Indígenas e pesquisadores unem forças e trocam saberes pela conservação de primatas
Expedição conjunta de ICMBio, UFMT e Instituto Ecótono na Terra Indígena do Xingu promove intercâmbio com indígenas da etnia Ikpeng e elabora diagnóstico dos primatas.
Por Duda Menegassi/O Eco
Pesquisadores do ICMBio, da Universidade Federal de Mato Grosso e do Instituto Ecótono foram a campo no Território Indígena do Xingu, em Mato Grosso, para um trabalho conjunto com os indígenas, com ênfase na conservação dos primatas. Entre os dias 18 e 31 de julho, a expedição promoveu a capacitação dos moradores locais das aldeias Moygy e Arayo, e da etnia Ikpeng sobre métodos de monitoramento e coleta de dados de mamíferos e aves, além de uma troca de saberes em parceria com a escola indígena Amuré. De forma colaborativa, também foram selecionadas as áreas para implantação de trilhas de monitoramento de animais.
Uma das espécies-alvo no Território Indígena do Xingu é o macaco-aranha-da-cara-branca (Ateles marginatus) que ocorre nos estados do Pará e Mato Grosso, atualmente Em Perigo de extinção. O primata possui um importante papel cultural e alimentar para os povos xinguanos. O intercâmbio entre pesquisadores e indígenas faz parte de um esforço pioneiro para a construção de um plano de manejo e monitoramento colaborativo de caça.
“Os povos do Xingu dependem de macacos para se alimentar e a caça é ritualizada. Se os macacos desaparecem, eles perdem parte da sua cultura”, reforça o primatólogo Gustavo Canale, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Além do macaco-aranha-da-cara-branca, há outras duas espécies de primatas ameaçados na Terra Indígena do Xingu: o guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta discolor) e o cuxiú-marrom (Chiropotes utahickae).
A expedição foi realizada pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), do ICMBio, e faz parte do Projeto Impactos de Incêndios Florestais sobre Primatas em Áreas Protegidas da Amazônia (PIFPAM). O projeto estuda nove espécies de primatas em seis áreas prioritárias situadas ao longo do Arco do Desmatamento. São elas a Reserva Biológica do Gurupi, o Parque Nacional do Juruena, a Floresta Nacional Jacundá, as Reservas Extrativistas Cazumbá-Iracema e Chico Mendes e o Território Indígena do Xingu. A iniciativa está vinculada às ações do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Primatas Amazônicos.
O objetivo do PIFPAM é avaliar os impactos dos incêndios florestais – muito frequentes no Arco do Desmatamento – nas populações de primatas e, com essas informações, orientar a gestão das seis áreas protegidas, e as políticas públicas e ações de conservação e manejo das espécies.
O PIFPAM é desenvolvido pelo CPB/ICMBio em parceria com universidades (UFAC, UFMT, UFV), ONGs (Instituto Ecótono, MIB – Muriqui Instituto de Biodiversidade, Re:wild) e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT/ICMBio), sendo executado com recursos de parceiros e do próprio ICMBio.
Duda Menegassi – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Leandro Jerusalinsky – CPB/ICMBio.