Ação terá efeito devastador para as áreas de conservação e na floresta habitada por indígenas e extrativistas por séculos.
Quando os conquistadores espanhóis começaram a desbravar a floresta amazônica, eles acreditaram estarem vendo terra virgem, nunca tocada pelo ser humano. Aparentemente, não prestaram muita atenção nos povos morando ao longo do rio.
Hoje, em pleno século XXI, as coisas não são muito diferentes. Essa visão perdura, especialmente nos que detém o poder, mesmo que usurpado, na pátria brasileira. Como consequência, até as áreas de conservação, duramente conquistadas ao longo de décadas, correm, agora, o risco de serem desmatadas, dessa dez não por grileiros, mas pelo próprio governo brasileiro.
Um abrangente estudo internacional das espécies de árvores na Amazônia, publicado na revista Science, revela que árvores domesticadas – gerenciadas, utilizadas e mantidas – por povos indígenas dominaram grandes áreas na selva desde muito antes de 1492.
Infelizmente, o presidente Michel Temer, e seu ministro-licenciado da Casa Civil, Eliseu Padilha (acusado, ele mesmo, de ter ordenado o desmatamento de 700 hectares de floresta protegida no Mato Grosso), estão considerando uma proposta para por um fim à proteção de uma área de um milhão de hectares de floresta Amazônica, potencialmente colocando em risco as árvores, a biodiversidade, a vida dos povos da floresta e a própria saúde do planeta Terra.
Dados atuais mostram que, de 2012 a 2015, o desmatamento no Brasil acelerou, aumentando por 75%. As áreas de conservação protegidas de floresta que o Presidente se propõe liberar para a exploração, as , encontram-se no estado do Amazonas.
“O Amazonas concentra a maior área contínua de floresta amazônica” diz Cristiane Mazzetti, do Greenpeace . Para Mazetti, as Áreas de Conservação em questão “são barreiras importantíssimas por estarem impedindo a expansão da grilagem e da atividade ilegal de desmatamento no arco sul da floresta.
A floresta exerce a função de proteção. Muitos das 85 espécies de árvores domesticadas estudadas por ecologistas como o cacauzeiro, açaizeiro e castanheiro, são hoje de fundamental importância para a subsistência dos povos da floresta.
Depois de analisar 1000 catálogos de árvores encontradas pela bacia Amazônica, uma equipe de ecologistas observaram que estes árvores domesticados eram cinco vezes mais presentes na mata do que suas versões não domesticadas.
“Isso invalida o mito antigo da ‘Amazônia vazia’,” afirma o ecólogo e coautor do estudo, Charles Clement do INPA. O estudo confirma que até as áreas hoje consideradas vazias de habitação humana ainda contém sinais da existência dos povos da floresta há séculos e milênios atrás.
De qualquer maneira, logo essas pegadas poderão ser apagadas pela ganância e pela ação política do próprio governo brasileiro. Apenas no estado de Amazonas, em 2016, o desmatamento aumentou 54% em relação ao ano anterior. “O desmatamento voltou a aumentar. Em vez de tomar ações para combater isso, o governo está fornecendo incentivos para o desmatamento aumentar” disse Mazzeti.
ANOTE AÍ:
— Essa matéria foi originalmente publicada em inglês pelo site Motherboard (com edições)