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Conheça os espécimens da boiada

Conheça os espécimens da boiada

Via Jair Ferreira no Facebook 

Gado gospel: é aquele sujeito fanático por religião, aquele que de dez palavras, sete são Deus, Jesus ou o presidente, para eles essa é a santíssima trindade. Este tipo de gado acredita piamente que, aquele que não mencionamos, é um enviado de Deus à Terra, o Messias, aquele que acabará com todos os sofrimentos e garantirá a vida eterna.

Gado pitty bull: é aquele marombado, só anda de regata, garrafinha na mão e nunca leu um livro. Sempre teve ódio de tudo, não gosta de ninguém, tem vontade de bater em todos. Aí apareceu um candidato falando tudo o que sempre quiseram ouvir.

Gado viúva da ditadura: São senhores e senhoras que passaram os melhores momentos de sua juventude durante a ditadura e acreditam que aquela alegria se deve aos militares. Foram educados aprendendo sobre os “Grandes vultos do ”, todos militares, claro. Em suma, são aqueles que foram doutrinados durante a ditadura e, é aquilo, domesticou o bezerro, vai ser gado a vida toda!

Gado empresário: eu divido este tipo de gado em duas espécies: 1) o gado empresário “grandes empresas”; e 2) o gado empresário “pequenos negócios”. O gado empresário “grandes empresas” é esperto, ele sabe que lucra com o governo do Helenão, sabe que os perdem direitos, trabalham mais e que não terão de honrar com suas dívidas. Banqueiros, megacomerciantes, donos de redes de restaurantes e especuladores estão neste tipo de gado. O gado empresário “pequenos negócios” acredita mesmo que é um gado “grandes empresas”, é tipo uma de identidade. Este tipo de gado não entende que, quando a renda do trabalhador piora, seu pequeno negócio também piora.

Gado negacionista: representada uma grande parte do gado, ele acredita que a China criou o vírus como arma, ele acredita que a Terra é plana, não acredita no , acredita que a é um plano da “esquerda globalista”, em suma, se forma através do Olavo de Carvalho e WhatsApp. Ah, com esse gado não tem discussão, eles sabem de uma verdade que só eles sabem, nós é que somos loucos.

Gado nacionalista: tudo dele é verde e amarelo, as dele é verde e amarelo, seu carro tem bandeira, sua cueca é verde e amarela, todo post que faz é sobre exaltar a , a bandeira nacional e “O Brasil acima de todos!”. Não gosta de samba, não gosta de pobre, não toma caipirinha, odeia capoeira, mas ama uma estátua da , algumas vezes coloca uma na fachada da sua loja. Mas todos nós sabemos que o sonho deste tipo de gado é morar nos .

Gado enrustido: é aquele gado paz e , se diz apartidário, que é isentão e coisa e tal. Compartilha imagens de animais abandonados, vaquinhas virtuais para as quais nunca contribui, mensagens motivacionais e coisa do tipo. Mas, de vez em quando, ele dá uma escorregada e a pata e o rabo de gado aparecem.

Gado híbrido: é o gado que mistura mais de um tipo de gado. Tem gado híbrido que mistura todas as características anteriores.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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