Genoíno Inocente. Delúbio Inocente. Por 15 anos, vidas e lutas destruídas. Por quê?

Genoíno Inocente. Delúbio Inocente. Por 15 anos, vidas e lutas destruídas. Por quê?

 

Tardia, depois de 15 anos a justiça brasileira reconhece que José Genoino e Delúbio Soares, condenados e presos por crimes que não cometeram, são inocentes. Quem vai pagar pela estrago feito na vida deles e do PT?

Por Zezé Weiss
 

Em decisão tomada na última terça-feira, 18 de agosto, o Tribunal Regional Federal l da 1ª Região (TRF1), em , extinguiu as punições de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT,  e José Genoino Neto, à época presidente do PT. Depois de 15 anos de danos irreparáveis às suas vidas e ao PT, Genoino e Delúbio tiveram suas punições extintas por um simples motivo: não foi encontrada uma única prova contra eles.

 
Acusados por falsidade ideológica em Ação Penal gerada a partir do caso do Mensalão, em 2005, a decisão por inocentá-los, proferida, repito, 15 anos depois, jamais será capaz de reparar a dor da injustiça feita a essas duas lideranças históricas do Partido dos , que tiveram suas vidas estraçalhadas e suas reputações destruídas.

Genoino e Delúbio foram acusados de simular empréstimo junto ao Banco de (BMG). Jogado às feras da mídia e da burguesia, o PT sofreu grandes e irreparáveis danos. Parte grande desse dano não foi só para o PT, foi para toda a brasileira. Embalada na onda do antipetismo, parte dela apoiou o golpe contra a presidenta Dilma em 2016 e elegeu o traste que hoje nos desgoverna.

Delúbio classifica a decisão do TRF1 de uma grande “vitória ” para ele e para seu partido. “Com o decorrer do tempo, vou mostrando ao brasileiro que não cometi nenhum crime e que todas as acusações criminais a mim imputadas são derivadas da perseguição empresarial, midiática e dos setores conservadores contra o Democrático e Popular representado pelo PT e seus aliados,” afirma Delúbio.

Coração valente, para José Genoino não há tempo para ódios nem rancores, há, sim, muita disposição para seguir lutando para que outras injustiças, como a prisão em crime e sem provas de , também sejam extintas. ” Vamos em frente, companheira, porque, como dizia Dom Pedro Casaldáliga: Perder a Esperança? Nunca! Isso não quer dizer que não vamos lutar por todas as reparações a que temos direito,” afirmou Genoino à na tarde desta sexta-feira, 21 de agosto.

Haverá de chegar o momento em que outras lideranças petistas, também condenadas sem provas, como José Dirceu, João Vaccari Neto e Luiz Inácio Lula da também tenham suas punições extintas e suas reputações reparadas.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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