“Índio quer mercado.” Foram essas as três primeiras palavras de uma reportagem publicada pela @folhadespaulo há quase 30 anos, em 1995. No texto, eram apresentados os primeiros passos de uma literatura escrita por autores indígenas, entre eles Daniel Munduruku (@danielmundurukuoficial) e Kaká Werá (@kaka_wera).
Por Comissão Pró-Índio de São Paulo/ via Daniel Munduruku
Décadas depois, quase tudo mudou. Já faz tempo que chamamos essas populações de indígenas. Tornou-se inimaginável usar uma caricatura linguística digna de filme dublado de faroeste na hora de se referir a esses povos, como se fossem incapazes de dominar perfeitamente o português.
E há anos guaranis, macuxis, mundurukus, yanomamis e outras etnias já são realidade no mercado editorial.
Uma nova geração de escritores e ilustradores indígenas começa a despontar e a lidar com outros desafios dentro da literatura indígena brasileira —como, por exemplo, encontrar maneiras de aumentar o protagonismo de autoras mulheres, ainda baixo, e ampliar as fronteiras para além do infantojuvenil, levando às livrarias também romances, contos, poesias, crônicas e ensaios.
“Eu faço uma curadoria para o Instituto Oceanos e já contabilizamos 156 autores indígenas no Brasil hoje”, afirma Kaká Werá, um dos pioneiros. Trudruá Dorrico (@trudruadorrico), indígena macuxi e organizadora do projeto Leia Mulheres Indígenas, faz uma provocação: “As pessoas sempre perguntam quantas mulheres você já leu. Mas quantas delas são indígenas?”.