Lágrimas Salgadas
Minhas lágrimas agora
São um riacho profundo
No meu rosto gélido.
As lágrimas caem tão salgadas!
E meus olhos ardem
No calor da dor.
Minhas lágrimas e as suas
São essencialmente uma flor.
Mas quanto sal nessas lágrimas!
E quantas são as lágrimas na dor,
No mundo inteiro, Senhor!
O homem reclama do isolamento
E talvez se arrependa do pecado.
O papa Francisco reza em clausura
Como jamais havia rezado.
Chora a criança dentro de casa,
Que se lembra da escola e do parque.
Mas todos choram agora:
Jovens, idosos e desesperados,
E não sabem da realidade.
O algoz não usa sequer uma bala,
Apenas com uma gotícula de saliva
Extermina milhares de pessoas.
Ele ri de todos nós na rua, na praça
E nos hospitais das cidades.
Veio da China, a galope de Wuhan.
Minhas lágrimas são salgadas,
E muitíssimo frias…
Como o beijo do vampiro da meia-noite.
Mas as lágrimas do povo
Do planeta Terra
Não são diferentes das minhas,
Pois delas nasceram um riacho
De muita salmoura lacrimal,
Que faz doer os ossos do corpo
De cada vítima da selvageria humana.
Minhas lágrimas que são límpidas
No meu rosto ríspido e flácido
Vão se ajuntando ao coração doente
Do povo do Brasil.
As lágrimas mancham o piso da casa
De meus hermanos
Com minúsculas pintinhas de sal e sangue.
Mas as lágrimas salgadas e brasileiras
São iguaizinhas às do resto do mundo.
Meu rosto é um riacho!
Eu me encontro sonâmbulo,
De mãos dadas com o mundo!
As lágrimas escorrem na cara,
E vão desenhando o esqueleto
Do vírus assassino.
De repente as letras sinalizam
O vocábulo das trevas de 2020,
E os olhos dos médicos brilham
Ante a pandemia do coronavírus.
Autor: Vanílson Reis.
Sobradinho-DF. 24.03.2020