GRALHA-CANCÃ: NO CERRADO TEM, TAMBÉM!
Ver, eu nunca tinha visto. Mas meu filho Eduardo diz que essa lindeza da natureza chega por aqui todo ano, por essas épocas, pra fazer ninho nas mangueiras do quintal.
Por Zezé Weiss
A que deu as caras essa semana estava mesmo catando ramos em uma moita antiga de orquídea da super pupunheira amarela, que eu trouxe muda miúda lá do Acre, mas que hoje é palmeira grande, para fazer seu ninho.
Só que o bem-te-vi, esse ciumento, achando que o território é só dele, deu bicada a tarde inteira, até que a passarinha resolveu dar um tempo, foi pousar em outra árvore, longe do abusado.
No dia seguinte, lá estava ela, renitente, catando os mesmos ramos, provavelmente para seguir na construção do mesmo ninho, na mesma árvore que escolheu pra botar e chocar seus três ovinhos, por duas semanas e meia.
Resolvi, então, dar uma googlada para saber mais sobre a nova vizinha. Descobri que ela é uma ave endêmica do Brasil, conhecida por gralha-cancã, cancão, cancão de fogo, quem-quem, ou gaio-de-nuca-branca, e que, mesmo sendo muito mais vista na Caatinga, gosta de morar no Cerrado também.
Embora seja uma ave típica do Nordeste, por conta do desmatamento, ela vem se espalhando por outras áreas brasileiras, já foi vista no Espírito Santo, no Rio de Janeiro, em São Paulo, e até aqui em casa, na região metropolitana de Brasília.
O povo daqui que a conhece me diz, em sua dieta, a cancã ama e prefere o fruto do mandacaru, mas que, na falta do suculento, ela se vira comendo insetos, pequenas cobras e até ração de galinha.
Gostei muito de saber que dona cancã é uma ave muito inteligente e esperta, que tem um voo acrobático e que, por ser muito curiosa e barulhenta, fica sempre na espreita e, descobrindo qualquer coisa estranha, faz uma zueira danada, sendo por isso conhecida como a “Voz da Caatinga”.
Boas-vindas, gralha-cancã! Vou ficar de olho no bem-te-vi pra ele não importunar os seus filhotes!
Zezé Weiss – Jornalista. Editora da Revista Xapuri.