Maria Amália Souza recebe prêmio internacional

Amália Souza recebe prêmio internacional

Criadora do Fundo Casa Socioambiental,  Maria Amália Souza ganha reconhecimento internacional por seu trabalho em defesa da proteção global do

Por Zezé Weiss

A ambientalista brasileira Maria Amália Souza, criadora do Fundo Casa Socioambiental, é uma das “16 que Restauram a Terra 2023″, reconhecimento outorgado pelo Global Landscapes Forum (GLF) no dia 8 de março, Dia Internacional da .  Maria Amália é a única brasileira homenageada em 2023.

Para marcar o Dia Internacional da Mulher, instituído no ano de 1975 pelas Nações Unidas, desde 2020 o GLF homenageia, a cada ano, com o prêmio “16 Mulheres Restaurando a Terra”,  mulheres que estão na linha de frente da luta contra a crise climática e em defesa da biodiversidade ao redor do planeta.

O “Global Landscapes Forum” (GLF) é a maior plataforma global de uso integrado da terra, dedicada a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo do Clima de Paris. A plataforma é liderada pelo Centro de Investigação Florestal Internacional (CIFOR), em colaboração com o Programa da ONU para o Meio Ambiente (UNEP), o Banco Mundial e Membros da Carta (ONU).

MARIA AMÁLIA SOUZA

Natural da pequena cidade de Cunha, no interior do estado de São Paulo, Maria Amália Souza deixou o Brasil nos anos 1980, em meio à Ditadura Militar, para fazer faculdade nos Estados Unidos. Em sua volta pra casa, Maria Amália articulou a criação do primeiro fundo socioambiental da América do Sul, desenvolvido por sul-americanos para sul-americanos.

Graduada em Serviços e Desenvolvimento International com foco em Estudos Internacionais de Meio Ambiente pela World College West, na Califórnia, a ambientalista homenageada em 2023 dedicou sua carreira a entender como os recursos de grandes fundações filantrópicas poderiam chegar na ponta e fazer a diferença na conservação do planeta.

Em 2005, criou o Fundo Casa Socioambiental, que tem desenvolvido estratégias para fazer o dinheiro de grandes investidores chegar ao coração da floresta, ou seja, às organizações e comunidades que tradicionalmente vivem e conhecem os biomas e que são  fundamentais para a conservação da biodiversidade no planeta, incluindo a , o Cerrado, o Pantanal, entre outros. 

Em 2016, esteve entre os e as 7 finalistas globais para o Prêmio Olga Alexeeva para inovadores na filantropia do Sul Global. Foi Diretora de Membros da Associação para o Progresso das Comunicações, Diretora de Comunicações Internacionais da União das Nações Indígenas, e Coordenadora do Conselho Brasileiro da Global Greengrants Fund.

SOBRE FUNDO CASA SOCIOAMBIENTAL

O Fundo Casa Socioambiental é uma organização que busca promover a conservação e a ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais e a social por meio do apoio financeiro e fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade civil na América do Sul.

“Já são 38 anos trabalhando para que o recurso chegue de várias formas. Não tem como proteger a Amazônia ou qualquer importante bioma sem colocar dinheiro em escala nas mãos de seus protetores. Não são os grandes projetos que fazem a diferença, mas a de apoiar múltiplas abordagens complementares de milhares de comunidades dentro dos grandes biomas.

Muitas vezes o recurso não chega a quem mais precisa e efetivamente protege o planeta. Nosso desafio é apoiar o máximo de comunidades nessas situações de vulnerabilidade para que assumam o protagonismo e façam o que sempre fizeram: proteger a Amazônia e outros biomas,” explica Maria Amália.  

Para fazer milhões de dólares chegarem a pequenas comunidades e disseminar impacto, o Fundo Casa Socioambiental desenvolveu uma robusta e eficiente sistemática de gerenciamento financeiro, monitoramento e avaliação para os apoios diretos, além de contar com essa poderosa teia de redes de confiança e colaboração.

“São nossos olhos e ouvidos nos territórios, que junto com as ferramentas que desenvolvemos para fortalecer suas capacidades, garantem uma autonomia cada vez maior para esses grupos. Acreditamos que a transformação parte da escuta, e por isso ouvimos os verdadeiros protagonistas de cada causa que abraçamos: aqueles que têm suas vidas diretamente afetadas por qualquer alteração no território que ocupam”, diz Maria Amália Souza.

