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JIQUITAIA: O MOLHO DE PIMENTA DO POVO BANIWA

Jiquitaia: O molho de pimenta do povo Baniwa

Pra quem nunca andou pelas bandas do Rio Içana, na fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, nem visitou as comunidades do Alto Rio Negro/Guainía, ou os centros urbanos de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos, no Estado do Amazonas,  territórios onde estão localizadas as aldeias do povo Baniwa, provavelmente a palavra jiquitaia remete apenas à famosa formiga lava-pés, ou formigas-de-fogo, cuja ferroada esquenta e arde, amedronta de tão dolorida…

Por Lúcia Resende

Pimenta Baniwa Arte Baniwa 2
Arte Baniwa/Medium

Mas jiquitaia é também um molho super picante, feito à base de pimentas, usado há milênios pelos Baniwa como proteção contra os maus espíritos, purificador de alimentos e antisséptico facial.

O molho é preparado com uma mistura de pimentas que, depois de secas ao sol, são piladas junto com sal e, algumas vezes, temperadas com molho de queijo.

O jeito de fazer é, teoricamente muito simples: basta colocar as pimentas, o sal e o molho ou água fervida em um pote e deixar curtir por alguns dias, ficando a jiquitaia pronta quando o pote for aberto e já não sair nenhum gás oriundo da mistura.

Mas o bom mesmo é comprar a jiquitaia das próprias comunidades indígenas.

Como? O site Arte Baniwa traz uma lista dos vários locais na Amazônia e fora dela onde se pode comprar a jiquitaia Baniwa.

Pimenta Baniwa Medium
Foto: Arte Baniwa/Medium

Lúcia Resende – Professora. Revisora voluntária da Revista Xapuri. 

Pimenta Baniwa isa
Foto: Arte Baniwa/Medium
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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