KIANDA: A SEREIA BANTO DE ANGOLA

KIANDA: A SEREIA BANTO DE ANGOLA

Kianda: a sereia banto de Angola

Angola reúne muitos e lendas devido a uma grande de culturas : o país junta pessoas com origens, línguas e costumes diferentes, o que faz a sua riqueza. Uma personagem mítica muito popular em Angola é a Kianda.

Quem é a Kianda ?

No dicionário quimbundo/português, a palavra quimbunda “kianda” significa um monstro fabuloso da mitologia, deus das águas que se pode traduzir pela palavra “sereia” no imaginário português. Na realidade a Kianda é uma personagem muito mais complicada que pode tomar muitas aparências e dissolver-se no mar.
É um ser sobrenatural que preside o império dos mares e dos rios, das e dos bosques.
Mais geralmente, a Kianda é uma divindade dotada de poderes sobrenaturais que pode fazer tanto o bem como o mal. Ela inspira o medo e o perigo mas também suscita o amor.
Cada meio aquático, cada curso de água, cada lagoa tem uma Kianda que toma o nome do rio ou do lago onde ela fica. Mas existe A Kianda, que é a sereia das sereias, a rainha de todas elas. É a mais poderosa, a mais amada, venerada e temida de todas. O é acerca dela.

Qual é a história da Kianda?

Conta-se que a Kianda vivia perto da Praia do Bispo, em Luanda. Um dia, viu um homem pobre e triste que andava sozinho à beira-mar. Num ato de bondade ela ofereceu-lhe o acesso a um tesouro escondido que só ela conhecia. O homem enriqueceu logo e ao mesmo tempo que ele enriquecia tornou-se egoísta e ganancioso, só usava o dinheiro para o seu próprio interesse.
 
A Kianda, que ia observando o homem, ficou decepcionada com o que viu e decidiu dar-lhe uma lição, fazendo desaparecer o tesouro e deixando o pescador sem nada dum dia para o outro.
 
Por vezes, também dizem que a Kianda enfeitiçava o homem, retendo-o prisioneiro no fundo do mar para sempre.

Algumas representações da Kianda

Várias telas representam a Kianda com uma forma de sereia.
Por exemplo “A felicidade da Kianda” de um pintor amador angolano, Admario Costa Lima. Aqui a Kianda está gravida e é por isso que ela está feliz.
Outro exemplo é uma tela que se titula “Oferendas para a Kianda” de George Gumbe. O pintor representa-se pintado na tela no meio de animais terrestres ou marítimos, o que pode significar que ele também é uma oferenda para a divindade.
Existe também uma escultura no porto de Lobito no sul de Angola que representa uma sereia e que pode fazer pensar na Kianda.

Qual é a importância da Kianda em Angola?

O povo angolano respeita imensamente a Kianda e cada ano é celebrado um ritual de adoração para ela. Em Luanda, a festa decorre no início de novembro. As pessoas trazem comida para fazer um banquete e cantam e dançam ao mesmo tempo. Depois há uma procissão no mar e a comida é deitada para o mar enquanto se toca o batuque para satisfazer a Kianda.
Mas a lenda da Kianda não vive só na oralidade. Pepetela, um escritor angolano que ganhou o prêmio Camões em 1997, escreveu e publicou em 1995 um romance chamado “O desejo de Kianda” que trata do assunto.
A história ocorre em Kinaxixi, perto de Luanda. Os prédios do bairro estão todos a cair uns após os outros e ninguém percebe porquê, pois ninguém fica ferido na queda dos edifícios que caem lentamente para o chão. Os cientistas declaram que a água foi toda retirada do cimento que segurava o prédio, provocando a queda, mas ninguém sabe como nem porquê.
A resposta a esta pergunta é dada por Cassandra, uma rapariga que consegue ouvir uma voz que vem das águas de uma poça perto dos prédios, e ao longo do descobrimos que é a voz da Kianda, e que é ela a responsável pela destruição dos edifícios.
 
A razão é que o bairro foi construído em cima de uma lagoa onde ela morava antigamente e ela está à procura de uma maneira de recuperar o seu bem, por isso ela começou a cantar e os prédios foram caindo um a um.
Esse era o desejo de Kianda.
Para concluir, podemos dizer que Angola é um país cheio de mitos e histórias, curiosamente o próprio país se tornou um mito, pois agora muitos portugueses acreditam que se vão para Angola poderão enriquecer mais facilmente do que no próprio país.
Quem sabe se não encontrarão um dia o tesouro da Kianda ?
Fonte desta lendanossaavenidablog
Outro texto muito interessante sobre Kianda encontra-se na página Nossos Ancestrais, Nossos Ancestrais, no Facebook.
 
