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IASI E SCAPI: GIGANTES E MOINHOS

IASI E SCAPI: GIGANTES E MOINHOS

Gigantes e Moinhos

Por Mauro Iasi e Luiz Scapi

São gigantes!
São moinhos,
são só moinhos!

Rocinante
avança sob o tropel
de cascos
trôpegos.

São caminhos!
São moinhos.

Rocinante
de quadros e massas
vanguarda das cavalarias
força tarefa:
Príncipe Moderno.

Contra o que se atira,
delirante figura
sob estranha cavalgadura?
Não vê que são moinhos?

Cavaleiro alucinado, vê damas
em simples estalajadeiras
pensa ver senhores
em deserdados pastores,
vê gigantes
em pacíficos moinhos.

Delírio de malária:
são moinhos!

Chama da paixão:
são caminhos
inteiros
humanos
tangíveis,
não estrada
de atalhos fáceis:
aparências.

De onde tirastes a ideia
de cavalaria andante?
Ao invés da calma do lar
enfrentas gigantes!

Não vês
como devoram teu ar,
como rasgam teu tempo
em açoites de crime?

Redemoinhos
Reles moinhos…
Não vês… lutas
Sozinho.

Frágil
empunho
um breviário
igualitário.

Visceral luta
contra a propriedade
de coisas
e gentes.

Ao ataque!
o sol nascente
tinge as nuvens:
nosso estandarte móvel.

São moinhos
só moinhos

Rodopiam
embriagam
feito efeito
de vinho

Por que lutas?
Por que esforço tamanho,
eles já venceram.

Ao ataque!
Sobre as derrotas
Avançando.
Meio Marx,
meio Cervantes:
Che/Quixotes…

Talvez,
por não existirem
rebeldes como antes,
que como moinhos
ainda se disfarcem
aqueles letais
gigantes.

São moinhos!
São Gigantes!

Mas… agora?
Agora!

Mais Quixotes
mais amantes
mais mortais
e delirantes.
São só moinhos!
São apenas gigante!

Fonte: Libânio Neto

Mauro Luís Iasi é um pesquisador, historiador, sociólogo, político e professor universitário brasileiro, filiado ao Partido Comunista Brasileiro. É também poeta com diversos poemas publicados, incluindo uma coletânea deles intitulada Meta amor fases. (Fonte: Wikipedia)

Luiz Scapi é Professor Operário 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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