Março: Mês da Mulher, Mês da Esperança

Março: Mês da , Mês da Esperança

Por Bia de Lima

Vivemos, em Goiás, neste chuvoso mês das águas de março, tempos de renovada em defesa das conquistas de nossa Educação, hoje tão ameaçada, ante o ataque escancarado do governo federal e de seu aliado local, o governo de Goiás, contra os valores democráticos duramente conquistados pelo professorado goiano e por toda a cidadania brasileira.

O momento de alerta máximo que ora enfrentamos, ante a irresponsabilidade de um presidente da República que despudoradamente  flerta com a ruptura democrática e, por mensagens do seu próprio celular, convoca sua base eleitoral para a execução de golpes contra o Estado Democrático de Direito, não nos impedirá de celebrar nossas educadoras, precursoras das lutas que construíram a força da educação goiana.

Celebremos, pois, com profunda deferência e gratidão as mestras que vieram, expandiram horizontes e se foram antes de nós:

  • Almerinda Magalhães Arantes – uma das primeiras mulheres a obter o título eleitoral em Goiás, fundadora e primeira presidente da Associação das Professoras Primárias de Goiás (APPGO).
  • Amália Hermano Teixeira – escritora, botânica e professora, eternizada em nome de orquídea, “Cattleia Nobilior Amalie”, a quem a capital do estado homenageou dando ao Jardim Botânico de Goiânia.
  • Berenice Teixeira Artiaga – professora e funcionária pública, primeira mulher a ser eleita estadual no estado de Goiás, em 1951.
  • Izabel Cristina de Souza Ortiz – fundadora do SINTEGO, formadora de várias gerações no goiano.
  • das Dores Campos, Dona Mariazinha – memorialista e professora por mais de 70 anos em sua cidade, Catalão.
  • Pacífica Josefina de Castro, a Mestra Inhola – professora que, no começo do século 20, desenvolveu seu próprio método de ensino e fundou sua própria em sua cidade, Goiás.
  • Mestra Silvina Hermelinda Xavier de Brito – aquela que, também nos primórdios do século passado, foi professora de Cora Coralina.
  • Nelly Alves de Almeida – escritora e professora de filologia na Escola Complementar de Itaberaí, no Colégio Santo Agostinho de Goiânia e no Instituto de Educação de Goiás.
  • Maria Angélica da Costa Brandão, a musicista Nhanhá do Couto, fundadora da primeira orquestra da cidade de Goiás e da primeira orquestra feminina do .
  • Ofélia Sócrates, produtora da primeira obra sobre a história de Goiás para fins didáticos, para uso no curso primário, publicada no ano de 1934.
  • Olinda da Rocha Lobo – professora do Colégio Júlia Kubitschek, a primeira escola de Brasília (1959) e cofundadora da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes na capital federal;
  • Regina Lacerda, cofundadora da Escola Goiana de Belas Artes e a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Goiana de Letras.

Celebremos, também, com igual respeito e admiração, as mulheres educadoras que seguem conosco, que presidiram o SINTEGO e que, nas últimas quatro décadas, forjaram essa bonita história de lutas de que tanto nos orgulhamos: Sandra Rodrigues Cabral, Diná da Silva, Neyde Aparecida da Silva e Iêda Leal de Souza.

Ao celebrar nossas educadoras pioneiras, estendemos nossa carinhosa saudação a cada professora e a cada mulher goiana, conhecida ou anônima, por sua importância na família, na educação, no , na comunidade e na sociedade. E, embora nenhuma de nós queira ser lembrada apenas por uma data, que façamos deste março das águas, mês internacional da mulher, um momento para compartilhar esperanças nesse outro mundo melhor que, por nossa luta e resistência, acreditamos ser ainda possível.

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Bia de Lima – Presidenta do SINTEGO. Presidenta da CUT – Goiás. 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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