Lenda Xavante: Estrelas são olhos de gente encantada …
Para o povo Xavante, “as estrelas são olhos de pessoas encantadas que, desde o céu, nos contemplam todas as noites”.
Por Zezé Weiss
Para o povo Xavante, que habita e protege uma bela porção de Cerrado na região leste do estado de Mato Grosso, as estrelas são olhos de pessoas encantadas que, desde o céu, nos contemplam todas as noites.
Conta a lenda que, certa noite, ao admirar o céu estrelado, um guerreiro Xavante viu uma estrela diferente, que piscava muito e, ao contrário das outras, parecia inquieta. De tanto admirá- la, o guerreiro se cansou e adormeceu.
Enquanto ele dormia, a estrela se transformou em uma linda jovem e desceu até a Terra para despertá-lo com afetos e olhares apaixonados. Em um instante, os dois se apaixonaram.
Como a moça-estrela precisava voltar aos céus, ela o convidou para acompanhá-la. O jovem Xavante quis saber como. Ao avistar uma frondosa palmeira, ela indicou: “Subamos até o alto desta palmeira. Ela crescerá, crescerá, e nos levará para os jardins do céu.”
Sentados sobre as folhas da palmeira, os dois chegaram à casa da estrela, onde os dois viveram felizes. Um tempo depois, saudoso, o guerreiro voltou ao convívio de seu povo. Porém, seu amor pela estrela era tanto que ele se despediu de todos e retornou para junto de sua amada companheira.
É por isso que, quando uma estrela pisca no céu, os Xavante dizem que é a estrela mandando o recado de que continua enamorada e feliz com seu guerreiro Xavante.
O Jovem e a Estrela – Lenda Xavante editada por Zezé Weiss, com base em informação de Juayhy e Via Fanzine
Os Xavante tornaram-se famosos no Brasil em fins da década de 1940, com a massiva campanha que o Estado Novo empreendeu para divulgar sua “Marcha para o Oeste”. A campanha promoveu a equipe do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) por seu trabalho de “pacificação dos Xavante.”
No entanto, o grupo local que foi “pacificado” pelo SPI em 1946 constituía apenas um dentre os diversos grupos xavante que habitavam o leste do Mato Grosso, região que o Estado brasileiro então procurava franquear à colonização e à expansão capitalista. Na versão Xavante, é importante notar, foram os “brancos” os “pacificados”.
De meados da década de 1940 a meados da de 60, grupos xavante específicos estabeleceram relações pacíficas diversificadas com representantes da sociedade envolvente – representantes diferenciados entre si, incluindo equipes do SPI, missionários católicos e protestantes.
Os agentes do contato e as maneiras como este se deu influenciaram os grupos xavante de distintos modos. Crenças e práticas religiosas, bem como algumas instituições sociais e práticas cerimoniais foram afetadas, em especial entre aqueles que travaram contato com missionários, sejam eles católicos ou evangélicos.
Apesar desses impactos, a Cultura Xavante continua a se manifestar com extrema vitalidade, sendo retransmitida de geração em geração através da língua e de inúmeros mecanismos sociais, cosmológicos e cerimoniais.
Para além de algumas diferenças notadas pelos etnógrafos entre os diversos grupos locais xavante por conta das referidas experiências distintas de contato, a língua comum, os padrões de organização social e instituições, as práticas cerimoniais e a cosmologia definem os Xavante como uma totalidade social.
Suas comunidades, contudo, são politicamente autônomas, ainda que às vezes se unam para atingir objetivos comuns.
Fonte: Instituto Socioambiental – ISA.