Marielle Franco: Quem matou.Quem mandou matar. E por quê
Marielle Franco tinha 38 anos quando sofreu uma emboscada fatal no bairro do Estácio, o centro do Rio de Janeiro, em 14/03/2018. Ela e seu motorista, Anderson Gomes, morreram na hora.
Por Iêda Leal
Pouco tempo antes do crime, a vereadora Marielle Franco, do PSOL do Rio de Janeiro, havia participado de uma roda de conversas na Casa das Pretas. O tema da palestra: Mulheres negras no poder.
Terminada a palestra, Marielle entrou no banco traseiro do carro dirigido por Anderson Gomes, acompanhada pela assessora Fernanda Chaves, com destino à sua casa, na Tijuca.
Sentados dentro de um Cobalt Prata clonado, os assassinos aguardaram na rua a saída dela da Casa das Pretas. Foi só o motorista Anderson Gomes colocar o carro da vereadora em movimento, para começar a perseguição. Quando Anderson parou em um sinal de trânsito na Rua Joaquim Palhares, o Cobalt prata emparelhou.
Quatro tiros
O assassino, Ronnie Lessa, abriu o vidro traseiro e disparou pelo menos 13 vezes. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça. Anderson recebeu outros três tiros pelas costas. Fernanda foi atingida por estilhaços e foi a única a escapar com vida do atentado.
Durante seis anos, o Brasil se perguntou quem matou Marielle Franco, quem mandou matar Marielle Franco e por quê mataram Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, naquela noite fatal de 14/03/2018.
Em 24/03/2024, a Polícia Federal prendeu os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, denunciados pelo assassino Ronnie Lessa como os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 14/03/2018.
Rivaldo
A família de Marielle expressou grande surpresa pela presença do delegado na lista de mandantes. De acordo com a PF, Rivaldo ajudou a planejar o crime e atrapalhou as investigações porque havia prometido impunidade aos mandantes.
“Rivaldo não somente visitou a família no dia do crime, como se colocou à disposição para agilizar o processo de identificação e condenação dos assassinos, dizia ter sido amigo de Marielle”, comentou Marcelo Freixo, à época correligionário político e um dos grandes amigos da vereadora.
Os três foram presos, enviados para Brasília e depois distribuídos em prisões federais distintas, em Brasília, Mato Grosso e Rondônia, mediante ordem expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, responsável pela investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), com a concordância da Procuradoria-Geral da República (PGR). A razão dos assassinatos teria sido a “intervenção” de Marielle nos negócios imobiliários da milícia no Rio de Janeiro.
Para o ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça, a prisão dos mandantes do assassinato de Marielle e Anderson, depois de seis anos, é uma” vitória do Estado brasileiro. Segundo o ministro, o caso está encerrado. Entretanto, para as famílias de Marielle e Anderson, para defensores/as dos direitos humanos, de segmentos expressivos da comunidade jurídica, e até mesmo da mídia corporativa, o caso de Marielle não se encerra com a prisão dos três mandantes.
Falta ainda muita coisa para esclarecer.
Em matéria publicada no jornal UOL em 25/03/2024, o colunista Tales Faria resumiu as perguntas ainda sem resposta sobre o caso Marielle Franco:
A motivação, explicada pelo ministro [Ricardo] Lewandowski, parece-me algo muito simples para um assassinato. Se for isso, temos que levantar outros casos. Certamente o [Chiquinho] Brazão teve desavenças com muitas outras pessoas na Câmara Federal.
E por que não matou? E por que nesse caso [da Marielle] matou?… (…) Outra coisa que não está bem explicada é: por que demorou cinco anos? Rivaldo [Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro] e Giniton [Lages, delegado] ficaram menos de um ano nos seus cargos.
Não foram apenas eles que atrapalharam as investigações. Houve mais gente para fazer com que elas demorassem cinco anos.… (…) Quando Raul Jungmann [ex-ministro da Justiça] e Raquel Dodge [ex-procuradora geral da República] saíram, a “investigação da investigação” não andou na Polícia Federal. Por que não andou durante esse tempo do governo Bolsonaro e só mudou quando Flávio Dino assumiu [o Ministério da Justiça]? (…)
Ieda Leal – Militante do Movimento Negro. Sindicalista. Conselheira da Revista Xapuri. Secretária de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
Matéria elaborada com base em texto de matéria do mesmo nome, extraída da Revista Extratos – 60 Anos do Golpe Militar de 1964, Edição Especial, publicada pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, em abril de 2024. Foto de capa: Divulgação/ PSOL.