LULA TRAZ DE VOLTA “AS MULATAS”, QUADRO RESTAURADO APÓS VANDALISMO DO 8 DE JANEIRO

LULA TRAZ DE VOLTA “AS MULATAS”, QUADRO RESTAURADO APÓS VANDALISMO DO 8 DE JANEIRO

LULA TRAZ DE VOLTA “AS MULATAS”, QUADRO RESTAURADO APÓS VANDALISMO DO 8 DE JANEIRO

Na manhã do dia 8 de janeiro de 2024, o presidente Lula reinaugurou, no Palácio do Planalto, o quadro As Mulatas, do artista modernista brasileiro Di Cavalcanti. 

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Foto: Ricardo Stuckert

A obra, considerada um símbolo da arte nacional, foi restaurada após ser perfurada em sete pontos durante os atos golpistas que abalaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, no início de 2023.

A volta de As Mulatas e de mais 40 obras restauradas marcou os dois anos dos ataques promovidos por apoiadores do ex-presidente golpista e inominável que invadiram e depredaram patrimônios históricos e culturais. Durante os ataques, o painel As Mulatas foi um dos alvos mais simbólicos da violência contra a democracia brasileira.

A pintura foi encontrada com perfurações de tamanhos variados, o que comprometeu sua integridade. Coordenada pela professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Andréa Bachettini, a restauração envolveu técnicas minuciosas para recuperar a face frontal da obra, tornando os danos imperceptíveis ao observador casual.

“Porém, pelo verso, ainda é possível ver as cicatrizes, as marcas dos rasgos. A gente não podia esconder isso”, explicou Bachettini, destacando que a restauração também é uma forma de preservar a história.

O quadro foi recolocado no mesmo local onde estava há dois anos, no hall do terceiro andar do Planalto, próximo ao gabinete presidencial. Essa reinstalação simboliza a resistência e a recuperação de um objeto e uma narrativa que reafirma a importância da arte e da democracia no Brasil.

OBRA NOTÁVEL 

As Mulatas, criada em 1962, é uma das obras mais notáveis de Di Cavalcanti, avaliada em cerca de R$ 8 milhões. Em leilões internacionais, peças desse nível podem atingir valores até cinco vezes superiores.

O pintor, cujo nome completo é Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, foi uma figura central na Semana de Arte Moderna de 1922, sendo conhecido por retratar a identidade brasileira através de temáticas como o samba, as favelas e as festas populares.

A destruição parcial da obra foi amplamente condenada por especialistas e pela opinião pública, que viram no ato um ataque não apenas ao patrimônio cultural, mas à própria essência do Brasil plural e criativo que Di Cavalcanti eternizou em suas telas.

OS ATOS GOLPISTAS

A invasão ao Palácio do Planalto em 8 de janeiro de 2023 foi marcada por atos de vandalismo direcionados não apenas às estruturas físicas, mas também a itens de alto valor histórico e cultural.

A destruição de As Mulatas exemplificou o impacto devastador desse episódio para a herança cultural brasileira.

Os atos foram amplamente criticados pela comunidade internacional, e a resposta do governo Lula tem se pautado na restauração do que foi perdido, reafirmando o compromisso com a preservação da história e da democracia. O descerramento do quadro restaurado, dois anos após os ataques, simboliza um novo capítulo para o país.

A escolha de Lula em reapresentar o quadro nesta data reforça o papel da cultura como elemento central na reconstrução do Brasil. Di Cavalcanti, um dos maiores expoentes do modernismo brasileiro, dedicou sua obra à representação de temas sociais e culturais que traduzem a diversidade e riqueza do Brasil.

“O 8 DE JANEIRO NÃO FOI UM PASSEIO NA PRAÇA”

A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), classificou o 8 de janeiro como “a última etapa da tentativa de impedir a posse do presidente Lula e mudar o regime democrático brasileiro”.

“O 8 de janeiro não foi um passeio na praça, nem só uma depredação de gente que resolveu vir para cá. Era um ato pensado para criar uma situação e isso gerar uma intervenção mais organizada por parte dos militares e, graças a Deus, isso não aconteceu”, definiu Gleisi.

 “Porque agora, com as investigações, nós estamos vendo o que o Braga Netto estava fazendo, o que o Mauro Cid estava fazendo, o que os ‘kids pretos’ estavam fazendo, a tentativa de assassinato do presidente Lula, do presidente Alckmin, do Alexandre de Moraes”, enumerou a presidenta do PT.

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Foto: Ricardo Stuckert

Logo depois da entrega do patrimônio recuperado, o Palácio do Planalto ficou lotado por autoridades dos Três Poderes da República e por defensores da democracia, que participaram de uma cerimônia de celebração da democracia e de repúdio aos atos golpistas. 

Em discurso bastante ovacionado, o presidente Lula deu o tom da revolta nacional contra o infame episódio: “Estamos aqui, para dizer em alto e bom som: ditadura nunca mais, democracia sempre”.

“Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023”, afirmou Lula. “Estamos aqui porque é preciso lembrar, para que ninguém esqueça, para que nunca mais aconteça”, prosseguiu.

SEM ANISTIA

Lula pediu punição aos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado e mencionou especificamente os suspeitos que almejavam assassiná-lo, juntamente com seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente defendeu, contudo, que eles tenham o direito ao contraditório e à ampla defesa.

“Sempre seremos implacáveis contra quaisquer tentativas de golpe. Os responsáveis pelo 8 de janeiro estão sendo investigados e punidos. Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes que cometeram, inclusive os que planejaram o assassinato do presidente, do vice-presidente da República e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Terão amplo direito de defesa e terão direito à presunção de inocência”, disse.

O presidente fez questão de agradecer a todos que compareceram à cerimônia no Palácio do Planalto, incluindo os comandantes das três Forças Armadas. Lula lembrou que o regime democrático “permitiu que um torneiro mecânico sem diploma universitário chegasse à Presidência da República, na primeira alternância concreta de poder nesse país”.

“Historicamente, sempre se pensou que trabalhador não prestava para nada a não ser para trabalhar. As pessoas não imaginavam que os trabalhadores pudessem organizar um partido e chegar à Presidência da República. E muito menos ser o único eleito três vezes para a Presidência da República”, afirmou o petista, antes de ser aplaudido.

A manhã terminou com uma Abraço à Democracia, na Praça dos 3 Poderes, com a participação da sociedade brasileira. 

Fonte: Agência PT e Resistência. Com edições de Zezé Weiss.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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