório, mas tão somente sua Suspensão em vista da decisão judicial de 17 de fevereiro de 2020. Em seus próprios termos:

[…] cabe destacar a necessidade de cumprimento da tutela de urgência, a qual foi deferida nos seguintes termos:
“3. Dispositivo
“Ante o exposto:
“(a) defiro a tutela de urgência requerida pelo Município de Guaíra, para determinar que a FUNAI se abstenha (suspenda) de praticar qualquer ato, interno ou externo, relacionado à identificação e de terras indígenas na região do Município de Guaíra, instaurado pelas Portarias ns. 136/PRES, de 06/02/2009 e n. 139/PRES, de 17/02/2014, sob pena da incidência de multa diária em face da FUNAI no valor de R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais), enquanto perdurar o descumprimento;”
Destarte, a FUNAI deverá SUSPENDER a prática de qualquer ato interno ou externo, relacionado à identificação e demarcação de terras indígenas na região do Município de Guaíra, instaurado pelas Portarias ns. 136/PRES, de 06/02/2009 e n. 139/PRES, de 17/02/2014.
Para tanto, deverá ser publicada nova PORTARIA pelo presidente da FUNAI determinando a suspensão dos atos.

A tentativa de jogar uma pá de cal sobre a longa de luta dos Guarani de Guasu Guavirá configura novo capítulo da presente operação de corrosão por dentro da entidade indigenista do governo federal. Um capítulo especialmente indignante e vergonhoso, reitere-se, para quem nela trabalha em conformidade com a lei.

26 de março de 2020

INDIGENISTAS ASSOCIADOS

Fonte: Nota Pública da INA

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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