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Guedes no paraíso fiscal e o povo passando fome

Guedes no paraíso fiscal e o povo passando fome

“É difícil imaginar que Paulo Guedes tenha como se defender no plenário da Câmara de Deputados, mais difícil ainda é o país continuar assim até o final de 2022”, avalia o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante

O descalabro do desgoverno Bolsonaro vai empurrando o para uma situação insustentável e dramática. Os retrocessos e desmontes envolvem todas as áreas do estado e o presidente da República segue tentando agir como se não fosse ele o principal responsável pelo abismo em que o país se encontra.

Na , além dos horrores que estão aparecendo nas investigações da CPI e dos mais de 600 mil mortos na pandemia, o governo segue defendendo o tratamento precoce com Cloroquina já completamente descartado pela medicina. O quarto ministro da saúde expôs o Brasil a um vexame global na ONU, ao relativizar junto com Bolsonaro a relevância da vacina e terminar contaminado, junto com outros membros da delegação brasileira.

No , temos um histórico de ministros mais comprometidos com a predação do que com a proteção dos nossos biomas, em meio a tragédia da devastação da e a indignação de um planeta exposto ao desequilíbrio climático promovido pelo aquecimento global.

O terceiro foi sem ter sido e o atual defende que a universidade deve ser para poucos, que crianças com deficiência prejudicam o ambiente escolar e agora está desmontando a Capes e comprometendo a pós-graduação.

Na ciência e tecnologia, temos um ministro vestido astronauta que vive no mundo da lua e assiste passivamente mais um corte devastador no orçamento da ciência.

E, na economia, temos um ministro que participou da imposição da agenda neoliberal da ditadura pinochetista, operador de mercado e que veio para ser um superministro. Por isso, centralizou os Ministérios da Fazenda, da Indústria e Comércio, do Planejamento, do e a Previdência e está apresentando os piores indicadores econômicos da história recente do país.

A recessão ameaça voltar, a inflação na casa dos dois dígitos, 20 milhões de desempregados, uma precarização sem precedentes no mundo do trabalho e a desindustrialização e a fuga de empresas do país seguem sem incomodar a agenda do ministerial. A prioridade é patrocinar uma pedalada fiscal de R$ 50 bilhões para 2022, mas segue defendendo o teto de gastos para o próximo governo, teto que nunca foi respeitado desde o golpe.

Guedes ainda tem o desplante de dizer que empresários deveriam ter vergonha de não pagar impostos no Brasil, que dólar alto é bom porque até empregada doméstica estava indo para Disney e que o Fies bancou até filho de porteiro nas universidades, enquanto tem uma fortuna em dólar em um paraíso fiscal. Mesmo modo operacional do presidente do Banco Central, um escárnio!

Paraísos fiscais são esconderijos do dinheiro, instrumentos de lavagem e mecanismo de sonegação fiscal. A estimativa é de que exista US$ 36 trilhões em depósitos em paraísos fiscais e a perda de em tributos é avaliada em US$ 900 bilhões por ano.

Na crise de 2009, houve um forte movimento para acabar com os paraísos fiscais e nada foi feito. Agora, há uma importante articulação que reúne 140 países, para a criação de uma tributação mínima obrigatória para qualquer empresa em qualquer lugar do mundo. Este é um importante mecanismo para proteção das economias nacionais e de controle da evasão fiscal.

Além disso, essa fortuna no estrangeiro não gera investimento, renda ou desenvolvimento do país, o que mostra uma relação de desconfiança do ministro com a sua própria econômica.

Enquanto isso, o povo vai vivendo o inferno da carestia, da fome e da miséria. No país que é o maior produtor e exportador de carne do planeta, o povo pobre, depois de abandonar a carne, o frango e o ovo, disputa um pedaço de osso, um pé de galinha ou uma carcaça de peixe.

É difícil imaginar que Paulo Guedes tenha como se defender no plenário da Câmara de Deputados, mais difícil ainda é o país continuar assim até o final de 2022.

Aloizio Mercadante é economista, licenciado da PUC-SP e Unicamp, foi Deputado Federal e Senador pelo PT (SP), Ministro Chefe da Casa Civil, Ministro da Educação e Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. Matéria publicada originalmente no 247. Capa: Meme da Internet. 

Paulo Guedes
Paulo Guedes (Foto: Reuters/Adriano Machado | Reprodução)
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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