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GRALHA-CANCÃ: NO CERRADO TEM, TAMBÉM! Zezé Weiss

GRALHA-CANCÃ: NO CERRADO TEM, TAMBÉM!

GRALHA-CANCÃ: NO CERRADO TEM, TAMBÉM!

Ver, eu nunca tinha visto. Mas meu filho Eduardo diz que essa lindeza da natureza chega por aqui todo ano, por essas épocas, pra fazer ninho nas mangueiras do quintal. 

Por Zezé Weiss

A que deu as caras essa semana estava mesmo catando ramos em uma moita antiga de orquídea da super pupunheira amarela, que eu trouxe muda miúda lá do Acre, mas que hoje é palmeira grande, para fazer seu ninho. 

Só que o bem-te-vi, esse ciumento, achando que o território é só dele, deu bicada a tarde inteira, até que a passarinha resolveu dar um tempo, foi pousar em outra árvore, longe do abusado. 

No dia seguinte, lá estava ela, renitente, catando os mesmos ramos, provavelmente para seguir na construção do mesmo ninho, na mesma árvore que escolheu pra botar e chocar seus três ovinhos, por duas semanas e meia. 

Resolvi, então, dar uma googlada para saber mais sobre a nova vizinha. Descobri que ela é uma ave endêmica do Brasil, conhecida por gralha-cancã, cancão, cancão de fogo, quem-quem, ou gaio-de-nuca-branca, e que, mesmo sendo muito mais vista na Caatinga, gosta de morar no Cerrado também.

Embora seja uma ave típica do Nordeste, por conta do desmatamento, ela vem se espalhando por outras áreas brasileiras, já foi vista no Espírito Santo, no Rio de Janeiro, em São Paulo, e até aqui em casa, na região metropolitana de Brasília. 

O povo daqui que a conhece me diz, em sua dieta, a cancã ama e prefere o fruto do mandacaru, mas que, na falta do suculento, ela se vira comendo insetos, pequenas cobras e até ração de galinha. 

Gostei muito de saber que dona cancã é uma ave muito inteligente e esperta, que tem um voo acrobático e que, por ser muito curiosa e barulhenta, fica sempre na espreita e, descobrindo qualquer coisa estranha, faz uma zueira danada, sendo por isso conhecida como a “Voz da Caatinga”. 

Boas-vindas, gralha-cancã! Vou ficar de olho no bem-te-vi pra ele não importunar os seus filhotes!

zezeZezé Weiss Jornalista. Editora da Revista Xapuri.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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