Maria Amalia Souza Square

SOBRE OS IMPACTOS DO FUNDO CASA

O trabalho de Maria Amália e do Fundo Casa Socioambiental apoia atualmente uma média de 500 projetos por ano. Ao longo de sua história já apoiou mais de 3 mil projetos em 10 países.

São R$ 62,5 milhões de reais chegando nas mãos de comunidades ribeirinhas, associações de pescadores em regiões afetadas por vazamentos de óleo, grupos de mulheres artesãs, associações de agroecologia, comunidades indígenas, quilombolas, sustentabilidade urbana, soberania alimentar, entre tantas outras formas complementares de aportar recursos para se obter resultados sistêmicos.

Fazemos chamadas de financiamento e há uma extensiva rede de confiança que espalha a notícia e apoia o processo para que os projetos dos grupos mais remotos e invisíveis cheguem até nós. Assim, chegamos na ponta, em quem realmente faz a diferença no cuidado das florestas e do planeta. Agregamos um valor enorme de conhecimento e experiência para estar nessas redes de confiança, que fazem com que o recurso chegue de forma segura,” explica.

SOBRE O NETWORKING DE MARIA AMÁLIA

Maria Amália é membro-fundadora da Rede Comuá (Filantropia para a Justiça Social), membro do Steering Committee do Human Rights Funders Network, parte do Conselho Diretor da AIDA – Associação Interamericana de Defesa Ambiental, e lidera a participação do Fundo Casa Socioambiental em várias coalizões internacionais de fundos/fundações filantrópicas. 

Amália, como é chamada, trabalhou com ONGs internacionais, prestou consultorias para empresas em suas avaliações de investimento social, e se engajou em parcerias com redes globais. Atua no Conselho Consultivo da The Ocean Foundation, é Presidente do Conselho do NUPEF, faz parte do Comitê Coordenador da Human Rights Funders Network e do Conselho Diretor da AIDA-Associação Interamericana de Defesa Ambiental.

Esse trabalho já influenciou a criação e fortalecimento de outros 8 fundos ao redor do mundo, que apoiam a conservação com justiça social de alguns dos mais importantes biomas do planeta. A Alianza Socioambiental Fondos del Sur, idealizada por ela, e composta por 9 fundos socioambientais na , África e Ásia tem chamado a atenção de grandes fundações filantrópicas globais, fazendo com que milhões de dólares circulem e cheguem nas comunidades para ações efetivas. 

Falta dinheiro na mão dos povos das florestas“, afirma a especialista, juntamente com o dado de que 80% das florestas que ainda estão de pé no planeta se localizam em territórios de , como reservas indígenas e de comunidades tradicionais. Segundo Maria Amália, é nesses locais – e nessas mãos – que o dinheiro precisa chegar. 

O trabalho de Maria Amália  tem atraído grandes corporações do Vale do Silício e as principais fundações filantrópicas como Oak Foundation, Mott Fund, Gordon and Betty Moore Foundation, Climate and Land Use Alliance  ou o Forests People and Climate Initiative, que já aprovaram  US$ 8 milhões para fortalecer a aliança global dos fundos socioambientais nos próximos anos.  

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OUTRAS BRASILEIRAS HOMENAGEADAS

Maria Amália se soma agora a um seleto grupo de brasileiras que já foram reconhecidas nas três edições anteriores do “16 Mulheres que Restauram a Terra”.

Em 2020, a empreendedora Fe Cortez, que trabalha com a recuperação de resíduos sólido, foi a brasileira reconhecida. Em 2021, o reconhecimento foi para Sonia Guajajara, atual ministra dos Povos Indígenas do Brasil.

Em 2022, foram reconhecidas a ambientalista Gisele Bündchen e a cientista Luciana Gatti, pesquisadora sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que estuda mudanças climáticas e emissões de gases de efeito estufa, serem nomeadas.

Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Editora da Revista Xapuri. Matéria composta com base em informações gentilmente enviadas por Flavia Perez:  (21) 99496-4521; (21) 3592-1532.fla.perez@gmail.com.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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