KIANDA: A SEREIA BANTO DE ANGOLA
Por dentro da África
 

Kianda, a Sereia Banto

Trecho do artigo de doutorado “A diáspora de Maria: relações sincréticas e culturais entre Nossa Senhora, Kianda e Nzuzu em O outro pé da sereia, de ” de Silvio Ruiz Paradiso.

Uma sereia negra – ao primeiro momento, uma ideia antitética, visto que nosso imaginário caracteriza este ser pela visão eurocêntrica, isto é, branca e loira.

A palavra sereia vem do grego Σειρiνας, e é justamente a partir da mitologia da Grécia Antiga que este ser, parte mulher e parte peixe, se espalhou para a e demais artes. A tradição diz que eram filhas do rio Aquelôo (Achelous) e de alguma das musas (JEHA, 2007, p.87).

Todavia, as sereias não estão destinadas a serem protagonistas apenas da mitologia européia. Na África, muitas são divindades aquáticas, cuja iconografia é de uma sereia.

Angola, por exemplo, possui suas sereias encantadas, poderosas, influindo para o bem e o mal, com a respeitosa ambivalência popular de amor e medo, como é o caso de Kianda (ou Quianda, por variação).

De angolana, Kianda aparece nas obras de grandes escritores, como Manuel Rui, com Rioseco e Um anel na areia; Mãe Materno Mar, de Boaventura Cardoso, em obras de Luandino Vieira, entre outras. Secco (2009, p.2) foca o romance O Desejo de Kianda, de Pepetela, “no qual a divindade é alegoricamente apropriada pelo discurso ficcional.

O maravilhoso invade a narrativa e o grito rebelde de Kianda ressoa na dimensão mítica e literária”. A sereia Kianda é relembrada e celebrada por várias partes de Angola, Congo, República Democrática do Congo etc.:
Quianda é a sereia marítima.

Vive nas águas salgadas ao redor de Luanda e por toda orla do Atlântico angolano. Sua velha morada era nos rochedos que circundam a fortaleza de São Miguel, entre o Marginal e a Praia do Bispo. Diante da cidade está a ilha de Luanda, Muazanga para os auxiluandas, seus nativos, ligados ao continente por uma larga ponte.

Quianda é aí culto antigo para os auxiluandas. Tem uma intérprete, sacerdotisa, devota profissional, a quilamba, açafata em suas festas […]. (SELJAN, 1967, p.32).

Kianda é o singular da palavra Ianda, ambas oriundas do verbo uanda, em quimbundo, sonhar. Secco revela que a deusa angolana das águas e da traz, desse modo, etimologicamente expressa em seu nome, a semântica dos sonhos, já que é função dessas divindades marinhas a comunicação com o ancestral dos antepassados (SECCO, 2009, p.6).

Dutra (2001), evocando o trabalho de pesquisa sobre as sereias africanas de Virgilio Coelho (1997), observa Kianda como a nomenclatura das sereias na região do rio Kwanzà, que banha a cidade de Luanda e avança em direção ao interior do país. À medida que o rio segue seu rumo, a denominação Kitútá fica mais evidente, enquanto Kixìmbí é o termo mais antigo (DUTRA, 2001, p. 135).

Porém, Seljan, baseada em Câmara Cascudo, vê Kitútá e Kixìmbí como outras classes de sereias. A Kitútá, moradora dos rios e lagoas, montes e matas, pode viver bem longe da população; já Kixìmbí, que pode ser masculina ou feminina, têm domínio nos rios e lagoas da região. (SELJAN, 1967, p.33).

A pesquisadora ainda continua, revelando que Kianda realmente é uma water genius (gênio da água), antiquíssimas entidades locais valendo como forças materializadoras do próprio elemento.

1 Do original banto Kyàndà. Há variações presentes nas citações, como Quianda. (Nota do autor do artigo.)
260 Uniletras, Ponta Grossa, v. 33, n. 2, p. 253-267, jul./dez. 2011 Professor Silvio Ruiz Paradiso.

KIANDA: A SEREIA BANTO DE ANGOLA
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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