Lampião vinga o Nordeste!

Lampião vinga o

Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Não deu certo no céu, não deu certo no inferno. Acabou vingando na Marquês de Sapucaí. “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida,” enredo  do carnavalesco Leandro Vieira sobre Lampião, deu à Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense a vitória no de 2023. 

Por Zezé Weiss

Arengueiro, com essa conquista, o  pé quente do Lampião não somente fez a festa para a comunidade de Ramos,  na Zona Norte do Rio de Janeiro, mas também botou vingança: vingou Janja,  vingou Lula, nascido no Nordeste, vingou o cordel, vingou a , e vingou todo o nordestino de todos os preconceitos sofridos, especialmente ao longo dos últimos quatro anos.  

Lula e Janja sofreram odientos ataques bolsonaristas pela visita que fizeram ao Complexo do Alemão, no bairro de Ramos, em outubro de 2022, durante a campanha eleitoral.  Na ocasião, Lula segurou e beijou uma bandeira da Imperatriz Leopoldinense, que fica nas imediações do conjunto de favelas do Alemão. Foi um suficiente para que as tropas bolsonaristas disparassem seus tanques de , não somente sobre Lula, mas também sobre Janja. Pois bem, Lampião deu o troco. 

Bom demais ver um enredo inspirado nos cordéis do Nordeste, no caso  A chegada de Lampião no infernoO grande que teve Lampião com São A chegada de Lampião no céu, de José Pacheco, levar a Imperatriz Leopoldinense (que não vencia um carnaval desde 2001) ao topo, pela nona vez em sua . Afinal, foi quase meia década de desdenho do governo anterior pela cultura, pelo Nordeste e pelo povo nordestino. 

“Eu me debruço na “peleja” inverossímil e delirante dos cordelistas que, após a morte do cangaceiro Virgulino Ferreira da , o famoso Lampião, transformaram em bem-humorado desvario ficcional o destino pós-morte do mítico e controverso personagem. Assim, são os velhos, anedóticos e populares cordéis [sobre Lampião] que servem de mote principal para o brasileiríssimo universo artístico desse mergulho”, postou o carnavalesco nas redes sociais. 

A Unidos do Viradouro, escola de Niterói, região metropolitana do Rio, ficou em segundo lugar. Em terceiro, fico a Unidos de Vila Isabel. Já a escola Império Serrano foi rebaixada para a Série Ouro. A Unidos do Porto da Pedra,   grande campeã da Série Ouro de 2023, volta à elite do samba depois de 12 anos e é ela quem ocupa o lugar da Império Serrano no Carnaval de 2024. 

Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Com informações da Escola de Samba da Imperatriz Leopoldinense, da Revista Fórum e da Agência Brasil. Imagem de Capa: Imperatriz/Divulgação. 

Imperatriz Fenando Frazao AB
Rio de Janeiro (RJ), 22/02/2023 – Integrantes da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial, comemoram título do Carnaval 2023 com troféu no sambódromo da Marquês de Sapucaí. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

SAMBA DA IMPERATRIZ 2023

Pelos cantos do , vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Pelos cantos do Sertão, vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Imperatriz veio contar para vocês
Uma história de assombrar
Tira sono mais de mês

Imperatriz veio contar para vocês
Uma história de assombrar
Tira sono mais de mês

Disse um cabra que nas bandas do Nordeste
Pilão deitado se achegava com o bando
Vinha no rifle de Corisco e Cansanção
Junto de Cirilo Antão, Virgulino no comando
Deus nos acuda, todo povo aperreado
A notícia corre céu e chão rachado
Rebuliço no olhar de um mamulengo
Era dia vinte e oito e lagrimava o sereno

E foi-se então, adeus, capitão!
No estouro do pipoco
Rola o quengo do caboclo
A sete palmos desse chão

E foi-se então, adeus, capitão!
No estouro do pipoco
Rola o quengo do caboclo
A sete palmos desse chão

Nos confins do submundo onde não existe inverno
Bandoleiro sem estrada pediu abrigo eterno
Atiçou o cão catraz, fez furdunço
E Satanás expulsou ele do inferno
O jagunço implorou um lugar no céu
Toda santaria se fez de bedel
Cabra macho excomungado de tocaia num balão
Nem rogando a Padim Ciço ele teve salvação

Pelos cantos do Sertão, vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Pelos cantos do Sertão, vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Imperatriz veio contar para vocês
Uma história de assombrar
Tira sono mais de mês

Imperatriz veio contar para vocês
Uma história de assombrar
Tira sono mais de mês

Disse um cabra que nas bandas do Nordeste
Pilão deitado se achegava com o bando
Vinha no rifle de Corisco e Cansanção
Junto de Cirilo Antão, Virgulino no comando
Deus nos acuda, todo povo aperreado
A notícia corre céu e chão rachado
Rebuliço no olhar de um mamulengo
Era dia vinte e oito e lagrimava o sereno

E foi-se então, adeus, capitão!
No estouro do pipoco
Rola o quengo do caboclo
A sete palmos desse chão

E foi-se então, adeus, capitão!
No estouro do pipoco
Rola o quengo do caboclo
A sete palmos desse chão

Nos confins do submundo onde não existe inverno
Bandoleiro sem estrada pediu abrigo eterno
Atiçou o cão catraz, fez furdunço
E Satanás expulsou ele do inferno
O jagunço implorou um lugar no céu
Toda santaria se fez de bedel
Cabra macho excomungado de tocaia num balão
Nem rogando a Padim Ciço ele teve salvação

Pelos cantos do Sertão, vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Pelos cantos do Sertão, vagueia, vagueia
Tal qual barro feito a mão misturado na areia

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Quando a sanfona chora, mandacaru aflora
Bate zabumba tocando no meu coração
Leopoldinense, cangaceira é minha escola
Eis o destino do valente Lampião!

Imperatriz veio contar para vocês
Uma história de assombrar
Tira sono mais de mês

Imperatriz veio contar para vocês
Uma história de assombrar
Tira sono mais de mês.

Composição: Antonio Crescente / Gabriel Coelho / Lucas Macedo / Luiz Brinquinho / Me Leva / Miguel da Imperatriz / Renne Barbosa
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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