Ecos do Grande Sertão Veredas

Ecos do Grande Sertão Veredas

Ecos do Grande Sertão Veredas 

“Digo que fui, digo que gostei. À passeata forte, pronta comida, bons repousos, companheiragem. O teor da gente se distraía bem”.- João Guimarães Rosa

Inspirada na obra de Guimarães Rosa, um grupo de cerca de 70 pessoas realizou, em 2014, uma travessia sócio-eco-literária no universo de Rosa e no sertão de Minas Gerais.

Denominada “O Caminho do Sertão – De Sagarana ao Grande Sertão Veredas”, a caminhada se repete em julho de 2015, com cerca de 50 participantes, que seguirão pelo sertão em busca da troca de experiências e dos saberes das comunidades geraiseiras.

A travessia parte do vilarejo de Sagarana (Arinos-MG) até o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, localizado na cidade de Chapada Gaúcha, perto da divisa com a e o Goiás.

Quem participa do percorre parte do caminho realizado por Riobaldo, personagem central do Grande Sertão: Veredas, rumo ao Liso do Sussuarão, conhecendo paisagens naturais, folias de reis, histórias, tradições e memórias

Ecos do Grande Sertão Veredas

“Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.”
[Rosa]

Em 2016, foram selecionados 70 caminhantes entre 270 inscrições. Segundo a organização:

” A mudança na quantidade de selecionados nasce de um esforço por contemplar sonhos, projetos e desejos de adentrar o Ser-Tao. Soma-se uma demanda relacionada ao tempo, visando agilizar os próximos passos de caminhantes e equipe de produção, adicionamos (conforme experiências passadas) um número que equalizará os possíveis desistentes. Sendo assim, não haverá lista de excedentes, o resultado fica em caráter único.

Nos alegra ver tamanha diversidade e riqueza nas motivações, habilidades e competências de cada uma das inscritas e inscritos neste Edi-Tao. Pessoas de várias partes do e , realizadoras de vários ofícios e realidades, unidas aqui pelo desejo de ser-tão no sertão!

(…)

A proposta do Caminho é se tornar uma rota permanente de turismo ecocultural e literário de base comunitária, contemplando a todos e todas que queiram mergulhar nas veredas dos gerais.

Desde 2014, O Caminho do Sertão segue sendo pensado coletivamente e colaborativamente pela equipe proponente e pel@s antig@s caminhantes. Todos os esforços se somam para a organização não apenas desta, mas das edições futuras e de tantas outras ações que brotam desse grupo que só cresce!

Pelo Cerrado e suas culturas, de pé! Bem-vind@ a ser-tão!”

Para saber mais:
ocaminhodosertao
ou http://www.facebook.com/caminhodosertao

Obs.: publicado originalmente em 11 de jul de 2015 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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